CAPÍTULO VINTE E UM - A PRINCESA FIEL

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Ainda espero um tempo diante da janela, meus olhos tão arregalados que não ouso nem mesmo piscar. Finalmente vejo um vulto debaixo de uma árvore, que se afasta, disparando para longe.

É ele.

Lucas entendeu meu recado e está correndo para deixar tudo preparado para nossa fuga.

Eu também preciso me preparar.

Não posso levar nada além do necessário. Coloco meu vestido mais grosso, calço minhas botas e pego minha capa verde. Aquilo é tudo que eu preciso, todo o resto ficará para trás.

As coisas são apenas coisas, é o que minha mãe sempre dizia.

Me coloco diante do espelho enquanto tento fazer uma trança com meus dedos que se atrapalham o tempo todo. A excitação e o medo se manifestam por todo o meu corpo, mal consigo encarar meu reflexo e me concentrar. Penso no que Lucas escreveu, onde devo encontra-lo. E se houver soldados no caminho? E se eles me impedirem de passar? E se... eles já estiverem esperando do lado de fora do meu quarto?

Quando a porta se abre, de repente, sinto meu coração na garganta.

Mas é apenas uma criada com uma expressão de terror.

– Princesa... o príncipe Nicolai...

Ela não completa a frase e eu me levanto assustada.

– O que aconteceu com o príncipe? Fale agora! – eu grito.

Nunca fui grosseira com uma criada antes, mas naquele momento sinto que eu poderia lhe dar um tapa.

– Ele pediu para ver a senhorita.

Não entendo o que ela está querendo dizer e porque precisaria ter uma expressão tão apavorada apenas para me dar um recado como aquele. E por que Nicolai iria querer me ver em plena madrugada?

– Onde ele está? Ele está bem? – pergunto confusa.

Ela faz sinal para que eu lhe siga e eu vou sem pensar duas vezes. Enquanto caminhamos pelos corredores, a passos apressados, ela começa a me explicar.

– O príncipe passou mal assim que chegou para o jantar. Ele vomitou sangue. Achei que alguém teria lhe avisado. Ele foi levado para seus aposentos e... os médicos do rei não sabem se ele irá sobreviver até amanhã.

Preciso parar de correr por um instante e me apoio em uma das paredes. Não consigo respirar. A criada me oferece seu braço, que eu aceito.

Então ele não teve tempo de falar com seu pai sobre o fim do nosso noivado. Não teve tempo porque está morrendo.

– Por que ninguém me avisou? Por que esperaram até que ele chamasse por mim?! – falo alto e com rispidez.

– Eu... eu não sei, princesa...

Claro que não é culpa daquela mulher, provavelmente foi o rei quem nem se deu ao trabalho de me avisar. Sinto meu sangue ferver e meu rosto fica vermelho de raiva. Ao mesmo tempo quero chorar diante da possibilidade de algo de ruim acontecer com Nicolai.

Finalmente chegamos ao quarto do príncipe, um aposento enorme e que naquele momento está lotado de médicos, homens velhos que usam túnicas pretas e conservam enormes barbas brancas. Detesto a visão desses homens. Em Yas um médico só é chamado quando não há mais nada o que fazer pela pessoa doente, então para mim eles sempre serão sinônimo de morte.

– Onde estão o rei e a princesa Maxine? – pergunto sem conseguir ver nenhum dos dois ali.

– Foram se deitar, senhorita.

Princesa de Dois Reinos [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora