CAPÍTULO TRINTA E UM - SANGUE SE PAGA COM SANGUE

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Dois soldados nos guiam pelo comprido corredor que leva até o salão principal do castelo. Enquanto atravessamos, diversas pessoas cruzam o nosso caminho ou abrem espaço para que possamos passar.

Como sempre acontece em Yas, os acessos de um cômodo ao outro estão sempre cheios. Muitos param para observar e olham cheios de espanto ou curiosidade. Todos ali sabem quem eu sou. Alguns fazem uma reverência solene e mesmo que não digam nada, sei o que seus olhos querem dizer.

Sinto muito por seu irmão. Sinto muito pelo nosso futuro rei.

Aperto a mão de Lucas com mais força, não porque eu esteja com medo. Para mim não existe esse sentimento aqui dentro, não no lugar onde nasci e cresci. Se tenho algum temor é por Lucas. Dessa vez, sou eu quem precisa protegê-lo. Ele pode não ter nada a ver com a morte de Kari, mas meu leal cavaleiro continua sendo um súdito de Agneya, o reino inimigo, o reino que matou nosso príncipe.

Os soldados empurram as enormes portas duplas e adentramos no salão. Normalmente aquele espaço está sempre cheio de nobres comendo, conversando ou brigando e criados e servos correm de um lado para o outro servindo mais vinho ou trazendo mais comida, mas naquele momento não há ninguém ali. Ninguém além do rei, a rainha e minha mãe, sentados em seus tronos na parte mais alta do salão.

Assim que vejo mamãe, meus olhos se enchem de lágrimas e corro em sua direção como se eu fosse uma criança de cinco anos. Naquele momento me permito sentir todo o cansaço e a dor que tentei camuflar durante essa longa viagem. É como se, nos braços de minha mãe, eu pudesse fechar os olhos e me deixar ser cuidada.

A princesa Juniper me abraça e me beija e pela primeira vez desde que consigo me lembrar, ouço minha mãe chorando.

– Eu sinto muito Kaya, eu sinto tanto!

Eu a aperto mais forte e choro também. Só ela sabe o que sinto, só ela entende o buraco que a ausência de Kari fez dentro de mim, porque ela é a única pessoa que sente uma dor ainda maior que a minha. Kari era meu irmão, meu melhor amigo, mas era também seu filho e nada pode ser mais doloroso do que essa perda.

– Eu estava cega – ela fala caindo de joelhos diante de mim – Eu desejei tanto o fim dessa guerra que fiquei cega aos sinais da verdade. Mas você sabia.

Ela passa as mãos pelo meu rosto.

– Eu achei que tinha perdido você também!

– Eu estou aqui – falo, ainda agarrada em seus braços.

Desvio o olhar para meu tio e vejo que ele faz sinal para um dos soldados no fundo do salão, onde Lucas ficou parado. Olho para trás, instintivamente, e vejo o soldado o agarrar e empunhar sua espada.

– Não! – eu grito com toda a força que possuo – Não o machuquem!

O soldado pára e espera por uma confirmação do rei, mas não tira as mãos enormes de cima de Lucas.

Meu tio se levanta e vai até mim, parecendo confuso.

– Por que não, Kaya? Ele te sequestrou e veio até nós em busca de um resgate, não?

Corro até Lucas e pego de novo em sua mão.

­– Não! Ele não me sequestrou. Ele me salvou. Me manteve segura e escondida durante todo esse tempo e quando eu senti que era hora de voltar, ele quis vir comigo. Seu nome é Lucas, ele é um cavaleiro de Agneya, mas não teve nada a ver com... o que o rei Alev fez. Na verdade, foi ele quem me contou o que o rei estava tramando.

Meu tio troca um rápido olhar com o soldado que solta Lucas e se afasta. Minha mãe caminha até ele e pega em sua mão.

– Obrigada por cuidar de minha filha e trazê-la de volta em segurança.

Lucas abaixa a cabeça, de forma respeitosa e se mantém em silêncio. Ele se aproxima do rei, timidamente e faz uma reverência.

– Meus sentimentos pela morte do príncipe Kari, sua majestade.

– Obrigado. Peço desculpas pela acolhida pouco amigável. Esses ainda são, infelizmente, tempos de guerra. Mas qualquer um que estende a mão para minha família é um amigo de Yas. Obrigado por trazer nossa princesa de volta.

Aguardo que as apresentações terminem e que meu tio e minha mãe retornem para os seus assentos. Beijo as mãos de minha tia, que parece alheia a tudo que acontece ao seu redor. Encaro seus olhos tristes e quando penso em seus três filhos mortos, sinto meu coração mais pesado, agora que entendo ao menos um terço da dor que ela sente. Mas depois chega a hora de tratar do assunto principal que me trouxe de volta.

Paro diante de meu tio, enquanto Lucas aguarda alguns passos atrás de mim.

– Tio, o príncipe Nicolai está aqui? Sendo mantido como refém?

– Sim, Kaya. O rei Alev deverá estar aqui amanhã, para resgatar seu filho e aceitar os termos de rendição.

Olho timidamente para o rei diante de mim. Quem sou eu para me meter nesses assuntos? Quem sou eu para aconselhá-lo sobre a guerra? Então lembro-me de quando fui a única voz a tentar proteger Kari e a mim mesma e tomo coragem para continuar falando.

– Mas... você acredita mesmo que ele aceitará se render? E submeter Agneya à Yas?

– Não. Eu conheço meu oponente. E sei que o que teremos amanhã não será a paz, mas uma batalha. A batalha final. E eu darei ao rei Alev exatamente o que ele merece. Eu não vou lhe entregar o príncipe Nicolai. Vou mata-lo diante do próprio pai.

Levo as mãos a boca e sinto o chão girar sobre os meus pés.

– Você não pode fazer isso! Não pode matar Nicolai! – eu grito.

– Eles mataram Kari – meu tio responde sem se alterar.

– Mas Nicolai não teve nada a ver com isso. Ele é inocente!

Mas nada na expressão de meu tio demonstra que ele está me ouvindo ou sequer levando em consideração minhas palavras e minha súplica.

– Ele é o herdeiro de Agneya, como Kari era o nosso. Nada mais justo.

– Justo? – eu grito – Qual a justiça disso? Tio, por favor, o príncipe Nicolai é uma boa pessoa! Ele não merece isso!

Meu tio se mantém frio e controlado quando deposita a mão em meu ombro.

– Eu sinto muito, Kaya. Você ainda é jovem e inocente, mas é minha herdeira agora e o futuro de Yas um dia estará nas suas mãos. Espero que até lá você seja capaz de endurecer seu generoso coração e aprender que sangue se paga com sangue. Amanhã, Nicolai morrerá aos pés do rei Alev.


[CINCO CAPÍTULO NOS SEPARAM DO FINAL DESSA HISTÓRIA! O que vocês acham que vai acontecer? Mais sangue? Mais mortes de personagens queridos? Guenta coração!]

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Próximo capítulo: 19 DE ABRIL (isso mesmo, a autora está maluca e está liberando capítulo novo todo dia!)

Próximo capítulo: 19 DE ABRIL (isso mesmo, a autora está maluca e está liberando capítulo novo todo dia!)

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Princesa de Dois Reinos [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora