O Reencontro

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Ela paralisou seu olhar em um pequeno guarda-chuva que estava pendurado na parede, próxima a um quadro velho. Não era o suficiente para matar alguém mas pelo menos daria para se proteger. Saiu para o corredor e ascendeu as luzes, deixando o curto caminho até a escada bem iluminado.
Passou pela porta do quarto de sua mãe mas decidiu não chama-la, afinal não sabia o que havia lá em baixo, poderia ser apenas um gato, ou algum objeto que acabou caindo devido ao vento.
Do topo da escada ela fitou boa parte da sala, tudo estava escuro e as silhuetas dos móveis mais pareciam monstros observando-a.

Desceu sem pressa, enquanto incentivava a sí mesma a não ter medo. Segurou firme o guarda-chuva e estava disposta a enfia-lo dentro do olho de qualquer um que a atacasse.
O interruptor ficava na parede no fim da escada, que parecia se distanciar mais e mais e cada degrau.
Quando chegou no fim do trajeto, Alexis bateu a mão no interruptor como se sua vida dependesse daquilo, e talvez estivesse certa. A escuridão a impedia de detectar qualquer inimigo e aquilo poderia ser fatal. Alexis gelou ao ver que as luzes não se ascenderam, voltou a bater no interruptor mas nada aconteceu.
Fitou todos os cantos novamente, seu coração disparou ao ouvir um barulho e este vinha da cozinha que ficava a direita, mas como tudo estava escuro ela não conseguiu ver nada.

— Que se foda — sussurrou, dando meia volta e começando a correr novamente para cima. Toda a coragem que estava cultivando desapareceu em um piscar de olhos.

***

Tem certeza disso? — perguntou sua mãe, vendo o semblante preocupado de Alexis.
— Tenho, uma dessas coisas está na cozinha.
— Não era o seu pai?
— Claro que não, ele não ficaria andando pela casa escura derrubando as coisas. Precisamos dar um jeito nisso.
— Bom, talvez tenhamos esquecido alguma janela aberta.
— Só pode ter sido isso, o que vamos fazer?

Cátia andou até a escrivaninha que ficava a esquerda da porta de seu quarto. Abriu uma das gavetas e retirou uma arma, surpreendendo Alexis.

— De onde veio essa arma? — perguntou, curiosa.
— Da loja de armas — Catia sorriu, checando o cartucho.
— Disso eu sei.
— Então não pergunte.
— Quero saber quando compraram e porque.

— Faz muito tempo e digamos que foi para proteção pessoal.
— Vai atirar naquela coisa?

Se for preciso. Agora fique aqui.
— Não, eu vou junto.
— É perigoso.
— Era perigoso da primeira vez e mesmo assim eu fui.
— Insistente — Catiu bufou, virando-se para a porta fechada — mas fique atrás de mim.
— Pelo menos sabe atirar?
— Claro, sou campeã nacional em um jogo de guerra online com mais de oitenta mil abates.

— Isso aqui é a vida real e não um desses jogos idiotas. Espera... Você joga? E ainda por cima online?
— Claro, achou que eu iria envelhecer fazendo crochê? Se liga, acorde para a era digital.
— Pelo jeito aprendeu a linguagem dos games também. Meu Deus, o mundo está mesmo no fim.
— Fique quieta e venha logo.
— Idosos jogando online, se fosse bingo eu até entenderia, ou um jogo de cuidar de gatos...
— Quieta, ande logo — Cátia abriu a porta, enquanto fingia não escutar a risadinha maléfica da filha.

Ambas cruzaram o corredor até chegar na escada.

— Esqueci de dizer que as luzes da sala não ascendem.
— E só agora me fala?
— Já disse que esqueci.
— Só não esquece o filho porque ele ainda não nasceu.
— Blá, blá, blá.

Começaram a descer lentamente, revelando todo o cenário da sala a cada novo passo. Cátia parou no último degrau e Alexis no penúltimo. Ficaram encarando o Hall que levava até a cozinha mas não conseguiam ver nada devido a falta de luz. A única alternativa era chegar até a cozinha e rezar para que as luzes de lá ascendessem.

— Fique aqui — ordenou Catia.
— Eu não iria nem que mandasse.

Catia começou andar em direção a cozinha mas sem tirar os olhos de cada canto da sala. Ela sabia que a ameaça podia vir de qualquer lado.
Quando estava se aproximando do Hall algo fez barulho na cozinha e a reação de Catia surpreendeu Alexis.
Ela deu meio volta e começou a correr em direção as escadas. Alexis sem entender nada fez o mesmo, voltando para o segundo andar da casa.

DOIS MINUTOS DEPOIS

— Grande campeã nacional — Alexis caçoou.
— Me erra, tudo estava escuro eu não podia arriscar — tentou se justificar enquanto fitava mais uma vez a porta fechada de seu quarto.
— E agora?
— Agora o que?
— O que vamos fazer?
— Esperar amanhecer, tudo vai estar bem iluminado e ai sim eu mato a coisa.
— Sim, mata — Alexis sorriu.
— Isso não tem a menor graça, estamos correndo perigo.

Ambas ouviram passos vindos do corredor e calaram-se na hora. Alexis se posicionou ao lado de sua mãe a ambas ficaram de frente para a porta fechada.
Catia ergueu a arma, meio tremula.
Um silêncio perturbador tomou conta de tudo e o único som que elas conseguiam ouvir era os do próprio coração batendo rápido.

A maçaneta começou a girar, o que deixou Catia apavorada e automaticamente ela fechou os olhos e disparou um único tiro, este atravessou a parte superior da porta, quase perto a parede.

— Oh desgraça quer me matar? — alguém perguntou do outro lado da porta, meio que gritando e elas rapidamente reconheceram aquela voz. Era Tom.

Olhos CinzentosOnde histórias criam vida. Descubra agora