Mantimentos, Água e Alguns Mortos

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Patrick abriu a porta do carro com força, empurrando um dos mortos que batia contra a janela. O infeliz despencou no chão e quando esboçava uma tentativa de levantar-se teve metade da cabeça decepada pelo facão de Patrick.
Daniel e Pitt também saíram do veículo, começaram a distribuir golpes contra todos os infectados que tentavam inutilmente se aproximar deles. Mas não importava quantas pancadas eles dessem, os desgraçados continuavam a se levantar e a avançar em suas direções como se não estivessem sentindo nada.

- Vamos logo - chamou Patrick, começando a se afastar do carro olhando para a entrada do estabelecimento a alguns metros a frente.
- Essas coisas não desistem - Pitt reclamou após ver que um dos infectados que ela havia golpeado se levantava do chão grunhindo.
- Tente acertar sempre na cabeça - sujeriu Daniel, ofegante. A idade não era sua aliada diante daquela situação.

Os três cruzaram a entrada do mercado e Patrick se certificou de fechar as portas.
- Mais portas de vidro, esse povo não aprende nunca - reclamou, lembrando-se que as portas do hospital eram feitas do mesmo material.
- Onde esta a fechadura dessas portas? - perguntou Pitt, no mesmo momento em que Patrick e Daniel se encostavam nas portas na tentativa de conter a força dos infectados que amontoavam-se na entrada.
- Não tem fechadura - disse Daniel - essas são apenas as portas secundarias. As principais são de ferro e ficam no topo da entrada.
- Então temos que ir lá puxar elas.
- Pode ir - disse Patrick - mas os nossos amiguinhos aqui estão bem debaixo delas. E pelo visto vão entrar logo.
Pitt olhou em volta, a procura de algo que pudesse usar para ajudar naquilo tudo, Patrick e Daniel não conseguiriam segurar as portas por muito tempo.
A alguns metros a sua direita havia uma maquina de refrigerantes, aquilo teria que servir. Ela andou até a maquina e a derrubou no chão causando um barulho estrondoso. Em seguida começou a empurra-la até as portas.

- Preciso que saiam da frente.
Patrick e Daniel saíram devagar, a medida em que Pitt empurrava a maquina, até travar completamente as portas.
- Será que essas portas não vão quebrar? - perguntou Patrick.
- Não mesmo, o vidro é blindado - explicou Daniel.
- E como sabe disso?
- Acredite, eu apenas sei.

O estabelecimento estava com todas as luzes acesas, mesmo estando de dia. Os caixas encontravam-se vazios e o lugar parecia deserto.
O mercado não era muito grande, possuía seis corredores com diferentes produtos, um pequeno açougue a esquerda e uma sorveteria a direita.

- Não tem ninguém, ótimo. Assim não precisamos pagar nada - comemorou Pitt.
- Isso não seria roubo?
- Relaxa Daniel, o mundo está a um passo da total destruição. Não acredito que exista alguma lei agora - ela sorriu olhando para as barras de chocolate que ficavam dentro de uma caixa sobre o balcão de atendimento.
- Peguem algumas sacolas - pediu Patrick.
- Pegamos o necessário e depois vamos embora - disse Daniel, tentando manter a ética.
- Necessário? Por que não levamos tudo? - Pitt quis saber.
- Deve haver outras pessoas como nós a procura de comida, se levarmos tudo o que elas vão comer?
- Eu concordo com ele, Pitt. Não podemos pensar só em nós.
- Olha só galera, eu querer ajudar o Daniel é uma coisa, ele me salvou. Mas pensar em ajudar as outras pessoas, não mesmo. Quero mais é que elas se fodam - ela deu as costas.

Em poucos minutos todos estavam andando entre os corredores do mercado, enchendo suas sacolas com os mantimentos que iriam precisar. O plano inicial era apenas ajudar Daniel, mas diante de tudo aquilo Patrick e Pitt decidiram que também levariam alguns mantimentos. Não sabiam quando tudo aquilo iria acabar então era melhor se prevenir.

Patrick andava de um lado para o outro, observando as variedades de fraldas para bebês. Estava procurando a marca mais cara para levar, ciente de que seu filho nasceria em dois meses e que precisaria ter tudo planejado.

Pitt estava perto da sorveteria, ela enchia sua sacola com os melhores biscoitos que via pela frente, doces, massas e todo tipo de coisa que tivesse um nivel elevado de açúcar.

Daniel estava sozinho, no último corredor da direita, perto ao pequeno açougue. Ele pegava alguns enlatados e comidas instantâneas quando algo tocou sua nuca. Era o cano de uma arma.

- Largue a sacola - disse o homem que segurava a arma, era alto, cabelos castanhos bem penteados para trás e aparentava ter aproximadamente uns 38 anos. Em seu rosto havia uma corte recente.
- Tudo bem, não atire - pediu Daniel, colocando lentamente a sacola no chão.
- Isso quem decide sou eu. Não você - o homem falou com frieza na voz, enquanto destravava a arma.

- Não atire - dessa vez quem pediu foi Patrick, chegando no corredor e se deparando com aquela cena.
- Mais um, quantos de vocês entraram aqui? - perguntou o sujeito armado, estava de calça jeans, blusa branca e uma jaqueta preta.
- Não queremos confusão, só viemos aqui pegar alguns mantimentos mas já estamos de saída.

- Você é surdo? Ou só está se fazendo de idiota? Eu perguntei quantos de vocês entraram aqui?
- Não queremos problemas - disse Daniel, trêmulo, ainda com o cano da arma em sua cabeça.

Pitt agora encontrava-se no corredor paralelo ao deles, ela escutava tudo o que estavam conversando, abaixada e andando sorrateiramente. Segurou firme a barra de ferro que levava consigo e virou para o próximo corredor, ficando bem atrás do homem armado.

Ela começou a andar em sua direção e Patrick a viu, mas disfarçou, entendendo a intenção da adolescente.
Quando estava apenas a alguns metros de distância do sujeito, ele retirou a arma da cabeça de Daniel e levou o braço na direção de Pitt, sem nem sequer a olhar ou virar para trás. Em seguida o som do tiro preencheu todo o lugar.

Olhos CinzentosOnde histórias criam vida. Descubra agora