O Reencontro

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***

Se você não ficasse igual um idiota perambulando pela casa no escuro nada disso teria acontecido — reclamou Cátia, parada no corredor perto a sua filha.
— As luzes não acendiam e eu não queria acordar ninguém — ele tentou justificar-se.
— Onde estava? Por que desapareceu? — Alexis foi direto ao ponto.

— Algumas daquelas pessoas começaram a cercar o carro e a única maneira de manter você a salvo era as atraindo para outro lugar. E foi o que eu fiz, mas acabei ficando encurralado em um posto de gasolina.
— Não podia ter feito isso, já pensou se eles te matam?
— Antes eu do que você. Não importa quantos anos se passem, você ainda é a nossa princesinha e vamos te proteger custe o que custar.

As palavras de Tom deixaram Alexis sem reação.

— Que boné mais ridículo, onde está o outro? — Perguntou Cátia fitando o bone em formato de urso que seu marido usava.
— Eu perdi, mas gosto desse, me deixa mais jovem.
— Mais idiota, isso sim.
— Como se eu fosse dar ouvidos a uma velha.
— E você está jovem né?
— Na flor da idade, eu diria.

Alexis ficou escutando os pais discutirem um assunto de menor importância naquele momento. Mas ela não interferiu, estava feliz pelo fato de nenhum dos dois estar em perigo. Sua única preocupação agora era com Patrick e lá no fundo ela sabia que ele retornaria a salvo para ela e para o filho ainda não nascido do casal.

DOIS DIAS DEPOIS

Tom correu em direção a porta aberta de sua casa e Cátia estava a sua espera, aflita. Logo atrás de Tom vinha Derick, primo de Alexis e ambos tentavam fugir das criaturas sangrentas que tomavam conta da rua. Eles carregavam sacolas pesadas, o que dificultava ainda mais.

— Rápido — disse Cátia, segurando firme a porta, apenas esperando eles passaram para fecha-la e trancar. Tom foi o primeiro já que estava na frente e em seguida Derick.
Cátia bateu a porta com força e a fechou, não demorou muito para começarem a escutar os mortos batendo violentamente contra ela.

— Essa foi por pouco — Derick colocou suas sacolas no chão.
— Com isso teremos comida para o mês todo — Tom fez o mesmo.
Derick havia se juntado a eles no dia anterior, era magricela, alto, de nariz pontudo e o cabelo liso.
— Façam silêncio, quanto mais rápido essas coisas forem embora melhor — Pediu Cátia enquanto pegava uma das sacolas e levava para a cozinha.

Alexis estava em um dos quartos de hospedes que ficavam no andar de cima, deitada na cama apenas fitando o teto com seus pensamentos perdidos no nada. Não tinha mais esperanças de rever Patrick, não tinha mais esperanças de nada. Se passaram poucos dias e a cidade já se encontrava em um estado lastimável e apocalíptico.

Nenhuma providência foi tomada e nem parecia que seria. Seu filho iria crescer sem pai e sem nenhuma chance de ter uma infância normal. Mas no fundo ela sabia que algum dia algo assim iria abalar a humanidade, isso já estava predestinado, tanto a religião quanto a ciência afirmavam uma suposta extinção da humanidade e pelo que parecia a hora havia chegado.

Alexia ficou ali por um bom tempo e não tinha previsão nenhuma para se levantar.
Do lado de fora da casa os infectados desistiram de golpear a porta e começaram a si dispersar, tomando seus rumos próprios a procura de carne humana.

Uma dessas criaturas, um homem de aparência bruta e intimidadora, estava a alguns metros da casa de Tom, distanciando se aos poucos mas de repente parou de andar. Deu meia volta e encarou a porta por alguns segundos, em seguida começou a correr em direção a ela, urrando.

A besta carnivora que outrora havia sido um mecânico pai de família, agora apenas possuía um desejo: adentrar naquela residência e alimentar-se de todos que nela jaziam.
O infectado jogou todo o seu corpo contra a porta, fazendo um barulho estrondoso e causando uma enorme rachadura.

— Que porra foi essa? — Derick levantou-se rápido do sofá e ficou com os olhos vidrados da rachadura da porta principal.
Tom e Cátia vieram correndo da cozinha, ver o que havia acontecido.
— O que você fez? — perguntou Tom.
— Eu nada, eles racharam a porta — Derick apontou para a grande fenda.

Alexis apareceu no topo da escada, também havia se assustado com o barulho.
Do lado de fora da casa, os mortos que se dispersavam deram meia volta. O infectado, causador da rachadura, deu alguns passos para trás e novamente jogou seu corpo contra a porta, fazendo até a parede tremer.

E não parou por ai, as demais criaturas vendo aquilo começaram a correr e a fazer a mesma coisa. Antes que Alexis ou qualquer outro presente dentro da casa pudesse pensar em algum plano para parar aquilo a porta foi ao chão.

Olhos CinzentosOnde histórias criam vida. Descubra agora