Aquelas palavras causaram um pequeno período de silêncio, apesar de não gostar de Craig, Patrick sentiu pena ao ouvir aquilo.
— Fazer o que né, essas coisas acontecem — disse Emily com toda a tranqüilidade do mundo.
— Sim, acontecem — Craig concordou.
— Então? — perguntou Pitt.
— Então o que? — Patrick respondeu com outra pergunta.
— É só isso? Não vai dizer o resto? Como elas morreram e etc? — ela se direcionou a Craig.
— Pitt, apesar dele ser um verme que merece morrer, eu não acho apropriado tocar nesse tipo de assunto — falou Patrick.
— Eu não ligo se isso vai doer nele ou não, apenas quero saber o por que ele se tornou um imbecil.— Vejamos — começou Craig, sem se importar com as ofensas — vou resumir toda a minha vida feliz para vocês. Eu servi ao exercito por vários anos, conheci uma mulher e depois de algum tempo ela engravidou, mas infelizmente acabou morrendo no parto da criança. Era uma menina, Deisy, o motivo de eu ainda ter continuado de pé. Ao sete anos, durante uma excursão da igreja, Deisy foi atingida por uma bala perdida que atingiu seu olho esquerdo, a matando na mesma hora. Eu perdi tudo e a única maneira de amenizar a dor foi me afundando em drogas. Acabei indo parar na rua, vivendo do lixo das outras pessoas, experimentando o gosto da realidade, uma realidade onde tudo é merda. E foi ai que tudo mudou, quando as pessoas começaram a ficar loucas atacando uma as outras dias atrás. Eu gosto disso, gosto de ver elas se matando.
— Sinto pela sua filha — Disse Patrick.
— Isso não justifica você agir assim — dessa vez quem falou foi Pitt.
— Não ligo para o que você acha, eu gosto de ser assim. As pessoas merecem ser tratadas como lixo por que é isso que elas são.
— Com isso eu concordo, mas sair por ai atirando nas pessoas não irá mudar nada.
— Para mim vai, eu já estava morto antes de tudo isso acontecer, agora me divirto vendo as pessoas morrendo. Vou tratar todas como merda por que foi assim que elas me trataram quando eu estava nas ruas passando fome e frio. Esta escutando a chuva cair lá fora? Se o mundo estivesse normal era para mim estar deitado em uma calçada, levando chuva e passando fome. Agora eu pego o que eu quiser a onde eu quiser.— Não vou dizer que te entendo por que nunca passei por nada parecido — comentou Patrick — antes disso tudo eu era bombeiro, ou ainda sou, vai depender se a situação voltar ao normal. Vim parar aqui por que estava tentando ajudar as pessoas naquele maldito acidente com o avião.
— Então temos aqui um salvador, o mocinho da história que atira em caras como eu e saem vitoriosos, recebendo palmas.
— A parte do salvador eu concordo, mas atirar em você? Bom, só farei isso se você aprontar mais alguma.
— E você? — Craig encarou Pitt — qual sua história?
— Eu não tenho uma historia para contar, não para você.
— Vocês reclamam de mais — disse Emily — olhem só para mim e para a Ammy, nunca tivemos o amor de um pai ou uma mãe. Alias nem sabemos quem eles são, somos duas esquecidas nisso tudo.— No meu caso não muda muito — Pitt fitou Emily — eu tenho pais, mas eles nunca ligaram para mim, é quase como se eu fosse uma estranha. Sou tão esquecida quanto vocês duas, dias atrás eu estava em um hospital e nem sequer foram me visitar.
— Mudando um pouco o assunto, Emily, como conseguiu sobreviver aos ataques? — perguntou Patrick, referindo-se ao dia em que os infectados tomaram conta do planeta.
— Tive que enfrentar três daquelas coisas, as outras estavam do lado de fora do orfanato então não deram trabalho, é só não fazer barulho e trancar tudo.— E você Craig? — perguntou Pitt em um tom acusador — uma roupa bonitinha, cabelos penteados e pele mais limpa que a bunda de um recém nascido. Não me parece nada com alguém que morava na rua.
— Sou vaidoso — ele sorriu — e essa roupa não é minha, peguei na casa de um policial depois de ter que matar ele, o safado veio para cima de mim com os dentões a mostra então não tive outra escolha. Entrei na casa dele, tomei um banho, me arrumei e peguei suas armas.
— Vocês tem comida aqui? — Patrick olhou para as meninas.
— Sim, muita e se faltar podemos pegas nos estabelecimentos que ficam aqui na rua da frente — Emily respondeu.
— Você não vai embora, Craig? — Pitt fuzilou o homem com o olhar.
— Claro que não, vou ficar aqui nesse orfanato. A Emily manda no lugar e ela me deixou ficar, então estou super de boa — Craig cruzou os braços.— Precisamos dele — disse Emily — e de vocês caso decidam ficar aqui, pelo que vejo não são pessoas ruins...
— Mas ele é — Pitt interrompeu a menina.
— Não ao meu ver.
— Você é uma criança, pare de falar como se não fosse uma, ainda não entende nada sobre o verdadeiro caráter das pessoas. Devia estar brincando de alguma coisa e não...
— Cale a boca, eu sei o suficiente sobre as pessoas, sei que elas são capazes de abandonar uma criança recém nascida dentro de uma lixeira como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. Sei como é viver na esperança de um dia alguém te adotar e perceber que isso não aconteceria por que as pessoas lá fora estão ocupadas demais com suas famílias felizes sem nem ao menos se importarem com meninas órfãs como eu. Como se fossemos nada, então não venha me dizer que eu não sei sobre o caráter maldito das pessoas.Um longo silêncio tomou conta do refeitório enquanto todos olhavam fixos para a mesa.
— Que seja então, se você diz — Pitt quebrou o silêncio, ela conhecia bem a dor de ser abandonada pelos pais mesmo nunca ter vivido em um orfanato.
— Eu queria poder ficar aqui para vigiar você — Patrick olhou fixo para Craig — sorte a sua que eu não posso, não pense que só por que salvou a vida de Pitt as coisas entre nós ficaram boas por que não ficaram.
— Não preciso que nada fique bom entre mim e vocês, alias foda-se vocês dois. Eu estou aqui por vontade própria e vou ajudar essas meninas por que eu quero, minha ajuda é uma forma de pagar o aluguel.
— Você tinha uma arma, se queria ficar tanto aqui por que não as matou ou as expulsou? Afinal você é o tipo de cara que faz esse tipo de merda — Pitt o atacou com as palavras.— Você não sabe nada sobre mim e é bom escolher bem as palavras por que da próxima vez eu vou mirar na sua cabeça e não em uma barra de ferro.
— Ah que ótimo, primeiro diz que sabia sobre o colete de Daniel e agora insinua que mirou na barra de ferro e não em mim. Cretino desgraçado.
— Se eu quisesse matar você eu tinha matado, eu atirei na porra da barra porque eu quis.
— Você estava de costas desgraçado, não tinha como me ver e muito menos a barra.
— Eu vi você pela porra do reflexo da chapa de aço que estava atrás do seu amiguinho ali — ele apontou para Patrick — mas acreditar ou não é problema seu.— Mesmo se tivesse visto ela como saberia que o tiro iria atingir a barra de ferro? — perguntou Patrick.
— Qual parte do "eu servi o exercito" vocês não entenderam, eu ia me tornar a porra de um sargento, acredite, eu consigo acertar a porra de um cigarro caindo do vigésimo andar de um prédio a centenas de distancia de mim. Uma barra de ferro não é nada.
— Não tenho tempo para debater ou descobrir se você está mentindo — Patrick se levantou.
— O que vai fazer? — perguntou Pitt.
— Estou a poucas horas da minha casa, vou voltar para a minha esposa e para o meu filho.
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Olhos Cinzentos
Science FictionApós um terrível acidente aéreo, os moradores da cidade de Englewood se vêem diante de estranhos acontecimentos envolvendo pessoas deformadas sedentas por carne humana. Em meio a tudo isso está Patrick, um bombeiro que se dispôs a ajudar as vítimas...