Esse é o novo mundo

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***

Tom ouvia atentamente as palavras de sua filha quando um veículo vindo em disparada da rua a direita se chocou conta o seu, o fazendo capotar na pista e ficar de ponta a cabeça.  Ele ouviu um zumbido infernal e sua visão ficou embaçada, o mundo a sua volta parecia estar completamente em câmera lenta.

Tom olhou para sua filha e ela estava desacordada, tentou chama-la mas sua voz falhou, seu corpo ainda estava se recuperando do choque repentino e o jeito seria esperar mais um pouco antes de tentar qualquer coisa.
Do lado de fora do veículo um grupo de infectados aproximava-se do carro, foram atraídos pelo barulho estridente causado pela batida.

Por uma das janelas, Tom pode ver que varias pessoas vinham na direção do veículo e pela maneira que andavam só podia se tratar de um grande grupo daquelas pessoas surtadas que atacavam tudo e a todos.

— Alexis — chamou sua filha, enquando desprendia a trava do seu cinto de segurança. Após fazer isso ele tentou desprender o cinto de Alexis mas não conseguiu. Seu coração acelerou quando começou a ouvir os golpes dados no veículo pelas pessoas do lado de fora.

Tom olhou para todos os lados, a procura de algo que pudesse usar para cortar o cinto que prendia sua filha, mas o tempo não estava a seu favor e ele começou a sentir o automóvel balançar.

Todos os infectados estavam concentrados do lado direito do carro, batendo as mãos e empurrando o veículo tentando encontrar uma maneira de entrar. Sem ter outra escolha, Tom empurrou a porta esquerda com os pés e rastejou por ela. Fora do veículo ele usou a mesma tática para fechar a porta, sem que os infectados do outro lado o vissem.

Olhou a filha desacordada por mais uma vez e aquilo o deu coragem para continuar a fazer o que tinha em mente. Levantou-se e começou a rodear o veículo, as criaturas deformadas o avistaram e todas elas começaram a andar em sua direção, deixando  o veículo de lado.

Tom contou umas oito pessoas e ainda haviam outras que vinham do final da rua. Ele começou a correr na direção oposta do carro, atraindo os infectados, aquela seria a única maneira de manter Alexis a salvo, se ambos ficassem no veículo certamente morreriam de uma maneira muito dolorosa.

***

Alexis olhou novamente para todas as direções, não fazia a menor ideia de onde estaria o seu pai. O sol começava a dar as caras no horizonte mas boa parte da cidade ainda estava tomada pela escuridão da madrugada. Alexis abaixou-se atrás do carro após ver algumas criaturas surgirem no final da rua a direita. Não sabia o motivo que estava levando as pessoas a agirem daquela maneira e por isso preferia não chamar a atenção de nenhuma delas.
Começou a pensar em uma maneira de chegar até a casa de seus pais sem ser atacada e ao mesmo tempo se perguntava onde estaria Tom.
Ela ficou alguns minutos escondida, apenas  esperando o pequeno grupo de infectados passar pelo local para então seguir seu caminho.

Algum tempo depois a rua voltou a ficar deserta, o que era perturbador devido ao fato de que naquele horário varias pessoas deixavam suas casaa para seguirem para seus trabalhos diários. Mas dessa vez nenhuma alma viva apareceu, nem veiculou ou pedestre. O que fazia Alexis ter a certeza de que aqueles ataques eram mais sérios do que ela pensava.
Começou a distanciar-se do veículo e seu coração batia aceleradamente, cada ruido a sua volta era um motivo de preocupação. Olhava fixamente para cada rua e estabelecimento na esperança de encontrar seu pai. Passou perto a um açougue e este estava com as portas abertas, dentro do local haviam um pequeno grupo de pessoa ajoelhadas no chão, estavam comendo um amontoado de tripas.

Alexis voltou o corpo para trás, assutada com aquela cena. Ficou encostada na parede longe do campo de visão daquelas pessoas. Dali ela conseguia escutar o som da mastigação, eles comiam como animais, rosnando a cada nova dentada.

Ela sabia que a cada minuto parada ali o risco de alguma outra criatura a ver aumentava, as ruas não eram mais confiáveis. Alexis passou rápido pela frente do açougue sem que nenhum infectado a visse. Continuou a andar, dando passos largos e apressados, quanto antes chegasse na casa dos seus pais melhor.

Passou perto ao grande museu da cidade a ao virar a próxima rua da esquerda deu de frente com um homem gordo. Este apontou uma arma para ela.
— Não atire — pediu, levantando as mãos.
— Por Deus, você quase me matou do coração — o homem abaixou a arma, atrás dele havia uma mulher segurando um bebê.
— Digo o mesmo. Estou aliviada em ver alguém de verdade, até agora só o que vi foram pessoas deformadas que atacam tudo.
— Nós também — disse a mulher, era baixa e seus cabelos negros estavam bagunçados. Usava uma blusa branca e uma calça preta — algumas tentaram nos atacar e por isso meu marido está andando armado. Peço desculpas se te assustamos.

— Para onde estão indo?
— Para a delegacia, vamos nos abrigar lá até tudo isso se resolver — respondeu a mulher, balançando o bebê no colo, ele estava enrolado em um pano branco e dormia pesadamente.
— Não quer vir junto? — perguntou o homem.
— Estou indo para a casa dos meus pais, ela fica a algumas ruas daqui e nada melhor que a companhia da família nessas horas. Mas agradeço o convite.
— Tome cuidado com essas pessoas malucas pelo caminho.
— Vou tomar e digo o mesmo para vocês.

Alexis seguiu seu caminho e armou-se com uma garrafa de vidro quebrada que encontrou perto a uma lata de lixo. Agora faltava muito pouco para chegar onde queria e toda a sua preocupação se voltou para seu pai e Patrick, até parecia que as pessoas que ela amava haviam tirado o dia para a preocupar.

Olhos CinzentosOnde histórias criam vida. Descubra agora