Olhos Cinzentos

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Patrick abriu os olhos após ficar inconsciente por mais uma vez, seu corpo todo doía e ele estava deitado sobre um carpete verde. Em sua testa havia um pano úmido.
— Oi — disse Pitt, ajoelhando-se no chão perto a Patrick ao perceber que ele havia despertado.
— Onde estamos? — ele se sentou, olhando em volta. Estava perto a um sofá marrom, por ali havia uma TV, uma janela coberta por papelão e alguns outros móveis.
— Em uma residência próxima ao hospital.

Patrick se recordava muito bem dos últimos acontecimentos antes de desmaiar. Estava no helicóptero quando Jezabel avançou sobre Dick, causando um alvoroço dentro da aeronave e provocando um pouso forçado.

— O eletricista, onde ele está?
— Ele virou um deles depois que foi mordido por Jezabel. Você desmaiou e um homem que presenciou o acidente me ajudou a tirar você das ferragens.
— O que houve com ela? Não havia sido mordida.
— Não sei bem.
— O que houve com seu braço?
— Não se preocupe, não fui atacada. Me cortei enquanto saia do helicóptero.
— Prontinho — disse um homem negro vindo de um corredor, aparentava ter cerca de uns 56 anos. Usava uma calça cinza e uma blusa de frio amarela. Trazia consigo uma tigela de sopa para Pitt.
— Obrigada — ela pegou e se sentou no sofá.
- Enfim acordou, pensei que iria entrar em coma — disse o senhor ao ver Patrick o encarando — vou lhe trazer um pouco de sopa e agua, deve estar precisando.

Ele deu as costas e voltou pelo corredor de onde havia surgido.

— Quem é ele?
— O nome dele é Daniel, mas e você? Qual seu nome?
— Isso importa? Não adiantou nada toda aquela correria, os outros dois morreram — Patrick sentia-se culpado.
— Não foi sua culpa, não tínhamos como saber que Jezabel iria virar uma daquelas coisas. Ainda não sabemos nada sobre esse surto que tomou a cidade, como realmente se espalha e todo o resto.
— Espero que esteja só nessa cidade.
— Por que diz isso?
—Eu moro em Lakewood, uma das cidades vizinhas, junto com minha esposa que está gravida.
— E o que estava fazendo aqui em Englewood?

— Eu vim tentar ajudar as pessoas envolvidas no acidente.
— Do avião?
— Sim. Quando ía sair do meu carro tudo ficou escuro e eu acordei naquele maldito hospital.
— Ficou escuro?
— Sim, acho que perdi a consciência por algum motivo.
— Estranho
— Mas e você, o que fazia naquele hospital?
— Estava no último dia da minha recuperação.
— Tem alguma doença?
— Não. Apenas tendências a suicida.

Daniel retornou a pequena sala trazendo outra tigela de porcelana com sopa e entregou a Patrick.

— Obrigado.
— Não precisa agradecer — o homem sentou-se ao lado de Pitt
— Daniel, certo?
— Sim, e você é?
— Patrick.
— Eu não quero parece um velho chato, mas poderia pedir uma coisa a vocês?
— Claro — respondeu Pitt.
— Se forem ter conversas longas, falem baixo, o acidente com o helicóptero de vocês atraiu centenas daquelas coisas para as proximidades e como esta anoitecendo...
— Anoitecendo? — interrompeu Patrick.
— Sim, são os quase sete horas — disse Pitt.
— Preciso ir — Ele tentou se levantar, mas uma dor insuportável tomou conta de suas pernas, o impedindo.
— Patrick, melhor descansar — sugeriu Pitt.
— Eu não posso descansar enquanto não chegar em minha casa e ver se minha mulher está bem. Eu vim até aqui para ajudar as pessoas e acabei me metendo nessa confusão toda, devia ter ficado em casa com ela.
— Veio ajudar? É policial ou algo assim? — perguntou Daniel.
— Bombeiro.

— Escute sua amiga, se é mesmo um bombeiro então sabe que se sair nessas condições pode acabar morrendo. Não sabemos se sofreu alguma lesão interna, melhor se recuperar e depois ir ajudar sua mulher.
Patrick odiava o fato daquele homem estar certo, mal conseguia ficar de pé. O jeito seria passar a noite ali e sair pela manha, iria precisar de um automóvel, mas isso não era problema já que haviam vários espalhados por todas as ruas próximas dali.
— Aquele cara — disse Patrick, se recordando das últimas ações de Dick — mesmo sendo atacado ele ainda tentou pousar o helicóptero.
— Depois que Jezabel enlouqueceu eu não prestei atenção em mais nada.
— Se ele não tivesse abaixado o Helicóptero, eu e você estaríamos mortos com os membros estilhaçadas.
— Batemos de frente com um poste — disse Pitt — você desmaiou e eu fiquei lá presa com Jezabel mastigando o braço do piloto. Foi ai que Daniel apareceu e me ajudou a sair, depois tiramos você as pressas. Jezabel parou de se alimentar e tentou te agarrar, acho que foi pelo fato de que aquele homem havia se transformado em uma criatura grotesca de olhos brancos como ela. Eles não comem uns aos outros.

— Tenho certeza que é uma doença — Daniel se pronunciou — quando você é mordido ou algo do tipo, acaba se transformando.
— Sim, vi algo parecido dentro do hospital.
— Mas e Jezabel? -— questionou Patrick.
— Os arranhões, pode ter sido eles, talvez isso também seja transmitido por arranhões.
— Aquela hora, quando ela caiu...— Patrick se lembrou claramente da cena.
— Sim.
— Minha filha... Ela foi atacada por uma dessas coisas — Disse Daniel em voz baixa, fitando o chão. Ainda sentia muita dor devido a perda recente.
— Sinto muito — Pitt tentou consola-lo — e agradeço mais uma vez por nos salvar.
— Não foi nada, fiz o que qualquer um faria.
— Não — falou Patrick — não é qualquer um que faria isso diante dessa situação.

Havia dezenas de olhos cinzentos perambulando pela rua da casa de Daniel, todos sem rumo, apenas andando de um lado para o outro a espera de uma vitima para poder saciar sua fome.
O helicóptero estava completamente inutilizável, perto a uma encruzilhada, com a frente destruída pelo poste em que se chocou. Por sorte não pegou fogo
Uma boa quantidade do combustível vazou para o asfalto, formando uma poça embaixo da aeronave.

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