Sheridan, Denver.— Ela ainda está lá fora — perguntou Ammy, sussurrando, enquanto retirava a cabeça debaixo do cobertor.
— Sim — respondeu Emily sem balbuciar.
Ammy estava com os cabelos negros amarrados para trás, deixando as grandes bochechas rosadas a mostra, diferente de Emily que preferia deixar seus cabelos loiros a solta. Ambas de 11 anos.
— Então não vou sair — Ammy voltou a se cobrir. O quarto possuía quatro beliches e uma escrivaninha que ficava perto a uma janela.
— Ammy, o cobertor não vai impedir ela de entrar aqui e te matar — Emily saiu de perto da porta fechada e andou até a cama.
— Ela não pode me matar se não me encontrar — respondeu a menina, debaixo do cobertor.
— Então o seu plano é ficar ai a vida toda?
— Se for preciso, sim.
— Precisamos saber se as outras crianças estão escondidas.
— Não estão.
— Como pode saber?
— Sabendo, você também ouviu os gritos e viu a correria. Não deve ter mais ninguém aqui além de nós. Até mesmo nossas colegas de quarto fugiram desse orfanato idiota e nós não.
— Era perigoso, você não viu o que eu vi.ANTES...
Bill olhou em seu relógio de pulso, que marcava 7:22 da manhã. Ele andava pela calçada indo em direção ao orfanato. As ruas estavam desertas e tomadas por um silêncio confortável. Alguns estabelecimentos funcionavam normalmente, enquanto outros ainda estavam fechados.
Bill arrumou o boné, no mesmo momento em que desviava de uma poça dágua bem no meio da calçada. Era um dos funcionários de limpeza do orfanato e apesar de não se orgulhar muito da profissão, se contentava com o bom salario que pagavam, sem contar o fato de adorar crianças.
Ele subiu os cinco degraus que levavam até as portas do orfanato, que já estavam abertas, mas parou no ato ao ouvir alguém gritando. Se virou para trás e viu uma mulher correr pela rua com a roupas sujas de sangue. Atrás dela haviam dois homens, ambos deformados e urrando como animais.Um deles avistou Bill e veio em sua direção, o outro continuou a perseguir a mulher pela rua.
— Não vem não cara — disse Bill, deixando a mostra um semblante de nojo ao ver o rosto esfolado do homem que ia em sua direção — o que houve com sua cara? — perguntou, enquanto o sujeito subia o terceiro degrau — precisa de ajuda? Quer que eu chame um medico?O sujeito avançou em Bill e mordeu o seu ombro, o fazendo gritar e instintivamente empurrar brutalmente aquela criatura, que rolou pelas escadas. Bill levou a mão até o machucado mas sem tirar os olhos do infectado, que se levantava as pressas do chão.
— Meu Deus. O que houve? — perguntou Sandra, a diretora do orfanato, parando no corredor perto as portas e vendo todo aquele sangue no ombro de Bill.
— Aquele idiota ali me atacou — disse ele, virando-se e andando na direção da mulher.
— Cuidado! — ela gritou, apontando para trás de Bill, o alertando sobre o homem deformado que se aproximava novamente.Bill o deu um chute, fazendo a criatura rolar escada a baixo mais uma vez.
— Chame a policia — pediu Bill, puxando e fechando as portas do orfanato.
— Por que ele te atacou?
— Não sei. Não tive tempo de perguntar.
— Não precisa ser grosso.
— Desculpe, é que minha cabeça esta pegando fogo. Você viu aquele sujeito? Não tinha os lábios e estava bem deformado, havia outro com ele e os dois corriam atrás de uma mulher.
— Vou chamar a policia e uma ambulância.
— Obriga... — os olhos de Bill se tornaram brancos e seus lábios se desprenderam de seu rosto como uma peça de lego mal encaixada.
— Seus olhos — disse a diretora, dando passos para trás enquanto presenciava aquela cena nojenta e bizarra.
Bill a encarou, com ódio no rosto e pressionando os dentes, rosnando como um cachorro. Ele andou em direção a diretora que olhava atônita sem entender nada.Sandra deu as costas e se pôs a correr daquela criatura, que começou a persegui-la pelo corredor cheio de portas, todas de quartos das crianças. O orfanato era pequeno e não possuía tantos lugares para se esconder.
Sandra desceu alguns degraus que levavam até o refeitório e acabou tropeçando em um deles, se desequilibrando e batendo brutalmente a cabeça contra o piso duro.
Bill, que vinha logo atrás, saltou sobre os degraus e aterrissou perto a Sandra, que tentava se levantar.
Bill segurou os cabelos da diretora e os puxou, inclinando a cabeça da mulher para trás, em seguida usou seus dentes para arrancar boa parte da bochecha dela, que deu um grito agonizante. Este ecoou por todo o orfanato, acordando as crianças e assustando aos demais funcionários que estavam presentes, trabalhando em suas respectivas áreas.
A primeira a chegar no local foi Emily, e em seguida algumas colegas de quarto.— Meu Deus — disse uma das meninas, enquanto alguns meninos se aproximavam do local, para saber quem havia gritado.
Todos encararam o corpo de Sandra esticado no chão, uma enorme poça de sangue se formava embaixo de seu rosto machucado. Ela então se levantou lentamente, meio lerda, olhou em todas as direções até se focar nas crianças no fim da escada.
Deu um urro enquanto subia degrau por degrau, atrás de carne para saciar sua fome. Era a única infectada por ali já que Bill havia desaparecido.***
— E o que você viu? Além de todos fugindo? — perguntou Ammy, indignada.
— A Sandra, ela atacou varias crianças. Principalmente as que saíram correndo quando acordaram com o grito. Algumas fugiram e as outras eu tenho certeza que então escondidas em seus dormitórios. Eu tive sorte de conseguir chegar até aqui.
— Porque a Sandra atacou eles?
— Não sei, os olhos dela estavam brancos e a bochecha arrancada. Parecia um monstro carnívoro.— Não quero nem ver — Ammy continuou com a cabeça coberta, estava decidida que ali em baixo seria sua nova moradia.
— Eu vou sair.
— Sandra vai atacar você.
— Não se eu atacar ela antes. Não vou ficar escondida aqui para sempre, e cá entre nós. Eu estou morrendo de fome, não é aquela velha miserável que vai me impedir de comer alguma coisa.
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Olhos Cinzentos
Science FictionApós um terrível acidente aéreo, os moradores da cidade de Englewood se vêem diante de estranhos acontecimentos envolvendo pessoas deformadas sedentas por carne humana. Em meio a tudo isso está Patrick, um bombeiro que se dispôs a ajudar as vítimas...