Visitante Inesperado

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Alexis desligou o telefone após ter uma longa conversa com seu pai, voltou a se sentar no sofá da sala e ficou atenta a TV para ver se iria passar alguma outra noticia sobre o ocorrido. A todo momento se pegava olhando para a porta, na esperança de que seu marido a abrisse e voltasse para seus braços, estava com um pressentimento ruim e sua inquietação apenas aumentou ao ver que o apresentador trazia outra noticia.

"A polícia pede que todos os moradores próximos a tragedia, no centro de Englewood, fiquem dentro de suas casas e não saíam, nem deixem as portas abertas. O motivo desse pedido, se deve ao fato de que as vitimas envolvidas no acidente com a aeronave estão passando por um surto psicótico e atacando todos que vêem pela frente. Ainda não se sabe o que está levando essas pessoas a agirem dessa maneira e por isso é aconselhável evitar qualquer contato possível"

Ouvir aquilo deixou Alexis apavorada, ela se levantou rápido do sofá e andou em direção a pequena mesa de vidro que ficava no canto da parede, onde havia deixado seu celular próximo ao jarro de flores que tinha ganhado no mês anterior.
O pegou as pressas e digitou o numero de seu marido, mas ele não atendeu. Voltou a ligar e por mais uma vez ninguém atendeu, o que fez seus olhos lacrimejarem de medo e preocupação.
Ligou o WiFi de seu celular e entrou no WhatsApp, percorreu as conversar e abriu as de Patrick, mandou uma mensagem, sabendo que seria impossível ele responder já que ambos estavam sem dados moveis, mas não custava tentar.
Recebeu uma mensagem de Melanie, sua amiga de infância, a mesma que havia lhe presenteado com o vaso de flores sobre a mesinha no canto da parede. Na mensagem, sua amiga lhe perguntava se ela estava ciente sobre as bizarrices que estavam acontecendo em Englewood.

Alexis começou a digitar uma resposta, mas não estava com cabeça para se focar em todas aquelas letras do teclado, então ligou para Melanie.

— Alô — disse Melanie do outro lado da linha.
— Recebi sua mensagem.
— E então? Viu as bizarrices?
— Está falando do avião bater no prédio?
— Claro que não, isso acontece sempre. Estou falando do que houve depois disso.
— Os surtos psicóticos das vitimas?
— Isso, essas pessoas piraram de vez, onde já de viu, sair atacando todo mundo sem motivo.
— Você não está me ajudando dessa maneira, Mel.
— Por que diz isso?
— Patrick foi para lá.
— Você está brincando né?
— Não estou, sabe como ele é.
— Hoje não era a folga dele?
— Sim, mas ele queria ajudar as vítimas.
— Meu Deus, que homem, eu quero esse capitão América pra mim.

Alexis riu, apenas Melanie para arrancar um riso dela diante de uma situação tão complicada.

— Estou com medo de que algo aconteça com Patrick, liguei varias vezes mas ele não me atende.
— Deve estar ocupado ajudando as pessoas que ainda estão sãs.
— Espero que seja isso e rezo para que ele não tenha sido atacado por alguém que esteja tendo um desses surtos.
— Faz quanto tempo que ele saiu?
— Não sei bem, uma hora e meia talvez.
— Olha, acalme-se, estou indo para sua casa te fazer companha até o Patrick chegar. Tudo bem?
— Obrigada. Você é sempre uma amiga tão incrível. Tome cuidado, caso encontre com uma dessas pessoas.
— Relaxe, moramos em Lakewood e essas pessoas surtadas estão no centro de Englewood, e tenho certeza de que a policia já contornou essa situação e imobilizou esses doentes.

— Acho que não é certo chama-los assim.
— E por que não?
— Melanie, essas vitimas da tragédia se viram diante da morte. É normal que percam a sanidade por alguns minutos, já pensou se você está vendo TV e de repente um avião enorme destrói sua sala?
— Vendo por esse lado — Melanie riu — chego ai o mais rápido possível, tchau.
— Tchau.

Alexis voltou a ligar para Patrick, mas nada dele atender e o jeito foi se agarrar a esperança de que tudo já poderia estar sobre o controle da policia, como Melanie disse.
Ela largou o celular no sofá e se dirigiu até a cozinha, para tomar um pouco de agua e tentar se afastar de todos aqueles pensamentos ruins que cercavam sua mente.

***

Melanie passou perto a uma lanchonete e aquilo fez seu estômago roncar, a lembrando de que ainda não havia jantado.

Alexis pode esperar só mais um pouquinho.

Pensou, enquanto adentrava no estabelecimento, fitando as vitrines repletas de guloseimas. A casa de Alexis não ficava muito longe da sua, e por isso decidiu deixar sua moto em casa e ir andando, aproveitando para caminhar um pouco e se livrar do sedentarismo.
Pode ver, a alguns metros a frente, perto a uma maquina de refrigerantes, que havia um homem ajoelhado no chão, de costas para ela. Ele parecia mexer em alguma coisa, mas não dava para ver. Melanie notou que ele usava o uniforme da lanchonete, então chegou a conclusão de que ele com certeza estava limpando algo que havia caído no chão.

O que achou mais estranho é que ele era o único ser vivo naquele lugar.
— Oi - disse ela — é você que está atendendo os clientes? — deu mais alguns passos, olhando para todos os lados, tentando decidir qual daqueles salgados iria comprar.

O homem ao ouvir sua voz, levantou-se e ficou imóvel, com o corpo um pouco curvado para e direita. Melanie parou frente a uma das vitrines, olhando fixamente para uma grande empada.

— Acho que vou levar essa empada aqui, não... vou levar duas.

O homem identificando a direção de onde vinha a voz, se virou lentamente, enquanto dava grunhidos como um animal. Melanie o encarou.

— Pode pe... — mas parou de falar quando viu o estado em que o sujeito se encontrava. Sua blusa estava ensanguentada, segurava uma mão decepada e não possuía lábios, seus cabelos estavam escassos e boa parte da orelha direita se encontrava deformada — meu Deus, o que houve com você?

O homem abriu a boca demasiadamente, dando um urro animalesco que causou calafrios em Melanie. Ele começou a dar passos apressados em sua direção, cambaleando. Melanie observou que os olhos daquele homem estavam completamente brancos.

— Vou chamar uma ambulância para você — ela deu passos para trás, a medida em que o funcionário se aproximava — mas fique longe de mim, está me assustando.

Melanie deu as costas e começou a andar em direção a saída da lanchonete, mas foi interrompida pelo sujeito que agora estava bem próximo a ela. Ele segurou seus cabelos loiros com violencia, a puxando para trás. Melanie deu um grito e antes que pudesse pensar em uma maneira de se soltar, sentiu os dentes daquele homem cravarem na carne do seu pescoço, arrancando uma crosta de carne.
Melanie caiu de joelhos e levou a mão até o buraco ensangüentado, agonizando devido a dor. Nunca havia passado por tal sofrimento. Mas tudo isso teve um fim, quando seus olhos rapidamente se tornaram brancos, como os do homem que havia lhe atacado segundos antes.
Ela se levantou e seu olhar estava perdido no nada, não demorou muito para seus lábios derreterem e seus longos cabelos loiros começarem a cair. Moribunda, ela deu passos lentos saindo da lanchonete, a procura de carne humana para saciar sua fome recém adquirida.

Olhos CinzentosOnde histórias criam vida. Descubra agora