CAPÍTULO VINTE E QUATRO - O BAILE

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Como eu não tinha nenhuma roupa de festa, já que até mesmo a ideia de festas em Yas parecia um pouco absurdo, Maxine disse ao seu pai que eu precisava de um vestido novo. Minha futura cunhada conseguiu ao mesmo tempo parecer atenciosa e delicada aos olhos de Kari e se livrar do problema que eu seria, caso aparecesse com meus vestidos sóbrios e simples para seu baile de aniversário.

– Não é porque eu sentiria vergonha, nem nada disso – ela falou um dia, deitada em minha cama, enquanto as criadas tiravam minhas medidas para o alfaiate – Bom, talvez eu sentiria um pouco. Mas estou pensando em você também, Kaya. Você é a futura rainha de Agneya, a partir de agora é você quem representa o nosso reino. Estou contando com você para não deixar a peteca cair.

– O que é uma peteca? – perguntei, séria.

Ela deu uma gargalhada e rolou pela cama, parando de barriga para baixo e apoiando o rosto, que eu detestava admitir que era tão lindo, nas mãos.

– Quis dizer que a responsabilidade de ser a personificação de nosso reino agora é sua.

Dou um suspiro, cansada só de pensar em assumir uma função tão fútil.

– Bom, sempre teremos você aqui para isso, Maxine. Você sempre será a princesa de Agneya.

Maxine faz uma careta estranha, mas não diz nada. Uma das criadas me espeta com o alfinete e eu tento não falar mais, apenas me manter imóvel e sem respirar.


Me olho no espelho, pronta para o baile, e encaro meu reflexo ainda desconfiada, sem ter certeza se Maxine está me pregando outra peça ou se eu sou que estou tendo dificuldades de aceitar que um dia eu poderia me sentir tão bonita assim.

Meus cabelos estão presos em coque com um arranjo de flores rosas e brancas na parte de baixo e tranças pequenas e delicadas nas laterais da minha cabeça.

Meu vestido é de um tecido leve e vaporoso em um tom rosa bem claro. É algo que nunca havia usado antes. Minhas mãos sentem aquele material tão delicado enquanto eu não paro de girar na frente do espelho, querendo me ver de todos os ângulos possíveis. A saia é comprida e rodada, mas sem parecer ridícula ou exagerada. O vestido tem a cintura bem marcada, alças grosas que cobrem meus ombros e apenas seu decote me deixa um pouco em dúvida. Será que é profundo demais? Não que eu tenha muita coisa para deixar a mostra, meus seios são pequenos e quase não fazem volume sobre minhas roupas, mas todo meu colo e meu pescoço estão expostos. Sem meus cabelos para poder esconder um pouco da minha pele me sinto ao mesmo tempo envergonhada e encantada comigo mesma.

Alguém bate na porta e me viro para encarar meu irmão. Ele também precisou de ajuda com as tais roupas de festa, mas não teve tempo de ter roupas feitas sob medida. Nicolai lhe emprestou uma de suas muitas peças de vestuário. Kari nunca me pareceu tão elegante com botas compridas e lustrosas e uma jaqueta escura fechada e cheia de detalhes dourados.

– Olhe só para você... - ele fala, sorrindo.

– Olhe só para você! - eu digo, correndo até ele.

Ele me estende o braço e caminhamos juntos até o salão. Meu coração está palpitando. Me sinto tão tola, enquanto tantas coisas importantes acontecem pelas nossas costas, com Lucas expulso do palácio, com batalhas e mortes que devem estar ocorrendo no exato momento que nós adentramos aquele salão, eu me sinto nas nuvens, feliz por estar vivendo aquele momento, e extasiada meu vestido novo e meu penteado com flores. Se minha mãe me visse agora ela me esganaria. Eu me tornei um deles. Uma princesa fútil e boba de Agneya. Mas não era esse mesmo o plano de meu tio? Não era isso que ele esperava de mim?

O salão está lotado e repleto de gente e música e dança. Então aquilo é um baile. Aquilo é ter tantas pessoas ocupando um mesmo espaço sem que isso seja opressivo ou desconfortável. É incrível.

Princesa de Dois Reinos [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora