Mantimentos, Água e Alguns Mortos

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— Eu não vou pedir nada — retrucou Pitt.
— Tem certeza disso? — ele perguntou, destravando a arma e esfregando o dedo no gatilho.
— Desgraçado — falou Patrick, vendo o caráter imundo que aquele homem possuía.
— Não, não, não, Patrick. Valadinho ai que no momento eu estou resolvendo um assunto muito sério aqui com esses dois. Voltando ao que interessa, peça desculpas com jeitinho bebê. Diga bem devagar: me desculpe por ser atrevida senhor Craig, isso não vai se repetir.

Pitt ficou encurralada diante daquela situação, sabia que se não fizesse o que Craig estava pedindo certamente ele iria atirar em Daniel sem pensar duas vezes.

— Ok, não precisa atirar nele — ela falou, fitando o chão — me desculpe.
— Errado — ele deu um tiro no chão, bem perto ao pé de Daniel, assustando a todos — diga palavra por palavra.
— Você é doente! — exclamou Daniel, assustado.
— Sou apenas um bom samaritano dando a vocês a chance de viver. E vocês nem me agradecem, isso é muito feio.
— Me desculpe por ser atrevida senhor Craig, isso não vai se repetir — disse Pitt querendo matar a sí mesma por ter sido obrigada a falar aquilo.
— Isso — Craig começou a bater palma, rindo — não foi tão ruim assim, foi? Agora vamos parar de perder tempo aqui e vamos seguir a diante com o plano. Patrick, você vai para a saída dos fundos e faz o que eu mandei. Depois que aquelas coisas saírem de perto do estacionamento, os outros dois ai vão me ajudar a levar as sacolas até o carro e seguimos nossas vidas.

Dois minutos depois...

Patrick levou a mão até a maçaneta metálica da porta. Podia sentir os olhos de Craig pesando em suas costas.
Ele a abriu, revelando um corredor de tijolos que levava até a parte de trás do estabelecimento.
Aquela rota era usada pelos funcionários responsáveis pela reposição das mercadorias, antes de perderem seus empregos para aquele surto mundial.
Patrick começou a andar, indo em direção a rua e rezando para não encontrar nenhum olho cinzento por ali. Estava desarmado, exigiu levar seu facão mas Craig não concordou, o deixando a mercê das criaturas carnívoras.

Por ali tudo se mantinha normal, os mortos daquele quarteirão estavam todos concentrados na frente do mercado. Alguns perambulando sem rumo enquanto os outro acotovelavam-se na frente das portas de vidro travadas pela máquina de refrigerantes.
Patrick rodeou o estabelecimento e se escondeu atrás de uma parede após ver dezenas de criaturas grunhindo no estacionamento. Levou a cabeça com cautela e analisou a situação, planejando para onde levaria os infectados e esquematizando uma rota para voltar sem ser seguido.

Havia algumas criaturas próximas ao carro de Daniel, que por azar era o único veículo no local. Patrick ficou alguns segundos olhando toda a entrada do estabelecimento e quando se preparava para por seu plano em ação sentiu algo agarrar seu ombro. Era um morto-vivo que havia se aproximado sorrateiramente sem fazer nenhum barulho.
A criatura era um homem esguio sem camisa. Suas tripas saltavam para fora do enorme corte exposto em sua barriga. Patrick empurrou infectado que rosnou ao ser repreendido e avançou novamente, tentando abocanhar sua presa a todo custo.

Ambos entraram em luta corporal e aquela confusão chamou a atenção dos infectados que perambulava pelo estacionamento.
— Viu o que você fez desgraçado — falou Patrick irritado, tentando se esquivar da besta deformada a sua frente.

Mas sua luta pela sobrevivência teve um fim quando ele finalmente decidiu por o plano em prática. Se afastou daquela criatura e começou a dar passos apressados pela rua na qual ficava a frente do mercado, atraindo todos os outros mortos que ainda não tinham percebido sua presença.

—  Churrasco passando! — gritou, no mesmo momento em que começou a correr ao perceber que os olhos cinzentos estavam indo cada vez mais rápido em sua direção. Abandonando seus postos e deixando o estacionamento livre.

***

— Agora é a vez de vocês, amigos — disse Craig, aproximando se da máquina de refrigerantes e observando o ultimo morto-vivo distanciar-se do local — o que estão esperando? Não tenho o dia todo.

Daniel se apresentou para retirar a maquina da frente das portas enquanto Pitt pegava algumas das sacolas cheias de enlatados.  Craig pegou uma e esperou Daniel terminar o seu serviço para pegar últimas as que restaram.
Já fora do mercado Pitt olhou para os dois lados da rua, a procura de Patrick, mas nem sinal dele. Daniel fitou o carro parado a alguns metros, dando um suspiro ao perceber que nunca mais veria seu veículo.
Andaram até o carro, colocaram as sacolas no porta malas e a todo momento eram seguidos pela mira da arma de Craig que sorria a todo momento, estava se divertindo com toda aquela situação.

— Bom amigos, é triste dizer mas é aqui que a nossa jornada terá um fim. Foi muito bom conhecer vocês, serio, obrigado pelo veículo, eu estava mesmo precisando de um — ele adentrou no carro e o ligou.
— Espero que você morra — desejou Pitt.

— Vou sentir saudades de você também docinho. Bom, vou indo companheiro. Ah, só mais uma coisa antes que eu acabe esquecendo — Craig colocou a arma para fora da janela e deu um disparo único — olha só, esse tiro eu não errei, estou ficando bom nisso — ele riu, dando partida no veículo enquanto o corpo de Daniel despencava no chão.

Olhos CinzentosOnde histórias criam vida. Descubra agora