Princesa de Dois Reinos [CONCLUÍDO]

CAPÍTULO DEZ - A CARTA

Estou quase alcançando a maçaneta do meu quarto quando alguém me puxa pelo pulso. Meus olhos estão tão embaçados com as lágrimas que tenho dificuldade de reconhecer a pessoa diante de mim.

– Kaya...

Nicolai me segura, me impedindo de entrar no meu único refúgio, longe de todo aquele deboche e frivolidade.

– O que você quer? Veio rir de mim?

– Vim pedir desculpas.

Aquelas palavras saindo da boca do príncipe me deixam atônita. Seco minhas lágrimas com as costas das mãos, mas não abro a boca.

– Me desculpe por Maxine – ele fala – Ela... ela é desse jeito mesmo.

– Um monstro?

Ele tenta reprimir uma risada.

– É. Um pouco. Ela pode ser legal às vezes, mas na maior parte do tempo é uma pentelha. Eu não sabia que ela ia fazer... isso com você. Não foi ideia minha.

Concordo com a cabeça, mas não quero prolongar mais ainda aquela conversa. Me sinto exausta, magoada, humilhada e só quero desaparecer até o dia de amanhã. Viro de costas e volto a pegar na maçaneta, quando Nicolai abre a boca novamente, dessa vez sem me segurar.

– As coisas que eu disse hoje quando você chegou... eu só estava tentando ser engraçado. Eu não disse nada daquilo por mal. Você é muito bonita.

Suas palavras desajeitadas causam um efeito acolhedor sobre mim, mas ainda não é o suficiente depois de tudo que passei nas últimas horas. E naquela altura já não consigo acreditar em mais nada que saia da boca de qualquer pessoa daquele reino. Prefiro pensar que ele bebeu vinho demais e está falando as coisas sem perceber, mas amanhã o verdadeiro Nicolai vai se revelar de novo.

– Boa noite, príncipe Nicolai – falo, fechando a porta com delicadeza e dessa vez ele não me impede.

Me encosto contra a porta sentindo minha cabeça girar. Estou com fome, mas me recuso a voltar para aquele salão.

Visto minhas roupas de baixo e me arrasto para a cama, sentindo o turbilhão de emoções que se revira dentro de mim.

Afasto a pesada colcha florida e vou me enfiar debaixo dos lençóis, quando entre dois travesseiros vejo a pontinha de um envelope, como se alguém o tivesse enfiado ali apressadamente.

Pego o envelope sentindo o coração pesado. Outra brincadeira de Maxine? Ou dessa vez seria uma executada por Nicolai?

Abro o envelope e puxo o pedacinho de papel que está dobrado. Quando leio a mensagem, sinto um embrulho em meu estômago.

"Princesa Kaya,

Sei que não deveria estar lhe escrevendo e nem mesmo deveria ter a princesa em meus pensamentos, mas não consigo evitar. E é essa mesma angústia que me leva a lhe fazer um pedido desesperado.

Se encontre comigo na primeira hora da manhã na torre do campanário.

Sei que não tenho nenhum direito de lhe pedir isso e se você não aparecer não a incomodarei mais.

Seu fiel cavaleiro, Lucas"

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Próximo capítulo: 15 de fevereiro