Voltando Para Casa

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— Mais essa agora — Pitt reclamou, fuzilando Emily com o olhar — encurralados por uma pirralha e seu pai demente.
— Não sou uma pirralha qualquer — Emily deu um sorriso ameaçador — e ele não é o meu pai.
— Você induziu uma criança a participar do seu teatro ridículo? — perguntou Patrick, encarando Craig.
— Crianças são bem convincentes, a arma perfeita para ele novo mundo, meu caro.

Patrick percebeu algo diferente em Craig, não possuía o mesmo tom irônico na voz de quando se encontraram pela primeira vez. Ele estava jogando sujo novamente mas algo estava diferente.

— Quantas crianças tem ai dentro? — Patrick quis saber.
— Lá dentro tem apenas uma, o restante, bom, você já deve ter notado. — Craig apontou para os cadáveres.
— O que está fazendo aqui com essas duas crianças? — dessa vez quem perguntou foi Pitt.
— Nada que seja dá conta de vocês, mas já que estão curiosos eu posso apenas afirmar que estou ensinando a elas as regras do novo mundo.
— As suas regras, você quis dizer.
— Encare como quiser.
— Você atirou no nosso amigo, você matou ele — Patrick o acusou.
— Sem esse drama por favor, o velho estava usando colete.
— Como sabia disso? — Pitt ficou surpresa

— Por que eu vi no instante em que o encontrei. E também pelo fato de que eu sei reconhecer um militar a quilômetros de distância, todos eles tem o mesmo cheiro e o ar de soberania, não passam de vermes.
— Vão embora — pediu Emily em um tom frio.
— Emily, certo? Olha, você não sabe como esse cara é, ele roubou nossa comida e...
— Vocês estavam roubando antes — ela o interrompeu — o mercado não era de vocês, estavam saqueando então não vejo nenhum lado certo.
— Que seja, caralho — Pitt perdeu a paciência — se quer acreditar nesse filho da puta fodas é seu, apenas devolva nossas armas e vamos embora daqui.

— Não posso, elas são essências para o nosso plano — disse Emily.
— E que plano seria esse?
— Isso vocês não precisam saber — respondeu Craig, seco.
— Pretende sair por ai matando e roubando as pessoas que ainda restam na cidade? Aposto que é isso.
— Tenho idéias maiores que isso — Craig sorriu — alias, ela tem — ele apontou para Emily.
— Ela é só uma criança.
— Uma bem diferente das demais, acredite. Agora dêem meia volta e sigam suas vidas. Foi um prazer reencontrar vocês, amigos — Craig esbanjou um sorriso de orelha a orelha.
— Não vamos sem nossas armas — Pitt insistia em não aceitar aquela situação.
— E o que vai fazer? — perguntou Emily novamente em um tom ameaçador.

— Socar a cara de vocês dois até a carne se fundir com os ossos.
— Estará no chão antes de dar dois passos.
Patrick a todo tempo observava Craig, que havia guardado a arma na cintura segundos antes e a julgar pela maneira que Emily segurava as armas ele chegou a conclusão de que a menina não sabia atirar.
— Tudo bem, vamos embora. Mas Emily, posso te pedir um favor?
— E o que seria?
— Temos um cachorro no carro, você poderia ficar com ele aqui no orfanato?
— Não queremos — afirmou Craig.
— Talvez eu queira sim — Emily discordou — pegue ele, quero ver. Tenho certeza que Ammy vai gostar.
— Ok, volto já.

Patrick esquematizou um plano perfeito para contornar aquela situação, ele passou por Pitt e deu uma piscadela, sorrindo. Desceu a escada e andou rápido até o carro.

— Sua vez de ajudar — falou para It, abrindo a porta e pegando o cão.
Instantes depois voltou até a frente do orfanato. A situação continuava a mesma, para sua sorte. Craig estava ao lado de Emily e a menina era a única a empunhar armas.
— Aqui, é este — disse Patrick aproximando-se de Emily — ele era de um circo e sabe fazer muita coisas.
— Entregue a Craig — pediu a menina, ainda empunhando as armas.

Patrick fez o que ela pediu e isso imobilizou as mãos de Craig, que segurou o cachorro. Após entregar It, Patrick usou seu treinamento no corpo de bombeiros e arrancou com perspicaz as duas armas das mãos de Emily, a deixando sem reação. Ele girou as armas, uma em cada mão e as apontou para seus inimigos.

— Filho da puta — disse Craig, sem esboçar nenhuma reação.
— Pitt pegue a arma dele — ordenou Patrick — e também pegue o meu cachorro. Não acharam que eu daria o meu cão para pessoas sem caráter, ou acharam?
— Você não sabe o que esta dizendo — pronunciou Emily.
— Não culpo você, garotinha. Apenas se deixou levar pela conversa de um tirano. Tudo pode se resolver desde que você escolha o lado certo agora.
— E o lado certo seria você? Está na cara que não passa de um fraco — Craig provocou, enquanto Pitt pegava sua arma e o cachorro.
— Eu estou do lado certo — Emily estava convicta — estou do meu lado. O lado que faz o que tem que fazer para sobreviver até tudo isso acabar.
— E esse lado inclui roubar as armas das pessoas?

— Eu preciso delas.
— Você não sabe nem atirar, alias, não sabe nem segurar uma arma pelo que vi — Patrick olhou para o céu após algumas gotas caírem em sua cabeça, estava começando a chover.
— Craig vai me ensinar.
— Não vai mais, adeus seu otário — Pitt apontou a arma para a cabeça de Craig.
— Não mate ele — pediu Emily.
— Não seja tola, pirralha. Você não o conhece como nós — Pitt levou o dedo até o gatilho.
— E vocês me conhecem? — perguntou Craig.
— O suficiente para saber que você merece morrer.
— Melhor não fazer isso Pitt — Patrick a interrompeu.
— Está vendo, eu disse, é um fraco — Craig provocou, dando um de seus sorrisos irritantes.

Nesse instante todos foram interrompidos por um grito vindo de dentro do orfanato. Era a voz de Ammy e ao ouvir aquilo Emily não pensou duas vezes em dar as costas e começar a correr, adentrando no local.

Olhos CinzentosOnde histórias criam vida. Descubra agora