CAPÍTULO TRINTA E TRÊS - MORTE AO PRÍNCIPE

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Passo a noite sem conseguir dormir, encarando o teto do quarto, que nunca me pareceu tão pequeno. Me sinto sufocada entre aquelas quatro paredes e minha cabeça dói de tanto pensar em formas de ajudar Nicolai.

Meu tio havia proposto acomodar Lucas no dormitório dos soldados, mas ele pediu para passar a noite guardando minha porta. Claro que não havia nenhuma necessidade disso dentro do meu próprio lar, mas fico feliz de saber que ele está lá, do lado de fora.

Me levanto decidida e abro uma fresta da porta, de onde vejo Lucas de relance, sentado em um banquinho desconfortável, mas de cabeça erguida e atento, como um verdadeiro cavaleiro.

– Lucas... – eu sussurro.

Ele parece levar um susto e olha na direção da porta, onde apoio minha cabeça sobre o batente.

– Está tudo bem? ­– ele pergunta.

Sei que ele se refere a mim, se está tudo bem comigo, mas Nicolai já é tão parte de mim, de minha vida, que não consigo dar uma resposta que não inclua também o bem-estar do príncipe. Balanço a cabeça e olho para baixo.

– Não. Não posso deixar que meu tio machuque Nicolai.

Lucas vai até mim e eu abro a porta, deixando que ele me abrace. Ele passa as mãos pelas minhas costas e eu fecho os olhos, aceitando aquele carinho.

– Kaya, você sabe que se tivesse qualquer coisa que eu pudesse fazer para ajudar Nicolai, eu faria. Mas não vejo como.

– Eu sei – respondo com a certeza de que ele está sendo sincero – Então só me resta uma opção.

O cavaleiro me encara, sério. Eu lhe conto o que tenho em mente, a única coisa que poderá impedir meu tio.

– Você não pode fazer isso! – Lucas exclama – É perigoso demais.

– É a única maneira.

– Você estaria arriscando a própria vida!

Me afasto de Lucas com delicadeza e dou um passo para dentro do quarto.

– Se você conseguir pensar em uma ideia melhor, me avise. Do contrário, é isso que vou fazer amanhã.

Fecho a porta devagar, enquanto Lucas ainda me encara, assustado.


Nas primeiras horas da manhã uma criada vem até meu quarto me acordar. Olho para o lado de fora da janela e vejo o céu da madrugada, tão claro quanto os olhos de Nico.

O rei e seu exército chegaram. 

Me levanto, obediente, troco de roupa e tranço meus cabelos.

Do lado de fora, Lucas está esperando por mim. Descemos juntos a escadaria principal e passamos por diversos nobres, soldados e cavalheiros que caminham apressados de um lado para o outro. As mulheres parecem assustadas e as crianças estão caladas e sérias. Todos eles sabem o que nos aguarda hoje. Não o fim da guerra que tanto esperamos, mas uma batalha que pode significar, de uma vez por todas, o nosso próprio fim.

Encontro o rei, a rainha e minha mãe no salão principal e caminhamos juntos para o lado de fora, Lucas sempre um passo atrás de mim. Atravessamos o comprido corredor que nos leva para fora do castelo. Quando os soldados a nossa frente abrem as pesadas portas que nos separam do mundo exterior, o vento e a neve parecem cortar minha pele, como se eu não estivesse mais habituada àquele eterno inverno de Yas.

Quando saímos, outros dois soldados vêm trazendo Nicolai que está vestido com as roupas que usou no casamento de Kari e Maxine, mas que agora parecem sujas e surradas. E por cima ele usa um grosso casaco de pele escuro. Não posso deixar de pensar como é gentil e cruel da parte do meu tio querer manter Nicolai aquecido antes de matá-lo.

Os homens levam Nicolai alguns passos a nossa frente e eu troco um olhar de cumplicidade com o príncipe, como se quisesse lhe assegurar que está tudo bem, que está quase tudo acabado. Mesmo que seja mentira.

Quando a ponte levadiça desce e eu enxergo o lado de fora da fortaleza, me sinto sem fôlego. A primeira coisa que vejo é a quantidade de cabeças que nos aguardam ali, nosso próprio exército, homens, velhos e meninos, trajando seus uniformes negro. E depois que atravessamos aquele mar de gente, vejo o rei Alev e sua escolta, seu exército vermelho, que parece não só mais numeroso, mas também muito mais bem preparado que o nosso. Sinto um nó na garganta e entendo o que aquilo realmente significa. Será uma carnificina. Logo não será apenas Nicolai morto, mas todos nós.

Paramos na primeira fileira, a orgulhosa família real de Yas, e quando lanço um olhar de relance para minha mãe, vejo que ela não tem medo de olhar nos fundos dos olhos do rei Alev, nos olhos do homem que matou Kari.

O rei é um homem bonito de pouco mais de quarenta anos e Nicolai se parece um pouco com ele, mas não muito. A diferença está sobretudo no olhar e na expressão. Onde Nico é sempre alegre, o rei Alev traz um semblante carregado e severo. Não é um homem feliz.

Os soldados que trazem Nicolai se afastam dele e é meu tio quem pesa a mão sobre o seu ombro, pronto para realizar a entrega do príncipe refém.

Lucas está parado logo atrás de mim, busco pela sua mão e a aperto com força, sentindo meus dedos quentes sobre os seus tão gelados.

Tio Jasper caminha na direção do rei Alev até que ele e Nicolai estejam a apenas alguns passos do senhor de Agneya. Nico poderia correr até o pai, está tão perto, só precisaria de dois ou três passos e logo estaria em segurança, atrás daquela fileira infinita de escudos. Mas ele não se mexe, como se estivesse esperando autorização de alguém para sair daquela posição.

Meu tio retira a mão de cima do ombro de Nicolai, apenas para levá-la até o cabo de sua espada. E é nesse momento que eu aperto a mão de Lucas com mais força e cruzo meu olhar com o seu, meus olhos brilhando de pavor.

Vai – é tudo que Lucas me diz, soltando minha mão.

Meu leal cavaleiro me libera para que eu possa correr em direção ao outro rapaz que eu amo, mesmo que isso signifique a minha morte, mesmo que isso signifique me perder para sempre.

Então eu corro.

Sinto meu coração em minha garganta quando vejo que meu tio empunha sua espada.

Me lanço sobre Nicolai, colocando-me de frente para meu tio e grito com toda a força que possuo dentro de mim.

– Não!


[TRÊS CAPÍTULOS PARA O FIM!]

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Próximo capítulo: 23 DE ABRIL (essa semana tem capítulo novo todo dia, até chegarmos ao final)

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