CAPÍTULO DEZENOVE - O BEIJO DO PRÍNCIPE

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É estranho o efeito que o medo pode ter sobre nós.

Eu, que sempre fui uma menina ansiosa e assustada, achei que diante de uma ameaça maior eu me curvaria e me tornaria ainda mais frágil e indefesa. Mas eu me enganara.

Saber que o rei de Agneya planejara minha morte e que ele estava contando os dias para ver meu irmão no campo de batalha, me dera forças que até então eu desconhecia. Forças para lutar.

Ainda pensava em Lucas, ainda o amava e muitas vezes não conseguia dormir, lembrando de seus beijos e todo o seu carinho por mim. Mas aquilo que nós tínhamos, aquele amor proibido, era menor que a guerra e a chance de colocar um fim em tantas mortes desnecessárias. Tinha que ser. Éramos amantes de um tempo errado, como se tivéssemos nos cruzado em vidas trocadas. Talvez, quem sabe, em um outro mundo para além de Yas e Agneya, nossas almas se reencontrariam sob outros corpos, com outros nomes e então, finalmente, poderíamos ficar juntos.

E ao mesmo tempo eu não podia esconder de mim mesma que vinha sendo cada vez mais fácil me afeiçoar a Nicolai. E cada vez menos eu afastava meu corpo do seu e sentia até prazer em ter minhas mãos entrelaçadas sobre as suas.

O que Nicolai tinha que era capaz de mexer dessa maneira com meus sentidos?

Não era sua aparência, ou pelo menos, não era apenas isso.

Acho que era o fato de sermos tão diferentes. Nicolai tinha todas as características que me faltavam e aquilo me deixava encantada. Ele era cheio de energia, falante, expansivo, não tinha vergonha de gargalhar alto, de gestos exagerados. Ele era como verão que eu nunca conhecera em Yas e sua luz e calor eram de uma sedução inegável.

Ele continuava sendo vaidoso, por vezes arrogante, e incapaz de falar de assuntos sérios. Eu nunca o vira falando nada sobre a guerra ou sua falecida mãe. Nunca o vira triste ou pensativo e na mesma medida que suas qualidades me atraíam, seus defeitos me preocupavam. Sua superficialidade me desapontava.

E quando faltavam apenas oito semanas para meu aniversário de dezessete anos, onde seria oficializado nosso noivado e poderíamos nos casar, eu conheci o outro lado de Nicolai.

Estava assistindo o príncipe em uma luta de espadas com seu mestre e outros meninos nobres, enquanto admirava o porte atlético do meu futuro noivo.

Observar Nicolai lutando me deixava ao mesmo tempo impressionada e tensa. Ficava nervosa cada vez que uma espada passava perto demais dele. Eu podia não amar Nicolai como amava Lucas, mas desejava seu bem acima de tudo.

Quando eles terminaram, o mestre e os outros nobres fizeram educadas reverências na minha direção e saíram logo em seguida. Nicolai foi até a coluna onde eu estava apoiada, de pé.

– O que achou? – ele perguntou, ansioso.

– Você esteve muito bem. Mas tome cuidado. Preferia que vocês treinassem com espadas de madeira.

Ele deu uma risada.

– Nós não somos crianças, Kay. E os machucados fazem parte. Olha só isso...

Ele levantou a camisa e me mostrou uma cicatriz fina bem acima de seu umbigo. Instintivamente coloquei minha mão em sua pele, meus dedos sobre a cicatriz. Percebi logo minha imprudência e senti meu rosto ficar vermelho de vergonha, mas não afastei minha mão.

Encarei os olhos tão claros e límpidos do príncipe e nossos rostos nunca haviam estado tão próximos. Eu podia sentir o cheiro adocicado de sua pele.

Lentamente Nicolai passou as mãos ao redor da minha cintura e me trouxe para mais junto dele, com as pontas de nossos narizes se tocando.

Eu o beijei primeiro. Seus lábios eram como seda e sua pele era tão quente e macia. Quando ele me beijou de volta senti toda aquela intensidade, toda a energia e o calor que ele exalava. Tão diferente de Lucas. E uma sensação igualmente deliciosa.

Princesa de Dois Reinos [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora