CAPÍTULO OITO: NICOLAI

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– Quem é você? – é a única coisa que eu consigo sussurrar.

O rapaz a minha frente se afasta de mim de forma quase respeitosa. Se afasta do espaço que dividimos juntos um abraço, o espaço onde ele dividiu seu calor comigo, onde adormecemos lado a lado, como o marido e mulher que eu acreditei que um dia seríamos.

– Meu nome é Lucas – ele responde de cabeça baixa, parecendo envergonhado – Meu pai é um baronete no castelo. Eu e meus irmãos somos cavaleiros.

Eu o interrompo. Não me importa quem é sei pai e qual título de nobreza ele tem. Não me importa nada além da verdade.

– E porque você fingiu se passar pelo príncipe?

– Foi uma ordem do rei.

– Para me enganar?

Ele tenta pegar nas minhas mãos, mas eu as afasto.

– Enganar? Não, claro que não. Era apenas para proteger o príncipe Nicolai. Caso alguma coisa acontecesse.

Lucas fica em silêncio esperando alguma reação da minha parte. Mas eu não sei o que dizer, não sei como me comportar. Fico encarando seus olhos verdes, pensando em todas as coisas que pensei a respeito dele, a respeito de nós. Sinto a vergonha e a humilhação queimando dentro de mim, mas acima de tudo, sinto raiva.

– Então me leve até o meu noivo – falo com frieza.

– Se eu não disse nada antes, Kaya, foi porque...

– Princesa Kaya. E eu não quero ouvir mais nada. Cumpra com sua função, cavaleiro, e me leve ao castelo do rei de Agneya.


Durante todo o trajeto não trocamos nenhuma palavra. Nem quando atravessamos o espaço descampado onde a carruagem foi atacada, nem quando adentramos uma floresta ou quando alcançamos a primeira vila de Agneya.

Lucas pede água a um morador que prontamente nos ajuda. Eu agradeço ao homem, mas não olho mais nos olhos do cavaleiro que mentiu para mim. Seguimos nossa jornada, horas intermináveis de um caminhada em silêncio. Meu coração pesa em meu peito e eu desejo não chegar ao castelo nunca, apenas ficar ali vagando por aquelas ruelas para sempre, até me tornar invisível, até sumir.

Alcançamos o castelo quando o sol já está se pondo.

Atravessamos a ponte onde Lucas manda os soldados avisarem ao rei e ao príncipe da nossa chegada.

Estou exausta, suja, com os pés machucados e dor por todo o corpo, mas isso não significa nada perto do que sinto dentro de mim.

Aguardamos pelo rei na entrada principal do castelo e quando ele finalmente aparece, sua recepção não é nada do que eu esperaria do homem que mandou pedirem minha mão em casamento para pôr fim a guerra entre os dois reinos. Ele me olha com desconfiança, como se não gostasse do que vê. Só posso imaginar que isso seja por causa da minha aparência e do meu desalinho.

– Princesa Kaya – ele fala e eu faço uma respeitosa reverência.

– Rei Alev – respondo.

– Ficamos preocupados com sua demora. Estava pronto para enviar um grupo de soldados para procura-los.

O rei fala sem nenhuma emoção na voz, deixando claro para mim que eu não estava nem mesmo se lembrando da minha existência. Lucas explica em frases curtas tudo o que aconteceu e nem mesmo quando menciona as pessoas mortas o rei parece impressionado.

– Então você salvou a princesa, Lucas – o rei Alev fala.

– Na verdade, foi ela quem me salvou.

Princesa de Dois Reinos [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora