CAPÍTULO VINTE E SEIS - UM PRESSENTIMENTO SINISTRO

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– O quê? – eu grito e minha voz ecoa pelo enorme salão vazio.

Kari olha para mim espantado, já que ele nunca me viu levantando a voz para ninguém, muito menos para ele. E sorri, como se estivesse achando aquilo divertido.

– Achei que você teria imaginado que isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde. Quero dizer, você viu como Maxine e eu estávamos nos tornando... íntimos.

– Vocês estavam apenas... flertando. Não significa nada – falo com firmeza, pensando em minha amiga Eira que conseguia flertar com três rapazes diferentes antes da hora do almoço.

– Bom, significou alguma coisa para nós.

Não sei como eu deveria me sentir nessa situação. Suponho que eu deveria ficar feliz por meu irmão assumir um noivado em circunstâncias muito mais favoráveis que o meu próprio. E, embora eu ache Maxine superficial, ela não é uma pessoa ruim. É uma menina bobinha, que acabou de completar quinze anos, mas eu mesma havia sido testemunha do seu afeto por Kari.

Por que então eu me sentia daquele jeito? Contrariada, nervosa e, acima de tudo, apavorada?

– Você sabe que Maxine não pode se casar sem a autorização de seu pai – falo, com cuidado, pois tenho até medo da resposta que Kari pode me dar.

Ele concorda com a cabeça e dá um sorriso radiante.

– Eu sei, Kaya. O rei já sabe. Nós fomos até ele, hoje de manhã, e ele aprovou.

Sinto um peso enorme, como se meu coração tivesse se soltado do meu peito e despencado dentro de mim. Sei que minha intuição não está errada. Há mais alguma coisa por trás daquele noivado, coisas que Kari não sabe, coisas que podem custar sua vida.

– Kaya... – ele fala em um tom de reprovação, quando vê meus olhos cheios de lágrimas – Achei que você iria ficar feliz por mim.

Como eu poderia lhe explicar o que estou sentindo? Como eu poderia lhe explicar tudo o que eu sei?

– Não é isso, Kari, é só que... vocês mal se conhecem. Você só está aqui há vinte dias.

– E você nem mesmo conhecia Nicolai quanto aceitou ficar noiva dele! E agora olhe só para vocês...

– E quando seria esse casamento? Em dois anos? – pergunto com um fio de esperança.

– Claro que não! Queremos nos casar o quanto antes. Eu preciso retornar para Yas e Maxine não quer se separar de mim, então pedimos ao rei para nos casarmos em vinte dias. Apenas o tempo necessário para nossa mãe receber a notícia e chegar até aqui.

Ele interpreta minha expressão de assombro como mágoa.

– Você não vai ficar chateada, não é? Por nós nos casarmos antes de você e Nicolai. Isso também vai atrasar um pouco os planos de vocês, mas para quem já esperou quase meses o que são mais alguns? Me desculpe, Kaya, mas Maxine e eu não conseguiríamos esperar! Não quero voltar para Yas sem ela.

Ouvir aquelas palavras é como um golpe. Um casamento de príncipes organizado em vinte dias? Nada daquilo faz sentido. É como se o próprio rei Alev não estivesse preocupado nem mesmo em disfarçar suas intenções.

Pego nas mãos de meu irmão e falando baixinho, preciso unir toda a minha coragem para sussurrar aquelas palavras.

– Kari, você acha que isso faz algum sentido? O rei aprovar seu casamento com Maxine? Ele já possui uma aliança com Yas graças ao meu noivado com Nicolai. Por que ele precisaria de outra? Maxine é sua única filha. Você não acha que ele preferia vê-la casada com algum outro herdeiro, de outras terras?

Princesa de Dois Reinos [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora