57 Flashback

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Guero narrando:

- Você você dorme comigo hoje amor? estamos sozinhos O apartamento é nosso.

- Marrenta não me leve a mal, mas é muito esquisito para mim você me chamar de amor acho meio cafona tá ligado.

- E me chamar de amor pode? como quer que eu te chame? Pode ser de imbecil?

Alice estava fazendo isso para me provocar, ela sabe que detesto quando me chamam assim ,mas eu não ia brigar por causa disso, afinal eu esperava mais para noite.

As horas passaram tão rápido, minha marrenta e eu nos divertimos como nunca, fizemos planos, sonhamos juntos, tudo sem precisar sair daquele sofá.

Alice tinha o poder de me fazer acreditar na bondade do mundo, sua inocência em achar que a vida é um conto de fadas me fascinava o melhor ainda me fascina.

- Guero me ajuda a fazer o jantar? Já que almoçamos bobagem, quero comer comida de verdade agora.

- Não acredito que a burguesinha que teve tudo na mão sabe descolar um rango - ela revira os olhos pronta para brigar comigo, o mulher do gênio forte viu, mas eu sou mais rápido que sua língua afiada, distribuo varios beijos no seu rosto e pescoço, se tem uma coisa que eu saquei é que um beijo bem dado pode evitar muitos aborrecimentos - Então vamos levantar desse sofá que eu vou fazer uma comida que a madrinha me ensinou quando era pequeno.

- Nossa então quer dizer que o machista sabe cozinhar? - ela senta no sofá com uma carinha de deboche que me deixa louco.

Eu não entendo como fui me amarrar em uma mulher, o que eu sinto quando vejo Alice e muito diferente de tudo que já senti. Ela é delicada, bondosa, acredita na vida e mesmo depois de tudo que eu fiz ela passar, ainda me perdoou.

Que espécie de bolha essa mulher foi criada? Quando eu sofri a emboscada na favela e estava mal, de cama no quarto, vi Alice entrando pela porta disposta a me ajudar, mesmo de todo mal que eu havia feito para ela, eu soube ali que aquela era a mulher que eu queria ao meu lado o tipo de patroa que o morro precisa.

- Eu só sei uma receita que aprendi com a madrinha.

- Vai precisar de ajuda? Se não precisar eu vou tomar um banho.

- Pode ir lá marrenta, eu desenrolo tudo lá na cozinha - ela me dá um selinho e vai a passos lentos para o quarto dela, aquela barriga toda parecia está pesada.

- Vê se não coloca fogo na casa ela - grita de dentro do quarto.

Vou até a cozinha e seleciono alguns ingredientes para fazer minha comida favorita de quando era Criança, sopa de macarrão com massa de tomate.

Começo a mexer a panela fritando os ingredientes antes de colocar o macarrão e a água, e me lembro como se fosse hoje de quando aprendi a fazer.

Flashback on

"- Madrinha faz aquela sopa de novo? diz que sim madrinha.

- E quem disse que eu não estou fazendo? - ela me olha sorridente a beira do fogão.

- Ótimo madrinha, eu quero aprender, porque no dia que você não estiver aqui eu faço para mim e para o pai - me levantanto da mesa onde estava sentado e vou em sua direção.

- Filho primeiro você frita todos esses ingredientes - ela aponta para um prato onde tinha vários temperos picados - Em seguida você coloca a água para levantar fervura junto com a massa de tomate.

Eu tinha apenas 12 anos e desde que me entendo por gente a madrinha sempre cuidou de mim, mas as vezes ela ficava semanas fora para ficar com a filha dela, minha prima Luana.

- Rogher eu vou Lavar a louça e você meche o caldo com movimentos circulares até encorpar.

- tá bom madrinha!

Sem que eu e minha madrinha Dita percebêssemos meu pai se aproximou furioso e sem dizer uma única palavra, puxou com tudo a minha orelha para trás me fazendo cair no chão.

- você está louco Neno - minha madrinha se assusta deixando um prato cair no chão - não faz isso com menino.

- Não se mete Dita se não vai sobrar para você - ele me arrasta pelas orelhas me levanto com dificuldade por causa da dor,  já na sala me jogando no chão frio.

Minha orelha queimava e latejava, as lágrimas vieram e eu comecei a chorar, meu pai era muito agressivo, não demonstrava afeto algum por mim,  de alguma forma ele me culpava por minha mãe ter nós deixado, e tinha atitudes que me faziam lembrava todos os dias do quanto me achava fraco.

Para ele aquela cena, do sue filho homem cozinhando a beira do fogão, era inadimissível, aquilo era serviço de mulher ou de viado.

- Não chora que eu te quebro todinho, que porra e essa? Tu acha que e mulher seu frouxo? Eu dou duro nos corre pra tu ter os melhores estudos para tu virar o maior comando do tráfico, e tu vai pra beira do fogão bancar a mulherzinha? O que eu já te falei sobre mulher? Para que elas servem? Quero ouvir, repete - ele se aproxima do chão onde estou sentado e segura meu rosto com as duas mãos - engole a porra do choro e repete agora filho.

- Mulheres para arrumar a bagunça, são somente para satisfação, nenhuma presta, é usar e descartar - respondo entre soluços.

- Até que você não e tão frouxo quanto eu pensei, a única mulher que presta é sua madrinha, o resto pode tratar como merecem, como as vadias que são. E filho a partir de hoje você não fica com sua madrinha quando sair da escola, você vai comigo para o morro, já tá na hora de tu vira homem.

Flashback off

A vida com meu pai foi dura, mas meu velho me ajudou a me tornar o homem que sou hoje, forte e destemido. Talvez se ele conhecesse Alice, pensaria diferente.

- Oi amor, o cheiro está maravilhoso - Alice se aproxima me abraçando por trás enquanto mecho a panela no fogão - eu não sabia desse seu lado Masterchef.

- Não debocha marrenta, você não sabe o que eu passei para aprender esse prato, se considere privilegiada, porque desde que aprendi eu nunca mais fiz.

- , me conta então, agora fiquei curiosa.

- Esquece, apenas vamos comer.


Minha obsessão (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora