CAPÍTULO QUATORZE - O LEAL CAVALEIRO

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Foi só quando atravessei o portal levava ao pequeno cômodo na torre do campanário, que me passou pela cabeça que Lucas poderia não estar lá. Poderia não cumprir a própria promessa de me esperar todas as noites. Não tive tempo de parar para pensar como eu me sentiria se esse fosse o caso, porque lá estava ele. De pé, esperando por mim. Meu leal cavaleiro.

– Você veio... – ele fala como se não conseguisse acreditar.

– Eu não sei o que estou fazendo aqui, Lucas – falo com firmeza e sinceridade – Ainda sou a noiva do príncipe Nicolai, que isso fique bem claro.

– É claro – ele responde parecendo magoado.

Sinto uma dor dentro de mim ao ver mágoa em seus olhos, mas o que ele esperava? Que eu viesse aqui disposta a fugir com ele? Que jogasse fora a chance de pôr um fim à guerra entre Agneya e Yas? Não, ele não entende. Não tem como entender. Ele é apenas um cavaleiro, não tem as mesmas responsabilidades que eu carrego agora.

Caminho até ele e coloco minha mão sobre a sua. Ainda não sei o que serão aqueles encontros, mas quero que ele saiba que vim por ele. Que estou aqui com ele e não lá embaixo, em meu quarto, esperando obedientemente por Nicolai.

– Estou feliz que você esteja aqui – ele fala como se pudesse ler meus pensamentos.

– Eu estou... preocupada. Mas é aqui que eu quero estar agora.

Ele passa as mãos pela minha cintura e me beija. Eu o beijo de volta. Não penso em Nicolai com a professora de música de Maxine. Não penso em o que minha mãe diria, ou em Kari ou meu tio. Nem penso em Yas nem Agneya. Porque estar mergulhada naquele beijo é como me sentir em casa. Não a casa onde nasci, meu reino de gelo e neve, é como se, pela primeira vez, meu corpo e minha mente estivessem em paz, em um lugar que eu nunca achei que seria possível estar.

Entrelaçamos nossos dedos e ficamos nos encarando. Não existe vergonha ou receio. Só existe paz.

Depois disso sentamos no chão e conversamos, falamos sobre nossos mundos, nossos reinos e nossas famílias. Lucas é o quarto filho de um baronete, o que torna ele praticamente ninguém na base da hierarquia nobre. Sua mãe era filha de um visconde, mas foi rebaixada quando casou com seu pai. Ela casou por amor, Lucas conta com orgulho. Seus irmãos mais velhos estão todos na guerra e ele, apesar de já ser um cavaleiro condecorado, ficou porque, segundo a lei de Agneya, o filho homem mais novo não deve lutar, para manter o nome da família caso o pior aconteça com seus irmãos. Eu lhe conto que não podemos nos dar a esse luxo em Yas, todos precisam lutar. Velhos, jovens, filhos únicos, não importa. Somos tão poucos e a cada ano menos.

Conversamos entre beijos e carícias, mas nada além disso. Nunca será nada além disso, eu advirto Lucas que concorda com seriedade.

– Eu nunca esperaria nada mais de você, princesa. Pelo menos não enquanto você não for legitimamente minha.

Aquelas palavras me machucam. Ser sua noiva e sua esposa legítima é uma ideia que soa agradável aos meus ouvidos. Mas ser feliz não é o futuro que me coube.

– Eu nunca serei legitimamente sua, Lucas. E você não precisa me chamar de princesa. Para você eu sou apenas Kaya.

Selamos um acordo de nos encontrarmos mais vezes. Não todos os dias, aquilo seria perigoso demais. Nós encontramos a cada mudança da lua. Lucas queria mais, mas eu me mantenho firme quanto a isso, embora eu saiba que cada noite sem vê-lo será uma tortura.

– Esse é um jogo perigoso que estamos jogando, Lucas. É preciso ser cauteloso se quisermos jogar até o final.

Ele não diz nada, mas sei que está pensando a mesma coisa que eu. Quando é o final do jogo? Quando eu aceitar fugir com ele e me tornar sua? Ou quando eu beijar Nicolai, vestida de branco, diante de nossos pais?


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Próximo capítulo: 14 DE MARÇO

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Princesa de Dois Reinos [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora