Mantimentos, Água e Alguns Mortos

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Quando Daniel desceu as escadas, já se passava das seis horas e o sol começava a iluminar os prédios mais altos de Englewood.
Pitt estava de frente para uma das janelas, observando as criaturas carnívoras que perambulavam pela rua.
Patrick encontrava-se no sofá, segurando o pequeno radio que Daniel havia deixado com eles na noite passada. Mas não escutava nada alem de chiados e a voz na sua cabeça lhe pedindo para desistir, largar a esperança de que alguém iria tomar uma atitude diante daquilo tudo e que as coisas voltariam ao normal. Até poderiam voltar, mas não seria tão rápido.

— Acordaram cedo — disse Daniel.
— Na verdade nem dormimos — em seguida Pitt, afastando-se da janela.
— Acho que não teremos boas noites de sono daqui pra frente — disse Patrick, recordando-se do pesadelo que teve ao tentar dormir.
— Você tem razão — concordou Daniel — ver seres humanos devorando uns aos outros causa um grande impacto na gente. Bom, vou preparar algo para tomarmos café.
— Não precisa fazer isso — Patrick não queria abusar da hospitalidade.
— Preciso, não podem pegar a estrada com fome — Daniel estava convicto. Ele foi até a cozinha enquanto Pitt sorria para Patrick.
— O que foi? — ele perguntou, querendo saber o que era tão engraçado.

— Gosto dele, parece ser uma boa pessoa.
— O cara te salva de um helicóptero, te leva pra casa, te alimenta, te dá um lugar para dormir e você ainda diz que ele "parece ser uma boa pessoa"?
— Maneira de dizer, idiota. Tá na cara que ele é bom. E acredite é muito difícil eu gostar de alguém.
— Gosta de mim?
— Não curto homens casados.
— Eu não quis dizer desse jeito — Patrick ficou sem jeito.
— Eu sei — ela riu — e não, eu não gosto de você.
— Por que? Pode se dizer que eu também salvei você.
— Quando?
— Quando fiquei segurando a porta para que aquelas coisas não passassem, lá no terraço.
— Não vem não. Falando nisso, você viu aquele morto que tentou pular no helicóptero junto com você?
— Morto?
— Sim, o infectado. Para mim estão mortos, sei lá, os olhos brancos e a maneira como andam. Podem ser o que for, mas vivos eles não estão não.
— Algum deles pulou comigo?
— Sim, mas acabou se espatifando no chão.

Passado alguns minutos, Daniel retornou a sala trazendo uma bandeja com xícaras de café e alguns biscoitos caseiros feitos por ele mesmo.
— Aqui está — disse, servindo.
— Obrigado — Patrick foi o único a agradecer, Pitt estava ocupada de mais tentando encher a mão com os biscoitos.
— Ela adorava esses biscoitos — Daniel falou, com o olhar meio distante — sempre vinha me visitar e me obrigava a faze-los para ela. Então esses demônios a tiraram de mim.
— Mesmo depois de perder alguém que amava, você continua ajudando as pessoas, isso é algo muito raro meu bom homem — disse Patrick tentando abafar a dor de Daniel.
— Eu vou ir no mercadinho comprar algumas coisas, se encontrar alguem para pagar é claro — Daniel sorriu, tentando esquecer sua perda e dizimar o clima pesado que ele mesmo havia trazido para o ambiente.

— Isso é serio? — perguntou Pitt — vai mesmo sair lá fora?
— Eu preciso — ele respondeu — o armário esta quase vazio. Vou pegar a caminhonete na garagem e irei até o mercado, não é muito longe daqui.
— Então vamos com você — afirmou Patrick e Pitt consentiu em pensamento.
— Não, vocês não precisam arriscar a vida fazendo isso por mim, já possuem suas próprias preocupações.
— Claro que precisamos, você nos salvou, nos alimentou e nos deixou dormir aqui — Pitt falou, não gostava de ideia de ser boa ou de ajudar as pessoas. Mas aquela ocasião era diferente, sentia que devia aquilo para aquele senhor.

— Isso mesmo — terminou Patrick.
— Não vou conseguir impedir vocês, vou? — perguntou Daniel, coçando os cabelos brancos.
— Não — respondeu Pitt. Cruzando os braços.
— Então, pegamos a caminhonete, seguimos para o mercado, pegamos os mantimentos, voltamos para cá e cada um segue o seu caminho. — planejou Patrick. Não queria perder tempo com outros assuntos que não fossem ir para casa, mas aquele senhor de idade não podia sair sozinho sem proteção.
— Prometo que será rápido — disse Daniel, não gostando muito de estar atrapalhando aquela gente a seguir seu caminho.

Minutos depois...

Patrick havia se armado com um facão dado por Daniel. Pitt segurava uma barra de ferro e ambos estavam parados atrás do homem, aguardando ele abrir a porta principal da casa.

Ele enfim a destrancou e puderam sair sorrateiramente para não chamar a atenção dos infectados da rua.
Daniel seguiu rápido para a direta, indo em direção ao portão da garagem. Patrick e Pitt davam cobertura, olhando atentamente para ambos os lados, vendo se alguma daquelas criaturas vinham em suas direções, mas estas estavam olhando e andando na direção oposta, entre outras que permaneciam paradas.
D

aniel pressionou um botão vermelho que ficava na parede perto a garagem e após fazer isso a grande porta metálica começou a subir, fazendo barulho suficiente para atrair a atenção dos moribundos deformados próximos a casa.

— Eles estão começando a se virar — alertou Patrick, enquanto Daniel adentrava na garagem.
— Minha nossa, como são feios — disse Pitt, encarando uma mulher quase careca que vinha em sua direção — você reparou, Patrick?
— O que?
— O cabelo, alguns deles tem pouco, acho que é coisa desse vírus.
— Olhos brancos, sem lábios e queda de cabelo.
— Isso, eu não sei você mas eu prefiro morrer queimada do que virar uma dessas coisas.
— Então fique bem longe da boca deles — Patrick ficou paralisado ao olhar para a rua da esquerda. A alguns metros avistou algo que fez seu coração bater mais forte e sua mente viajar em infinitas hipóteses em meio ao medo repentino.
Era uma infectada, aparentava cerca  de 26 anos, cabelos negros sujos de sangue seco, assim como suas roupas. Mas não eram esses detalhes que mexeram com a cabeça de Patrick e sim o fato da mulher estar grávida.

Olhos CinzentosOnde histórias criam vida. Descubra agora