Capítulo Trinta

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Ela havia entendido o recado. Sarah seria a próxima. E logo depois Lilly e por fim Samantha. Os olhos dela arderam, enchendo-se de lágrimas. O medo transcorreu seu corpo. Fechou os olhos fortemente. Ele a faria ficar por último. Ele mataria cada uma de suas amigas, lhe faria sofrer e depois a torturaria até seu último suspiro. Sentiu que segurava algo e percebeu que o envelope amassado ainda estava em sua mão. Sam ergueu os olhos e viu um único abajur iluminando fracamente a sala vazia. A garota decidiu que não iria se deixar levar facilmente, se fosse necessário iria defender suas amigas. E talvez pudesse morrer antes delas.

E no fundo do subconsciente de Samantha, aguardava ansiosamente por aquele momento, quando finalmente veria o rosto do maldito assassino.

A cama macia não a conteve. Sam mudava de posição o tempo inteiro. Sua cabeça latejava, a mente criando rostos de pessoas monstruosas e teorias. Escutava o próprio batimento cardíaco. E o tum-tum-tum de seu coração a incomodava dormir. Às vezes cochilava, mas era por poucos minutos. O sussurro do vento batia nas janelas do quarto da garota. Os sussurros começaram a encher sua mente lentamente enquanto adormecia e a acompanhou até as trevas.

Era tudo tão escuro e vago. O vento fustigava sua pele, mas não era frio, era aconchegante como uma colcha macia, quente e delicado como uma carícia. Ela sentiu o vento acariciando sua pele e sussurrando frases delirantes. Parecia que o próprio vento havia criado consciência e clamor, exasperando frases psicóticas a cada afago. Samantha se sentia nua no meio de todo aquele turbilhão de pensamentos, frases e divagações. A própria mente dela não parecia estar consciente do que acontecia. Os sussurros insistentes do vento pareciam estar mais próximos, como se estivessem ao seu lado.

A garota sentiu algo escorrendo por suas pernas. O cheiro invadiu suas narinas, e parecia entrar em sua garganta. Olhou para baixo, confusa, e percebeu o vestido preto que usava, o mesmo que havia usado no velório de Olivia, tinha uma coisa pastosa na parte da frente. Ela tocou hesitante e sentiu a textura. Sangue. Ao toque do tecido encharcado de sangue suas mãos ficaram manchadas. Samantha entrou em desespero ao pensar que àquele sangue fosse seu. Deveria ir ao hospital. Correu o mais rápido que pode, percebendo ao poucos que não estava em um lugar escuro e amplo como imaginara. Aos poucos sua mente começou a tomar consciência que corria por um bairro qualquer da pequena cidade que morava. O hospital não deveria estar longe.

Ela sentiu-se cansada por correr tanto tempo, era como se cada vez mais estivesse longe do objetivo. Mas tinha que encontrá-lo. Virou à direita, entrando em um beco comprido e viu uma porta dupla. Empurrou-as com a esperança de encontrar alguém para ajudá-la. O ar frio do lugar banhou sua pele e o cheiro de sangue mais uma vez queimou seu nariz, mas não era apenas sangue, tinha algo além... Algo como podridão. Samantha estacou no lugar, que era grande e vazio. O piso de mármore frio fazia-a contrair os dedos dos pés. E a garota há alguns metros de distância de Sam fez seu coração pulsar mais rápido. A tal jovem usava um vestido longo e de cor vinho. O chapéu em sua cabeça dava lhe uma aparência estranha, e parecia estar usando uma fantasia. Uma fantasia de bruxa. Ou de fato ela era uma bruxa.

O som das botas da garota ecoou no piso liso ao dar alguns passos. O rosto de Charlotte iluminou com o luar. Estava pálido e sereno. Não havia dor e ódio. Seus olhos escuros pareciam quase pacíficos. Quase. O sussurro do vento veio novamente, e Samantha apurou os ouvidos para tentar entender o que dizia, mas percebeu que o sussurro vinha dos lábios da garota diante de si. O sussurro foi se repetindo, até ouvir uma única palavra. Samantha. O sussurro mortal invadiu suas entranhas, fazendo-as arrepiarem. O olhar arregalado de Sam fitou a garota.

— O que você quer? — disse uma voz rouca que saiu dos lábios de Samantha. – Você não havia morrido?

O vento riu. Tudo ficou mais denso e abafado.

Obsessão [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora