Capítulo Quatro

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Ela tremia. O corpo se movimentava para frente e para trás, as lágrimas caíam dos seus olhos, o medo estava preso em seu olhar. A mente de Sam tentava se lembrar sobre quem era aquela pessoa, mas não se recordava de nada além do pedaço de papel jogado na calçada. Samantha queria gritar, mas não desejava que seus pais acordassem e a vissem naquele estado. Eles ficariam tristes e irritados ao mesmo tempo. Tristes por a encontrarem naquele estado e assim tentariam tirar alguma informação dela, e irritados por que ela demoraria para contar a eles, e quando descobrissem o real motivo não iriam gostar nenhum pouco dela ter saído de casa naquele horário da noite.

Samantha sabia que aquilo era sua culpa, sabia que aquilo que ouviu no cemitério havia sido aquela pessoa. Qualquer que fosse esse alguém, ele a estava seguindo, e queria entender porquê não havia feito nada à ela e só deixou um curto bilhete. Aquilo era para amedrontá-la, e conseguiu. Sendo assim, Samantha não pregou os olhos durante toda noite, as persianas do quarto estavam bem fechadas e a porta da frente trancada, e ficou fitando durante toda a noite à porta, esperando que alguém aparecesse a qualquer momento, mas nada aconteceu.

Quando o sol já estava nascendo, os raios solares entraram pelas frestas das persianas. Samantha fechou os olhos fortemente e escutou o barulho de passos do outro lado do corredor, do quarto de seus pais. Ela se levantou e foi até o banheiro, ligou o chuveiro e deixou-o no quente. Depois retirou às roupas, ainda com as mãos trêmulas, e se enfiou embaixo do chuveiro, molhando os cabelos e se agachando dentro da banheira. Ela ficou assim por longos minutos, até sair e se enxugar. Sam saiu do banheiro e se enfiou em uma calça jeans e moletom, foi até o espelho e encarou o próprio reflexo. Ela estava acabada. O rosto pálido e os lábios secos, e tinha dois roxos a baixo dos olhos castanhos. O cabelo úmido e curto assentava-se jogado sobre os ombros, sendo deixados para secar naturalmente. Ela tentou esboçar um sorriso, mas este falhou, então, por fim colocou um par de meias macias e um tênis aleatório encontrado dentro do armário. Abriu a porta e desceu as escadas. Tinha a sensação de estar acabada, mas possuía um plano, algo que precisava por em prática. Quando entrou na cozinha, viu os pais conversando aos cochichos e, quando eles a viram, sua mãe esboçou um sorriso de desculpas e o pai a encarou por um instante.

— Acordou cedo, Sam — comentou ele, avaliando a aparência da filha.

— Minha barriga acordou antes do que eu — mentiu, por parte, afinal, sentia fome.

Samantha sentou-se a mesa, sua mãe colocou ovos mexidos, bacon e torradas para ela, que começou a comer acompanhado de um suco de laranja. Eles permaneceram em silêncio durante o resto do café da manhã, até que o sr. Miller se levantou e colocou o prato na pia como de costume.

— Bom, preciso ir — disse ele. Deu um beijo de despedida na esposa e depois em Sam.

Ele se retirou, e elas escutaram o barulho do subir e descer rápido das escadas e o fechar da porta, por último o som do carro partindo.

— Você quer que a leve ao cemitério? — perguntou Claire, baixinho.

Sam engoliu em seco.

— Não precisa — respondeu no mesmo tom.

— Mudou de ideia? — questionou a sra. Miller, com um olhar observador.

— Eu só não quero mais ir — mentiu novamente a garota.

— Tudo bem... — murmurou a mãe. — Eu entendo.

Ela se levantou, pegando os pratos sujos da mesa e colocando na pia da cozinha e começou a lavá-los. Sam se levantou também e encarou a mãe.

— Eu vou sair — informou. Sua mãe voltou à atenção para ela.

— Para onde? — perguntou.

Obsessão [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora