— O que houve? É algo com o bebê? — Tom perguntou, parando o veículo próximo a um hidrante.
— Melanie — Alexis sussurrou, olhando a amiga perambular próxima a uma loja de sapatos. Mas ela não estava sozinha, haviam outras duas pessoas infectadas vagando pelo local.
— Melanie! — ela gritou, abrindo a janela do carro e atraindo a atenção das criaturas.
— Está louca? Feche isso agora — seu pai pediu.
— Não vou deixar minha amiga lá fora — Alexis ignorou o fato de Melanie estar com o rosto ensanguentado, não possuir lábios e ter os olhos brancos como leite.
— Aquilo não é mais a sua amiga, é uma aberração.Melanie começou a se aproximar do veículo, grunhindo junto aos demais infectados. Os olhos de Alexis encheram-se de lagrimas e uma tristeza descomunal tomou conta de seu corpo e mente.
Tom voltou a dar partida no veículo enquanto sua filha chorava, vendo em câmera lenta a imagem da amiga distanciar-se de seus olhos.
— Por que ela está assim? Por que não me reconheceu e o que houve com o rosto dessas pessoas? — ela perguntou, chorando.
— Não sei, elas atacam outras pessoas e essas também começam a atacar outras. Os lábios derretem e os cabelos começam a cair, é bizarro.
— Como sabe de tudo isso?
— Sou um bom analista, e também tem o fato de eu ter presenciado uma cena assim. Algumas dessas coisas tentaram atacar a nossa casa, eu e sua mãe ligamos várias vezes para a polícia mas não deu em nada. Vimos pessoas correndo pela rua pedindo socorro, outras colocando malas e mochilas em seus carros para irem embora da cidade. Tudo está um caos.— Patrick está lá fora com tudo isso acontecendo, não posso deixar ele.
— Ele vai ter que se virar, não vou deixar você ir a nenhum lugar nessas condições.
— Eu tenho que encontra-lo
— Não, você não tem. Eu gosto do seu marido mas isso não significa que vou deixar você correr algum risco para ir atrás dele. E não tem nada que uma mulher grávida prestes a dar a luz possa fazer numa situação como essa.
— Ainda faltam dois meses para o meu filho nascer, estou grávida e não morta.
— Se sair por ai dando uma de heroína eu garanto que estará nas duas condições. Você já deixou o recado para ele, agora é só esperar. E não se preocupe, o cara é bombeiro então vai saber contornar uma situação como essa — Tom tentou tranquilizar sua filha, mas aquilo não funcionou muito.— Eu espero que... — Um carro vindo em alta velocidade pela rua da direita atingiu o veículo de Tom, o fazendo capotar duas vezes e ficar de cabeça para baixo. O outro carro girou na pista e colidiu contra a parede de uma quadra esportiva.
***
Alexis abriu os olhos, estava de cabeça para baixo, segura apenas pelo cinto de segurança. Olhou em volta e Tom não estava dentro do veículo, o que aumentou o seu desespero.
— Pai — ela chamou, mas ninguém respondeu. Alexis apoiou a mão direita no teto do carro e levou a esquerda até a trava do cinto de segurança. Ficou alguns segundos tentando destravar mas não conseguiu.— Pai — chamou outra vez, tentando ver algum sinal de vida do lado de fora do carro. Enfim começou a ouvir passos próximos ao veículo e pela janela do passageiro ela avistou duas pernas aproximando-se. Mas não eram as de seu pai, Tom estava usando calças e aquela pessoa do lado de fora do automóvel usava uma bermuda, o que justificava as pernas a mostra.
Alexis ficou em silêncio, temia que fosse uma daquelas pessoas surtadas que atavam tudo o que viam pela frente. Seu medo se tornou maior quando aquela figura se ajoelhou, colando o rosto no vidro trincado da janela. Era um homem calvo de aproximadamente quarenta anos, sua boca estava rasgada fora a fora e suas orelhas corroídas, cheias de pequenas crateras ensangüentadas.
Ele urrou e começou a golpear o vidro enquanto Alexis gritava por socorro,
mas ninguém veio ajuda-la, a criatura assustadora conseguiu abrir uma pequena fenda no vidro e enfiou sua mão dento dela, a fazendo expandir.A carne do seu braço rasgava a cada centímetro que conseguia adentrar no veículo, a pele se dobrava do lado de fora do buraco como se fosse papel.
Alexis tentou destravar o cinto de segurança mais uma vez, mas foi em vão e a mão do infectado estava quase tocando seu ombro.Mas de repente a.criatura foi puxada para trás e Alexis começou a ouvir sons de luta corporal.
— E fique morto, desgraça — a voz de um homem ecoou até seus ouvidos e por algum motivo ela sorriu, talvez fosse pela maneira em que aquele sujeito havia falado, ou simplesmente pelo alivio de não ter sido atacada, pelo menos não fisicamente.— Socorro, aqui dentro.
— Estou indo amor, calma.O homem abriu uma das portas com dificuldade e se esgueirou carro a dentro, ficando bem próximo de Alexis mas ela não conseguiu ver seu rosto completamente. Ele usou uma faca para cortar o cinto e em seguida a ajudou a sair do veículo.
— Obrigada — agradeceu, enquanto ficava de pé, ainda estava zonza.
— Minha nossa, olha o tamanho dessa barriga, você engoliu algum dos bancos do carro ? — ele riu.
— Estou grávida, não é obvio? — ela o encarou, era um homem alto e seus cabelos castanhos estavam bem penteados para trás. Usava uma jaqueta de couro e uma calça jeans azulada.
— Eu salvei a sua vida, está me devendo uma, nunca se esqueça disso — ele deu as costas.— Espera, onde vai?
— Lugar nenhum, sou um homem sem rumo e se eu fosse você se esconderia, as pessoas estão mais retardadas que o normal.
— Você viu o meu pai? — ela perguntou, enquanto o homem se afastava.
— Eu lá sei quem é o seu pai — ele gargalhou, distanciando-se.
— Qual é o seu nome?Ele parou de andar e a fitou por cima dos ombros, sorrindo.
— É Craig, anote ai nessa sua barrigona o nome do seu herói — ele continuou andando até desaparecer na rua seguinte.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Olhos Cinzentos
Science FictionApós um terrível acidente aéreo, os moradores da cidade de Englewood se vêem diante de estranhos acontecimentos envolvendo pessoas deformadas sedentas por carne humana. Em meio a tudo isso está Patrick, um bombeiro que se dispôs a ajudar as vítimas...