CAPÍTULO DEZOITO - MEDO E CORAGEM

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A manhã seguinte me traz uma sensação estranha de medo diante do desconhecido. Sinto como se aquele fosse meu primeiro dia no palácio de Agneya, como se, de novo, eu tivesse que aprender tudo outra vez. Aprender por quais corredores andar, como me comportar e, acima de tudo, em quem confiar.

Estou terminando de trançar meu cabelo quando a porta se abre de supetão e eu levo um susto tão grande que deixo minha escova de cabelo cair.

Quando olho para trás e encaro Nicolai dentro do meu quarto, sinto um aperto em meu coração. Nicolai pode ter muitos defeitos, mas sempre bate na porta e me aguarda do lado de fora. Nunca estivemos assim tão próximos e sozinhos em um quarto fechado.

– Kay! – ele exclama, abrindo um sorriso e com os olhos brilhando.

Já fazia algumas semanas que ele se referia a mim por Kay. Imagino que ele tenha achado que era hora de termos apelidos carinhosos um com o outro, então para entrar em seu jogo comecei a chama-lo de Nico. Embora eu preferisse muito mais a sonoridade imponente do nome Nicolai.

– Você não devia estar no meu quarto, Nico – falo, séria.

– Eu sou o príncipe, posso estar onde eu quiser – ele responde com orgulho.

Faço uma careta para deixar claro que desaprovo toda vez que ele se comporta como um menino mimado, o que acontece com frequência.

– Me desculpe – ele fala sem nenhum pingo de sinceridade – Mas quero te mostrar uma coisa! Vamos! Você vai gostar!

Ele fala já pegando em minhas mãos e me puxando para fora. É muito difícil lhe dizer não e de qualquer maneira, ao menos posso caminhar pelo castelo me sentindo mais segura estando em sua companhia.

Nicolai praticamente me faz correr por corredores e escadarias até alcançarmos um salão enorme e vazio. Lembro que Maxine havia me mostrado aquele espaço e apresentado como o salão de bailes. Fiquei muito curiosa com o que seriam bailes, já que em Yas nunca houvera nada remotamente parecido com isso.

Naquele dia, porém, o enorme cômodo não está completamente vazio. Há um extenso grupo de músicos em um canto, tocando canções animadas que eu nunca ouvi antes.

– O que é isso? – pergunto tentando disfarçar minha curiosidade. Nicolai tinha razão. Eu mal sabia o que era aquilo, mas já estava gostando. Só não queria dar o braço a torcer.

– São chamados de músicos – ele responde como se eu fosse uma idiota.

Dou um tapa delicado em seu ombro.

– Eu sei. Quis dizer, por que eles estão tocando?

– Estão ensaiando, para o aniversário de Maxine. Teremos um baile!

Aquilo trouxe uma alegria tão grande para meu coração que me senti uma tola. Minha vida estava em risco, mas ainda assim eu ficava excitada ao saber que finalmente iria descobrir do que se tratava um baile.

Então sem nenhum aviso, Nicolai pegou minha mão direita e passou seu outro braço ao redor da minha cintura e começou a rodopiar comigo pelo salão, no ritmo daquelas belas melodias. Meu impulso inicial foi de pedir que ele parasse, mas algo dentro de mim me impediu. Aquilo era tão bom, aquela sensação de deslizar por todo aquele espaço, com minha mente repleta de música e nada mais.

– Você está feliz – ele fala com um tom de surpresa.

Era impossível para mim ser realmente feliz depois de saber toda a verdade. Temer pela minha própria vida, por Kari e ainda ter que me esforçar a cada minuto para não pensar em Lucas. Mas naquele instante eu estava distraída e talvez isso fosse o mais próximo que eu conseguiria chegar de ser feliz de novo.

Princesa de Dois Reinos [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora