CAPÍTULO VINTE E TRÊS - KARI

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Não posso explicar para Nicolai minha reação totalmente oposta ao que ele esperava quando me revelou sua surpresa. Como eu poderia lhe contar que seu pai, depois de uma tentativa fracassada de me matar, está agora tramando a morte de meu irmão?

O príncipe fica magoado comigo, mas não diz nada, enquanto eu passo os próximos dias sempre a espera da terrível notícia, de que a escolta de meu irmão foi "atacada" no caminho para Agneya e ele não sobreviveu.

Paro de comer, paro de dormir, choro por nenhum motivo e nem mesmo as noites que passo ao lado de Nico são suficientes para me fazer esquecer de Kari, por um segundo que seja.

No quarto dia daquela tortura sem fim, Nicolai bate na porta do meu quarto no final da tarde e assim que entra, anuncia de forma exagerada, como se ele fosse um criado cheio de pompa.

– Princesa Kaya, gostaria de lhe apresentar... o príncipe e herdeiro de Yas, príncipe Kari.

Então Kari atravessa o portal de entrada e fica ali, parado, olhando para mim e sorrindo.

Não posso acreditar. Começo a chorar e corro para abraça-lo. Sinto seu perfume tão familiar, seu cheiro de casa e minha única vontade é de nunca mais solta-lo, nunca mais deixar que ele se afaste de mim. Estou emocionada por tê-lo ali, mas ao menos tempo apavorada. Cada minuto que Kari passar longe da proteção da nossa fortaleza será uma agonia para mim.

– Agora sim, – Nicolai fala quase bufando – a reação que eu queria!

Passo as mãos pelo rosto de meu irmão ainda sem acreditar que ele está realmente ali. Foram apenas cinco meses separados, mas que parecem mais como cinco anos. Já acho que ele está mudado, parece mais velho e mais bonito.

– Como você está, irmãzinha? Mamãe não admite, mas está morta de preocupação com você.

Penso em todas as coisas que eu queria poder lhe contar, tudo que me aconteceu desde que deixei nossa casa para trás. Finalmente alguém em quem eu posso confiar, alguém para quem eu poderia desabafar tudo sobre Lucas e as verdadeiras intenções do rei Alev. Mas não ouso lhe dizer, não quero preocupar meu irmão e acima de tudo não quero que ele corra ainda mais risco por saber demais. Quando ele for embora, aí sim, poderei esconder uma carta entre as suas coisas, com minhas palavras expondo toda a verdade.

– Estou bem. Estive doente, mas estou melhor agora – é tudo que eu digo.

Abraço Kari mais uma vez e tento guardar dentro de mim aquela sensação de ter meu irmão ali, ao alcance dos meus braços. Quero protege-lo como se ele fosse uma criança.

Não vou deixar que nada de ruim lhe aconteça, prometo para mim mesma.


A chegada de Kari parece trazer uma nova energia para meu corpo. Agora consigo sair do meu quarto pelo menos uma vez por dia, para passear com meu irmão pelo jardim, mas ainda não sou capaz de passar todo o tempo fora dos meus aposentos. Gostaria de estar fazendo as refeições com ele e os outros nobres, mas os médicos me proíbem. Me resigno com o fato de que pelo menos fui autorizada a participar do baile de aniversário da princesa, na próxima semana.

Para minha surpresa, Kari me conta que Maxine é sua maior companhia. Nicolai também tenta passar o tempo livre que tem com ele, mas está sempre indo de uma aula para outra e ainda precisa dividir suas poucas horas livres comigo.

– Sinto muito – eu falo quando ele me conta isso, durante uma tarde ensolarada em que estamos sentados em um dos bancos do jardim.

– Sente pelo quê?

– Que você passe os dias amarrado à Maxine. Ela é tão detestável.

Ele me olha espantado.

Princesa de Dois Reinos [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora