CAPÍTULO ONZE - O ENCONTRO NA TORRE

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Amasso a carta assim que termino de ler e a lanço dentro da fogueira. Assisto o pedacinho de papel queimar e se transformar em cinzas enquanto as lágrimas escorrem pelo meu rosto. Faço aquilo sem pensar porque sei que é o que minha mãe gostaria que eu fizesse. Não posso correr esse tipo de risco, de ter cartas comprometedores debaixo dos meus travesseiros enquanto estou noiva do príncipe herdeiro de Agneya. Sinto ódio de Lucas apenas pelo perigo em que ele colocou minha posição ali, ao depositar aquela carta na minha cama.

Sinto ódio dele, raiva de Maxine, desdém por Nicolai e tantos outros sentimentos que não sei explicar. Desde o momento em que deixei a fortaleza de Yas para trás nunca mais me senti tranquila ou em paz. Quero ter meus pensamentos nas pessoas certas, nas pessoas por quem estou sacrificando minha felicidade: meu tio, minha mãe e Kari.

Entro debaixo das cobertas e busco em meu coração todo o amor que sinto por minha família e meu reino e peço que eles me deem forças para suportar e superar todas as dificuldades em meu caminho. Mas quando olho para dentro de mim, na escuridão e no silêncio daquele quarto imenso, o que encontro é a lembrança do calor do corpo de Lucas e quando fecho os olhos sinto a pressão dos seus lábios contra a minha testa.

O que é isso? Que sentimento estranho e reconfortante é esse, que parece inundar todo meu corpo? Essa coisa que nunca senti antes por ninguém, nem mesmo pelas pessoas mais queridas da minha vida.

Me pego pensando se eu sei onde a torre do campanário fica. Sim, eu me lembro. Maxine me mostrou. Não é muito longe do meu quarto. Minha mãe me recriminaria por sequer pensar nessa possibilidade. Não foi assim que ela me criou, não é isso que se espera de uma princesa de Yas. E ainda assim... se eu puder ver o rosto de Lucas uma última vez, talvez eu consiga colocar os sentimentos dentro de mim em ordem. Talvez seja só isso que eu precise. Me despedir e fechar para sempre aquela memória dentro de mim, encarcerar aquela lembrança, dizer adeus ao cavaleiro que se fingiu de príncipe.

Na primeira hora da manhã deslizo para o lado de fora do meu quarto, com meu coração prestes a sair pela minha boca. Levanto as saias do meu vestido escuro para cima e caminho descalça por aqueles corredores semi-desconhecidos.

Estou arriscando mais do que o meu futuro indo a esse encontro, estou arriscando o fim da guerra, o fim da morte de tantos soldados, a tão desejada paz entre os dois reinos. E mesmo assim uma força dentro de mim me impulsiona para frente.

Alcanço a torre e subo os degraus apressada, ansiosa e nervosa. Quero chegar logo até o topo e acabar com aquilo ao mesmo tempo que quero correr de volta para meu quarto e apagar o nome de Lucas da minha cabeça. E do meu coração.

Quando empurro a portinha que range ao menor toque, ele já está lá dentro. Esperando por mim. Acima de nossas cabeças, pende um sino enorme que lança uma sombra sobre aquele pequeno espaço, uma sombra sobre nós.

– Você veio - Lucas fala caminhando até a minha direção e parando subitamente.

– Você foi um tolo ao deixar aquela carta nos meus aposentos. Colocou sua vida em risco e mais ainda a minha.

Não queria que a primeira coisa a sair dos meus lábios fosse uma repreensão, mas não posso evitar.

– Me perdoe. Você tem toda razão. Dá próxima vez...

– Próxima vez? Lucas, isso não pode acontecer de novo.

Ele fica magoado com minhas palavras. Sinto uma dor em meu peito ao fazer mal a ele. Ainda não consigo desvendar completamente o que existe por trás daqueles olhos verdes. Parece uma mistura de seriedade e calma. Tão diferente de Nicolai. Tão diferente do jovem com quem eu devo me casar.

Princesa de Dois Reinos [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora