CAPÍTULO TRINTA E QUATRO - A PRINCESA VALENTE

921 134 57
                                    

Meu tio, que baixava a espada com ferocidade, consegue interromper o movimento, parando-a no ar. Seus olhos parecem assustados, como se por um segundo ele tivesse vislumbrado o que teria acontecido se ele não fosse rápido o suficiente. Seria não só o sangue de Nicolai espalhado pela neve branca, mas também o meu. Sua única sobrinha e herdeira, morta.

Troco um rápido olhar com o príncipe que parece espantado. O medo também parece me inundar por dentro e eu estou tremendo por debaixo de todos os meus casacos. Mas é em um momento como aquele, de puro terror e insegurança, que eu sinto nascer dentro de mim minha parte mais brilhante. E uma coragem avassaladora me impulsiona a me manter ali, de cabeça erguida, protegendo o príncipe com meu próprio corpo.

Chega! – eu grito como se quisesse que até o último soldado ali presente pudesse me ouvir – Chega de tantas mortes e vinganças! Quando isso chegará ao fim? Quando estivermos todos mortos? Quando não restar mais ninguém para se sentar sobre o trono de Yas ou Agneya? E mais nenhum homem para empunhar uma espada contra o outro?

Olho para o rei Alev, meus olhos queimando de coragem.

– Nós não escolhemos essa guerra, nós nascemos dentro dela. Mas temos a chance de escolher quando ela acaba. Permitam que ela acabe hoje!

Ergo minha mão entrelaçada na de Nico para cima, para mostrar a todas aquelas pessoas que nós estamos unidos naquele propósito.

– Nós não queremos mais lutar, não queremos mais mortes nem de nossas famílias nem de nossos súditos. Nós queremos a paz.

Encaro meu tio, reunindo toda a força que me resta.

– E se mesmo assim vocês ainda quiserem continuar lutando, então não leve apenas a vida do príncipe, tio. Leve a minha também. Porque eu e Nicolai somos o futuro de Yas e Agneya e sem um de nós, não existirá o outro.

Apoio minha testa contra a de Nico, vejo seus olhos azuis assustados, mas cheios de orgulho. Então fechamos nossos olhos e esperamos. Se devemos morrer, morreremos juntos.

Ouço o som de algo que cai contra a neve pesada. Abro meus olhos e enxergo a espada de meu tio caída ao nosso lado. Então, para meu espanto, vejo o rei de Yas ajoelhado diante de nós.

Logo atrás dele, minha mãe com os olhos marejados de lágrimas também se ajoelha, junto com a rainha.

Nicolai e eu testemunhamos em silêncio e choque todos os soldados de Yas, fileira a fileira, se ajoelhando diante de nós dois. Aperto a mão do príncipe e nos encaramos sorrindo, com lágrimas escorrendo pelos nossos rostos.

Tio Jasper se levanta, enquanto todos o seu exército permanece de joelhos e cabeças abaixadas, e anuncia com sua voz de trovão.

Yas não quer mais lutar!

Ele caminha até o rei Alev, que permanece de pé, sem se mover.

– Que esse seja o dia que a guerra centenária chegou ao fim – meu tio fala – E a paz foi selada entre os dois reinos.

Ele estende a mão para o rei de Agneya.

Prendo minha respiração esperando que o rei Alev aceite aquele gesto, mas tudo que ele faz é levar sua mão até o cabo de sua espada.

Tudo acontece tão rápido que meus olhos destreinados para o campo de batalha quase não conseguem acompanhar. O rei de Agneya ergue a espada contra meu tio, que, desarmado, dá um passo para trás, sem ter como se defender.

Sem que eu perceba, Nicolai solta minha mão e se agacha, como se buscasse alguma coisa na neve e se lança sobre o próprio pai. Então eu vejo o que o príncipe tem nas mãos, a espada de meu tio.

Tio Jasper se desequilibra e cai para trás e o rei Alev tomba ao seu lado, com a espada que Nicolai cravou em seu estômago. Me ajoelho ao lado de meu tio, enquanto testemunho a morte do rei Alev. O sangue do senhor de Agneya se espalha pela neve, colorindo tudo ao nosso redor de vermelho. Penso no sangue de Kari escorrendo pelo chão do salão e fecho meus olhos.

Meu tio se levanta e Nicolai e eu nos encaramos em silêncio. Seu rosto está contorcido em uma expressão de tristeza. Ele acaba de matar o próprio pai, mas também acaba de nos dar a paz que tanto precisamos e que o rei Alev jamais aceitaria.

Finalmente nós nos abraçamos e choramos juntos, porque tudo aquilo, todas as mortes, as perdas e a dor, chegaram ao fim.

E depois de mais de cem anos de guerra, finalmente terá início o tempo de paz.


[Ainda temos DOIS CAPÍTULOS para reviravoltas finais! E a pergunta que não quer calar: Nico ou Lucas? Quem vai ganhar o coração de Kaya de uma vez por todas?]

[obrigada por ler esse capítulo! Se você gostou, amou, odiou, ou até mesmo achou chatão, não deixe de comentar aqui embaixo seu elogio ou sua crítica. Agora se você amou demais da conta, aí não se esqueça de votar e marque um amigo para vocês continuarem acompanhando essa história juntos!]

Próximo capítulo: 24 DE ABRIL

Próximo capítulo: 24 DE ABRIL

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Princesa de Dois Reinos [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora