Capítulo Vinte e Sete

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Os dias seguiram turbulentos. Durante toda a semana Samantha acordou no meio de um pesadelo e via-se enrolada nos lençóis ensopados de suor. Ofegante e com o coração acelerado. Cada dia, noite e segundo parecia uma tortura. Não conseguia olhar para si mesma no espelho. Sam não era culpada pelo ocorrido, mas por que estava com aquela sensação dentro de si?

A ânsia de si mesma ficava preso em sua garganta. Toda manhã sua mãe batia na porta de leve e Samantha fechava os olhos rapidamente, fingindo dormir. Claire não poderia saber das noites mal dormidas ou dos pesadelos. Logo depois do recente caso, o pai de Samantha insistiu que ela fosse ver um psiquiatra, mas eles entraram em uma longa discussão em que Sam insistia em estar bem. Contudo, uma coisa que Samantha não estava era bem.

As noites mal dormidas em que passava fitando o teto já estavam se tornando visíveis. Suas olheiras e o desconforto de estar presente com outras pessoas começou a ficar notável. Ela simplesmente não conseguia ficar no mesmo cômodo com seus pais sem se sentir desconfortável. Ela mentiu. Mas sua mentira não estava contribuindo para nada, além de salvar Josh da prisão.

Odiava aquele nome, aquela pessoa. Se visse ele novamente ninguém poderia contê-la de enforcá-lo com as próprias mãos. Josh deveria sofrer, sentir a mesma humilhação que Samantha sentia todos os dias, mas o que mais a incomodava era o desaparecimento de Thomas.

O rapaz não veio vê-la em sua casa durante a semana em que se recuperava. Elliot sempre surgia no fim da tarde trazendo alguns biscoitos e um filme para entretê-la e os trabalhos da escola para colocar em dia. Samantha gostava do apoio moral do amigo, porém, queria uma única pessoa sentada ao seu lado para assistir qualquer filme de comédia. Elliot contava a Samantha alguma coisa interessante que acontecia na escola. Evitava mencionar Josh, mas naquele dia o tal rapaz foi citado.

Os pais da garota haviam saído, deixando Sam e Elliot assistindo um filme e comendo pipoca. Não era um assunto que Samantha queria tocar.

— Josh não veio durante toda semana para a escola — comentou o amigo no meio do filme.

Samantha continuou fitando a televisão, sem ver o que passava nela. A menção do nome dele causava o pior dentro de si.

— Eu sei que você não quer falar sobre isso, mas se quiser conversar, estarei aqui. — Nem ao menos havia começado como terminou. Elliot passou os braços em torno de Sam, apoiando-a.

A única coisa que Samantha queria perguntar era sobre Thomas, se o amigo havia visto o rapaz durante a semana.

— Você tem visto Thomas? — questionou Samantha quando o filme acabou.

Seu amigo pareceu hesitar.

— Ele não tem ido à escola — disse Elliot. — Você não tem falado com ele?

— E Nathan?

— Ele não sabe de nada, apenas pensa que você está resfriada.

A pergunta de Elliot foi deixada no ar. Não se tocou mais no assunto Thomas ou Josh. O amigo foi à cozinha estourar mais pipoca para o segundo filme daquela noite. Sam olhou a última conversa com Thomas, em que eles tinham conversado sobre ela ir à casa dele naquela noite do ataque, e sentiu o coração apertar. Não sabia se deveria sentir raiva ou ficar preocupada. Precisava de notícias sobre Thomas.

O sábado amanheceu cinzento e com o tempo de chuva. Samantha se enfiou em seus lençóis úmidos e fitou a cortina entreaberta. Odiava chuva, tinha uma péssima lembrança a respeito dela. Sua mãe bateu de leve na porta como fazia de costume. Sam esperou ela entrar com uma bandeja e um belo café da manhã, como a própria dizia, mas entrou de mãos vazias. Tinha um tímido sorriso nos lábios.

Obsessão [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora