Olhos Cinzentos

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Patrick corria junto aos outros por um dos corredores principais do hospital, as mulheres estavam mais adiantadas e a todo momento olhavam para trás, observando a situação perigosa em que se meteram. O grupo de criaturas carnívoras estavam no encalço deles, gemendo e urrando atrás de suas presas.
— Jezabel! — Gritou Patrick. A mulher respondeu, mas sem se virar para trás. Ele a pediu que os guiasse até as escadas.
— O que tem em mente? — Perguntou Dick, fitando uma das criaturas por cima do ombro.
— Concluir o plano, só que sem o elevador — respondeu, ofegante.
— Que ótimo, vamos ter que ir pelas escadas — reclamou Dick.
— Sim, a não ser que você queira voltar para o elevador.

Jezabel e Pitt desapareceram em uma curva que fizeram para a esquerda. Patrick e Dick continuaram a correr das criaturas, que pareciam ser incansáveis. Chegaram até o local onde as mulheres haviam feito a curva e depararam-se com um lance de escadas, sem perder tempo se puseram a subiu em disparada.
Há alguns metros viram Jezabel e Pitt, ambas seguindo para o segundo andar do hospital, onde chegariam a outro corredor e seguiriam em linha reta, pegando o próximo lance de escadas e prosseguindo com o plano.

***

Quando chegaram ao último andar do hospital, estavam exaustos, diferente das criaturas que continuavam a subir os degraus sem se cansar.
— E agora? — perguntou Patrick, aproximando-se de Jezabel, que estava encostada na parece tentando recuperar o folego.
A mulher apontou para o final do corredor, mostrando mais um lance de escadas, este levava até uma porta fechada.
— Então vamos. Eles estão vindo — disse Pitt, ouvindo o som grotesco emitido pelas criaturas que subiam pelas escadas.
Eles correram até o fim do corredor, esgotando as últimas forças que ainda lhes restavam.
— Já estão aqui — alertou Dick, olhando para trás e vendo o grupo de olhos cinzentos que corriam na esperança de alcançar seu banquete.

Começaram a subir as escadas e chegaram até a porta fechada, nesta havia uma placa informando que aquele local só podia ser acessado por pessoas autorizadas.
Patrick girou varias vezes a maçaneta, mas estava trancada.
— Porra! — gritou, frustado.
— O que foi? — perguntou Pitt, vindo logo atrás.
— Esta trancada — respondeu.
— Arromba isso cara, caralho! Eles estão vindo. Arromba como se fosse uma virgem! — gritou Dick, observando o grupo de mortos-vivos se aproximando.

Patrick começou a jogar seu corpo contra a porta e Pitt desceu alguns degraus, para não atrapalhar.
— Uma — disse Patrick, chutando a porta — porra — desceu um degrau, para pegar todo o impulso que precisava — de virgem — se jogou violentamente contra a porta e dessa vez o trinco não resistiu e cedeu, fazendo a porta se escancarar.
— Venham, rápido — Chamou Patrick, saindo no terraço.

Os demais fizeram o que ele disse mas quando Jezabel passava pela porta, uma das criaturas agarrou sua perna e ela acabou caindo.

Dick segurou sua mão direita.

— Socorro — pediu ela, sentindo as unhas do moribundo arranhar sua perna. As demais criaturas  amontoaram-se na escada, todos tentando alcançar a suposta vítima.
Patrick deu um chute na cara do homem desfigurado que segurava Jezabel, este a soltou e caiu sobre os demais infectados.
Puxaram Jezabel e Patrick fecharam a porta, mas como o trinco havia sido danificado, Patrick  teve que usar o corpo para escorar a porta e evitar que aquelas coisas passassem.
— Vão para o helicóptero, rápido! — gritou Patrick, sentindo os golpes que as criaturas davam contra a porta.
— Mas e você? — perguntou Jezabel, aflita e se recompondo do susto que acabara de levar.
— Não se preocupem comigo.

O helicóptero estava a alguns metros a frente, era de pequeno porte e usado sempre como último recurso para resgatar vítimas de acidentes graves.
Dick e o restando subiram os três degraus que levavam até a pista de pouso.

Pitt era a mais adiantada e alertou os demais quando viu o que havia dentro do helicóptero.
—  Tem alguém lá dentro.
— Porra — reclamou Dick, vendo que realmente havia uma daquelas coisas dentro do helicóptero, presa ao banco do piloto pelo cinto de segurança.
— Essas coisas são lerdas, ele nunca conseguiria sair daí — mencionou Jezabel.
— Rápido! Eles vão acabar entrando!— gritou Patrick, notando que a porta recebia cada vez mais golpes.
— Eu vou abrir a porta e matar essa coisa — Dick abriu a porta do helicóptero e instintivamente o piloto ergueu as duas maos, tentando o agarra. Mas logo parou quando teve o olho perfurado pelo cabo de vassoura que Dick segurava.

— Agora só precisamos retirar ele daí —Pitt falou o obvio.
— Não diga — respondeu Dick, adentrando no helicóptero e levando as mãos até o cinto que prendia o cadáver.
Do fundo do helicóptero veio outra criatura, um homem gordo de meia idade, ele avançou em Dick, fazendo ambos caírem sobre o painel de comandos.

Travaram uma luta ali, Dick não conseguia se livrar da criatura que pesava o dobro que ele. O homem gordo tentava a todo custo encostar seus dentes podres no rosto de Dick, mas ele desviava e empurrava a barriga do olho cinzento.

— Me ajudem, porra! — gritou para ambas as mulheres que assistiam a tudo, apavoradas.
Olhar para aquela coisa o dava anciã de vômito e tudo piorou quando ela começou a babar em seu rosto, rosnando e gemendo.
Pitt bateu com o cabo de vassoura na lateral da cabeça do infectado, o fazendo cair para o lado, sobre o outro morto-vivo.
Dick rapidamente se levantou e saiu as pressas do helicóptero.

— Me de isso — ele pegou o cabo de vassoura que Pitt segurava, já que havia deixado o seu cair dentro do helicóptero.
Quebrou o objeto ao meio, usando o joelho e quando o homem gordo veio em sua direção, ele cravou o cabo dentro do olho da criatura como havia feito com o piloto. A diferença é que dessa vez não precisou usar muita força, já que havia transformando o cabo em uma espécie de lança.

Minutos depois...

Dick estava pronto para levantar vôo, havia anos que não fazia aquilo mas ainda se lembrava perfeitamente de como pilotar uma aeronave.
Pitt e Jezabel estavam sentadas nos assentos traseiros, apreensivas.
Olhavam Patrick pela janela e viam o esforço que o homem fazia para impedir que as criaturas chegassem ao terraço e atrapalhasse a fuga.
A hélice começou a girar cada vez mais rápido e dali dava para ver boa parte de todos os prédios da redondeza, pelo menos os mais baixos.
Enfim levantaram vôo, Dick levou o helicóptero para fora do terraço, mas não fugiu, ficou com a aeronave perto a mureta de proteção, a virou de lado e abriu a porta que ficava a direta.

— Corre!— gritou para Patrick, que se surpreendeu ao ver a atitude daquele homem que mal o conhecia.
— Afasta!
— O que!?
— AFASTA!

Dick conseguiu entender com dificuldades, devido ao barulho ensurdecedor causado pelas hélices do helicóptero. Ele afastou a aeronave alguns metros, sem entender muito o porque daquele pedido.
Patrick deu um suspiro enquando fitava o céu e sem ter outra opção saiu de perto da porta. Começou a correr indo na direção da pista de pouso.
Os olhos cinzentos fizeram o mesmo, o seguindo, alguns esticavam os braços quase tocando as costas de Patrick. Estavam mais rápidos que antes, talvez ver sua refeição fugindo despertava neles um vigor mais violento.

Patrick continuou a correr, agora indo em direção ao helicóptero que pairava a alguns metros da mureta de proteção. Quando se aproximou, ele pulou encima da mureta e usou o impulso que adquiriu ao pousar o pé direito sobre ela para saltar em direção a porta aberta do helicóptero, caindo com a metade do corpo dentro da aeronave.
Suas pernas ficaram para fora, o que lhe causou certo pânico, apesar de ser um bombeiro não se dava muito bem com lugares altos.
Uma das criaturas fez o mesmo que Patrick e saltou rápido, quase agarrou os pés do bombeiro, se ele não tivesse os puxado segundos antes.

— Caralho você viu aquilo? — perguntou Pitt, não acreditava que aquelas criaturas lerdas fossem capazes de tal ato. Mas ela também notou que mais nenhuma outra tentou saltar e alcançar o helicóptero.
— Enfim salvos — disse Patrick, se levantando a fechando a porta do helicóptero, sentou-se ao lado de Dick enquanto dava um suspiro de alivio, relembrando o últimos minutos de adrenalina que havia vivido.
— Gente, tem alguma coisa errada comig.... — disse Jezabel, antes de seus olhos se tornarem brancos como a neve e sua consciência se perdesse no nada.

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