Capítulo Trinta e Dois

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Samantha ouviu sua mãe dizer repetidamente as mesmas palavras por um longo momento. As únicas respostas que dava eram longos suspiros entediados. Sua mãe havia chorado, era perceptível os olhos avermelhados e o rosto inchado. A garota não se importou com nada que a mãe insistia em dizer depois que o policial, Thomas e Diana terem ido embora, até o momento.

— Você assustou todos nós. Seus amigos ficaram preocupados e Thomas foi atrás de você... Samantha? — Sam ergueu o olhar para a mãe. A mulher parecia prestes a se descabelar. — Parece que não se importa com ninguém a sua volta, o garoto ficou preocupado e se recusou a ir embora, deveria dar mais valor à ele.

Sam levantou-se irritada. Ouvir aquilo era a gota d'água. Thomas não se importava com ela, ninguém se importava. Cerrou os dentes e fitou a mãe.

— Não! Acho que é o oposto, ninguém me valoriza! Esse é meu problema, na verdade, eu sou o problema!

Samantha chutou a pequena mesa ao lado do sofá, derrubando o abajur e um pacote pequeno.

— Samantha! — gritou a sra. Miller, irritada.

A garota pegou o pequeno pacote embrulhando com papel vermelho. Observou o simples embrulho e chacoalhou tentando descobrir o que havia dentro.

— Ele deixou aí — disse Claire, um pouco mais calma.

— Quem? — A voz de Sam saiu embargada. Ela pigarreou tentando esconder o constrangimento de gritar com a própria mãe.

— Thomas.

— Eu odeio o Thomas! — Samantha arremessou o pequeno embrulho para o outro lado da sala. Ouviu o baque contra a parede e deu as costas para a mãe, indo para o quarto.

— Onde pensa que vai? Volte aqui! Não terminei de falar com você!

— Deixe-a ir — disse o pai de Sam, tentando acalmar a esposa.

O ar parecia denso e o escuro esmagador. Talvez fosse o fato de estar apertando os joelhos contra o próprio corpo que a esmagava, mas a dor estava dentro. Profunda e corrosiva. Sam respirou com dificuldade, preenchendo o pulmão com um pouco de ar e talvez dignidade. Ela queria isso, queria ser melhor e capaz. Seu defeito fatal sempre fora virar as costas e ignorar, mas parecia que seus problemas a perseguiam mais por agir de tal modo. Queria enfrentar Thomas e dizer umas poucas e boas para ele, mas a dor de amá-lo ainda rondava seu peito e contorcia seus pensamentos bons. Ela não se sentia digna o suficiente para confrontá-lo. Permanecer deitada e ignorante a tudo era uma boa ideia.

Contudo, as outras pessoas a sua volta não a permitiriam agir de tal forma. Sua mãe a acordou bem cedo naquele dia.

— Levante-se. O detetive Noah quer ter uma conversa com você, ele vai chegar daqui a pouco. — Aquelas poucas palavras foram mais do que o suficiente para fazê-la recobrar toda a consciência. Mas também foi o suficiente para fazer uma enxurrada de lembranças  da noite passada surgir em sua mente.

Ela não deveria se sentir culpada pelo o que acontecera. Thomas não era nem um pouco inocente. O cérebro de Samantha enviava sinais para o corpo reagir, todos os movimentos eram mecânicos, o escovar de dentes, pentear os cabelos e vestir um moletom. Desceu as escadas, o olhar procurando algo diferente na sala. Não havia nada, apenas a pequena mesa que Sam havia chutado não estava mais lá. Ela foi à cozinha e viu seus pais sentados à mesa. Pigarreou para mostrar sua presença.

— Eu sinto muito por ter agido daquela forma na noite passada. — Sam mexeu-se desconfortável e observou os pais. — Eu não pensei racionalmente.

Samantha aguardou as palavras deles. O pai bebericava o café e sua mãe estava de costas para ela. A mulher se virou com o olhar preocupado.

— Eu entendo, querida, só estamos com medo do que pode estar acontecendo com você. — A mulher fungou.

Obsessão [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora