CAPÍTULO VINTE E DOIS - UMA SURPRESA CRUEL

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Acordo quando alguém balança meu ombro com cuidado e delicadeza. Por um breve momento tenho a impressão de estar de volta ao meu lar, em meu quarto, com minha mãe me acordando para mais um dia tranquilo e calmo em Yas.

Mal abro meus olhos quando uma criada sussurra em meu ouvido.

– Ele está bem, princesa, os médicos disseram que ele vai se recuperar.

Então me lembro de tudo e dou um pulo da cama, buscando por Nicolai. Ele está lá, dormindo. Levo a mão a sua testa e sinto como a febre baixou e como sua respiração está tranquila. Minha vontade é de entrar debaixo dos lençóis com ele, buscar seu abraço e dormir ao seu lado, mas a criada toca de novo em meu ombro.

– Princesa...

Seu tom é pesaroso e aquilo gela meu coração. Sento na beirada da cama e só então percebo como estou me sentindo cansada, meu corpo parece pesado e minha cabeça lateja diante do menor som possível. A criada me entrega um espelho de mão e eu confirmo aquilo que já sabia.

Estou doente.

Meus olhos estão vermelhos e mesmo sem levar a mão a minha própria testa posso sentir o calor que emana do meu corpo, a febre e o fogo que se espalham me queimando da cabeça aos pés.

– Leve-me para os meus aposentos. Não devo ficar perto do príncipe enquanto ele está se recuperando.

A mulher concorda e me ajuda. Noto que ela me cobre com um tecido comprido e vira o rosto para fora, como se quisesse evitar o contato com minha pele e minha respiração. Não posso culpá-la.

A caminhada de volta ao meu quarto é penosa e várias vezes preciso parar para respirar ou tossir. Quando finalmente chegamos, estou a ponto de desabar. Deito em minha cama, me cubro com as cobertas e quando ouço a porta se fechar tenho a sensação de que morrerei ali, completamente sozinha.


Passo as próximas horas entre o sono e o delírio. Sinto os lençóis debaixo do meu corpo, molhados com o meu suor. Tenho espasmos de vômito, mas nada sai de dentro de mim. Aquilo deve ser um bom sinal, não vomitar sangue como Nicolai, ou talvez seja apenas a primeira parte de uma morte lenta e dolorosa.

Já está escuro quando a porta se abre e uma sombra caminha até a minha cama. Meus olhos estão embaçados e eu mal consigo enxergar, mas quando ele pega em minha mão, sei que é ele. Meu príncipe. Nico.

– Você não devia estar aqui – falo baixinho. Até mesmo sussurrar parece um tormento.

– Não. Você é quem não devia ter estado no meu quarto quando eu estava doente.

Não sei como interpretar aquelas palavras. Sua voz não parece dura ou fria, mas também não tem o calor de quando vivíamos nosso melhor momento juntos. Nossa última conversa terminou com Nicolai me dando as costas, portanto não sei dizer se ele me perdoou ou não, mas tampouco tenho condições de refletir muito sobre isso, enquanto a febre e a dor consomem cada parte do meu corpo.

– Kaya – ele fala, passando as mãos pelos meus cabelos molhados – Me desculpe.

Não digo nada e forço meus olhos para ter certeza do que está realmente acontecendo. Nicolai se ajoelha diante da cama, enquanto pega nas minhas mãos.

– Kaya, eu não sei dizer ainda se o que sinto por você é amor, mas você é a pessoa com quem eu mais me importo. A pessoa que eu mais gosto. E quero uma segunda chance para nós dois, perdoando nossos erros, pois eu sei que também tenho os meus. Você pode fazer isso? Pode me perdoar?

Sinto lágrimas nos olhos e não há nada que eu queira mais do que abraçá-lo, beijá-lo, tocá-lo, mas não posso.

– Eu te perdoo – falo, baixinho.

Princesa de Dois Reinos [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora