Voltando Para acasa

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***

Emily vasculhava os armários da cozinha, estes estavam cheios de pacotes de biscoitos, doces e barras de chocolate. Coisa que nem ela e nenhuma outra criança experimentava antes de todo aquele caos invadir a cidade. No dia anterior ela tentou acionar a policia usando o telefone na sala da diretora mas foi em vão pois a linha estava completamente muda.

Na geladeira haviam algumas sacolas de salgados congelados, um bolo de chocolate, uma caixa de leite aberta e alguns outros alimentos como: frutas, queijo, pudim e umas barras amarronzadas que ela não fazia ideia do que fosse aquilo.

A comida ali iria durar um bom tempo, sem contar os fardos de arroz e feijão que haviam na pequena dispensa, o problema era que Emily não sabia cozinhar, o que fazia daqueles alimentos uma grande pilha de inutilidades. A única coisa que ela sabia fazer era assar os salgados no forno, havia aprendido a fazer isso no ano anterior.

Após pegar um pacote de biscoitos ela passou pelo balcão que separava a cozinha do refeitório, percorreu os olhos por toda a extensão da mesa, recordando-se dos demais amigos que antes se reunião ali três vezes em todo o dia.

Agora eles eram apenas criaturas famintas por carne que perambulavam na frente do orfanato.
Emily havia feito algo no dia anterior, algo que iria demorar para esquecer. Ela usou uma faca de serra para desmembrar os dois infectados que haviam a atacado.

Como eram pesados ela não conseguiria arrasta-los dali. O jeito foi arrancar membro por membro e colocar as diferentes partes em sacolas pretas. Em seguida joga-las na rua por uma das janelas do segundo andar. Ela não sentiu nojo, apenas um pequeno desconforto já que conhecia um dos infectados.

— Eu estava te procurando — disse Ammy descendo os três degraus e avistando sua amiga.
— Vim pegar isso para nós — Ela mostrou o pacote de biscoitos.
— Estou sem fome.
— Sobra mais pra mim então.
— Você come muito, desse jeito não vai sobrar nada.
— Vai sobrar você, eu posso muito bem mastigar a sua carne — ela falou em um tom ameaçador, vendo a amiga se encolher.

— Não fale essas coisas...
— Você é muito medrosa, sabia?
— Não sou não, mas isso me lembrou daquelas pessoas...
— Não são pessoas, são algum tipo de monstro.
— Quando eles vão embora?
— Não sei, vamos esperar a policia resolver tudo, tenho certeza que em pouco tempo as coisas vão voltar ao normal. Sabe o que isso significa?
— O que?

— A comida ruim vai voltar também, então vamos comer o máximo possível — Emily sorriu, passando por Ammy e subindo os degraus.
— Ela ainda esta lá? — Ammy perguntou, olhando para o corredor que levava até o armazém.

— Está, depois tenho que matar ela e jogar na rua, mas ainda não pensei em como detonar a vadia.
— Já pensou que ela é que pode te detonar? Pode acabar comendo você.

— Acho que não, essas coisas são lerdas e eu não tenho medo.
— Eu tenho, não quero que me mordam até a morte.
— Venha, vamos para as salas no segundo andar ver se dessa vez aparece alguém na rua.

No andar de cima do orfanato funcionava uma pequena escola para as crianças, haviam seis salas e dois banheiros. Uma quadra esportiva e um  pequeno jardim que foi plantado a cerca de seis meses, durante uma data comemorativa envolvendo a natureza.

Elas entraram na primeira sala e se sentaram nas cadeiras próximas as janelas, tendo assim uma ampla visão de algumas ruas, estabelecimentos, prédios e casas. Em alguns minutos se espantaram ao ver um carro que vinha na direção do orfanato, enfim alguém vivo para pedirem ajuda. Só não sabiam que essa ajuda era meio radical demais.

***

Craig dirigia sem rumo, havia passado por vários bairros e tudo o que viu foi carros abandonados, casas desertas e centenas de criaturas carnívoras andando de um lado para o outro. Em certa ocasião presenciou um pequeno grupo de infectados tentando invadir uma casa, certamente haviam detectado vida humano no interior da residência.

Craig enfiou a mão direita dentro de uma das sacolas, estava com fome, aquilo era familiar para ele, a diferença era que agora podia comer o que quisesse, invadir padarias, supermercados e qualquer outro estabelecimento que pudesse oferecer alimento. Agradecia profundamente por todo aquele caos que havia tomado conta do mundo.

Ficou a alguns minutos percorrendo as ruas de Sheridan, após sair de Englewood. A situação por ali não era muito diferente. Ele fazia questão de atropelar todos os infectados que via pela frente e fazia isso com um enorme sorriso no rosto.

Enquanto cruzava uma das ruas começou a ouvir gritos, olhou pela janela tentando localizar de onde eles vinham e era do segundo andar de um orfanato. Haviam duas meninas gritando a balançando as mãos para fora da janela.

— Que merda hein — reclamou, enquanto continuava a seguir com o veículo, pensando se devia parar ou continuar sua viajem rumo ao nada. Foi então que uma serie  de idéias percorreu a sua mente, o arrancando um sorriso de pura satisfação. Ele pisou no feio e olhou para as janelas novamente, de dentro do carro Craig balançou a mão para as meninas, sorrindo.

— Calma ai que o títio vai salvar vocês.

Olhos CinzentosOnde histórias criam vida. Descubra agora