CAPÍTULO SETE: LUCAS

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Nicolai abre os olhos verde-esmeralda e, por um segundo, parece tão confuso como se não conseguisse acreditar que está vivo.

– Você vai ficar bem – eu falo, tentando colocar o máximo de convicção possível na minha voz.

O príncipe continua em silêncio e olha ao seu redor como se não entendesse o que está havendo. Me pergunto se ele não se lembra do que nos aconteceu horas atrás. Talvez o trauma do ataque tenha sido demais para ele.

– Eu sou a princesa Kaya – falo lentamente – Nós estávamos juntos na carruagem a caminho de Agneya e fomos atacados por dois homens. Sua comitiva está morta e os homens que nos atacaram também.

Hesito antes de acrescentar com cuidado.

– Você os matou...

– Eu sei, eu me lembro – ele responde, piscando os olhos – Mas onde nós estamos?

Essa era realmente uma boa pergunta, que eu não sabia se teria uma resposta exata.

– Achei que não seria seguro ficarmos na estrada, então encontrei essa caverna e te trouxe para cá.

– Você me arrastou até aqui? – ele pergunta e parece impressionado.

O príncipe tenta se levantar para olhar em volta, mas eu o seguro pelo ombro.

– Fique deitado ou seu corte pode abrir de novo.

Ele lança um olhar para a parte do seu casaco que está manchada de sangue.

– Não é um corte profundo, amanhã você já vai estar bem. Coloquei um pouco de neve para ajudar a fechar logo.

– Neve?

– Eu aprendi isso no castelo de meu tio, ajudando a cuidar dos soldados.

– Mas já estamos bem longe dos primeiros traços de neve – ele fala com uma expressão confusa.

– Eu corri até lá.

Mostro para ele um recipiente de cobre onde um montinho de neve sobrevive bravamente em meio a uma poça de água gelada.

– Está descongelando bem depressa, mas também posso usar a água gelada. Não é tão eficiente quanto a neve, mas é melhor que nada.

Novamente ele faz força para ficar sentado e dessa vez eu não consigo impedi-lo.

– Então deixa eu ver se eu entendi – ele fala tentando esconder uma careta de dor pela ferida – Logo depois eu que desmaiei você encontrou essa caverna para nós nos escondermos, me arrastou até aqui, correu por pelo menos dois quilômetros para achar neve, voltou correndo e cuidou da minha ferida?

– Sim – é tudo que eu respondo.

Pela primeira vez Nicolai olha para mim e eu tenho a sensação de que ele está realmente me enxergando, como se antes eu fosse só uma sombra, uma pessoa feita de fumaça e agora a figura real e tangível de uma jovem tivesse se materializado diante dele. Ele me observa parecendo tão compenetrado que eu sinto meu rosto queimar de vergonha e não posso deixar de imaginar como eu devo estar parecendo bagunçada e desalinhado depois de tudo que passamos.

Mas eu também não consigo tirar os olhos dele, porque é como se uma máscara tivesse sido retirada do seu rosto. Uma máscara de seriedade e desinteresse, a máscara que me fez chorar. E o que resta é o rapaz que eu vislumbrei logo que o conheci, com uma expressão gentil, uma introspecção suave.

Finalmente desvio meu olhar para o chão gelado de pedra quando sinto todo o meu corpo ficar mais quente, depois de alguns segundos de silêncio entre nós.

Princesa de Dois Reinos [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora