CAPÍTULO VINTE - A ÚLTIMA CHANCE

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Nicolai deixa as flores escaparem de suas mãos, as flores que ele mesmo deve ter buscado no jardim uma a uma, para me presentear. E quando aquele ramalhete de cores e folhas atinge o chão, se espalhando aos nossos pés, sinto que meu coração também cai no vazio, mergulhado em uma escuridão tão sombria quanto o olhar do príncipe.

- Nicolai, eu... eu te devo uma explicação.

Mas ele apenas balança a cabeça e a dor em seus olhos é tão grande que eu nunca senti tamanha necessidade de abraça-lo, confortá-lo e dizer que estava tudo bem, que eu havia cometido um erro, mas queria consertar tudo. Queria lhe dizer que o que mais desejava naquele momento era um dia pertencer a ele e que ele pertencesse a mim. Mas ele não me dá essa oportunidade.

- Você não me deve nada, Kaya. Nós não somos nada um do outro. Sequer somos amigos.

- Não diga isso - eu imploro - Essa carta, essa pessoa... não significa nada.

Falo em desespero, amassando a carta e a atirando longe, mas minhas palavras não são sinceras e o príncipe sabe disso.

Nicolai faz menção de se afastar de mim, de sair do meu quarto, mas eu o seguro pelos ombros.

- Nicolai, espere! Eu... eu me envolvi com esse rapaz, desenvolvi sentimentos por ele, isso eu admito. Mas nada nunca aconteceu. Sempre deixei claro para ele que eu era sua noiva e seria assim para sempre. Eu não sei o que estava fazendo, não sei porque me deixei envolver, mas tudo o que quero agora é deixar isso para trás e construir minha vida ao seu lado. Eu juro, juro pela minha família, que quero tentar ser a melhor noiva e esposa que eu puder. Eu tenho uma grande afeição por você, Nicolai, e só quero que essa afeição cresça e um dia se transforme...

- Em amor? - ele me interrompe, falando com desdém - Curioso, princesa, eu me sentia da mesma maneira. Mas agora já não sei mais. Agora parece que não sinto nada...

Ele me dá as costas.

- Nico, por favor!

Mais uma vez tento segurá-lo, tento tocar suas mãos porque acredito que, de alguma maneira, se eu conseguir apenas estar junto dele, aquilo será suficiente para que ele se acalme, para que ele me perdoe. Mas dessa vez ele segura meu pulso, não com força ou violência, mas com firmeza, exatamente para me impedir de me aproximar demais.

Quando Nicolai se vira para mim, vejo que seus olhos estão brilhando, aquele azul tão claro que na primeira vez que o vi me pareceu cruel, agora está translúcido com as lágrimas que ele tenta segurar. Aquilo parte meu coração, ver meu príncipe orgulhoso e alegre naquele estado e por minha culpa. Acho que só nesse momento entendo o quanto gosto e me importo com Nicolai. Infelizmente, tarde demais.

– Eu vou informar ao rei minha decisão de não prosseguir com os planos para o nosso noivado e ele fará os arranjos para o seu retorno à Yas – Nicolai fala com um tom de voz tão duro como eu nunca ouvira antes.

O desespero dentro de mim aumenta e me faz querer lançar mão de um artifício baixo e mesquinho para trazê-lo de volta. Eu poderia jogar em sua cara o beijo que presenciei entre ele e a professora de música de Maxine. Mas sei que não posso fazer isso. Sei que não é possível comparar um beijo com meus encontros secretos e o que eu sentia em relação a Lucas. E, principalmente, não seria justo trazer a tona algo que ele fez quando eu estava no palácio a menos de um mês, enquanto eu mantivera um relacionamento com Lucas ao mesmo tempo que Nicolai e eu nós tornávamos algo muito além de meros companheiros.

– Por favor, não faça isso, Nico – é tudo que eu consigo dizer.

– Adeus, Kaya.

Ele sai do quarto me deixando sozinha com minhas flores espalhadas de um lado e a carta de Lucas amassada do outro. Caio de joelhos no chão e começo a chorar porque pela primeira vez eu chegara tão perto de ter tudo, de me apaixonar por Nicolai, selar nosso compromisso para que juntos pudéssemos lutar lado a lado contra o rei Alev, pelo fim da guerra entre os reinos. E agora eu perdera tudo.

Não apareço para o jantar, não saio do meu quarto até ficar escuro. Fico a todo momento esperando que alguém venha me avisar quando irei partir de volta para o reino de meu tio, mas ninguém aparece. Fico imaginando se Nicolai ainda não contou ao seu pai sua decisão, ou se o rei está aguardando o dia seguinte para me arrancar dos meus aposentos e me lançar dentro de uma carruagem de volta para Yas.

Meu único consolo é que poderei contar ao meu tio toda a verdade sobre os planos do rei, poderei prepara-lo para a verdade: que a guerra nunca terá fim e que o rei Alev não vê a hora de colocar suas mãos em Kari e tirar sua vida.

Então um arrepio percorre todo meu corpo e eu entendo o que irá me acontecer hoje ou amanhã: vou partir de Agneya e nunca chegarei em Yas.

É claro, o rei não correria esse risco, ele sabe que eu sei de alguma coisa. Ele não vai me deixar chegar viva para que eu conte tudo ao meu tio, ele não vai deixar que eu alerte a todos sobre os seus planos. Ele vai mandar me matar. E dessa vez sem erros, sem cavaleiros de coração nobre que não tem coragem de cumprir suas missões. Dessa vez não terei escapatória. Dessa vez eu morrerei.

Com as mãos tremendo recupero a carta amassada de Lucas, minha única chance de me salvar. Lucas vai me tirar do palácio antes que o rei Alev possa colocar suas mãos em mim. Não para fugirmos, como meu leal cavaleiro gostaria, mas para corrermos para Yas, para que eu possa avisar meu tio, para que eu possa manter Kari seguro.

Leio de novo o conteúdo da carta com meu coração palpitando.

"Se você se decidir a fugir comigo, não me procure. Apenas apague uma vela diante da janela de seu quarto no horário que sempre nos encontramos. Eu estarei vigiando e deixarei tudo pronto para nossa fuga."

O horário que sempre encontramos. Uma hora da manhã. Está na hora.

Pego uma das velas que ilumina meu quarto e me aproximo da janela. Do lado de fora está escuro e chovendo, não consigo enxergar se Lucas está realmente lá, mas ele nunca me decepcionou antes, então preciso confiar em suas palavras.

Seguro a vela com as mãos tremendo. Penso em Nicolai e na dor que sentirei ao deixá-lo para trás, mas me forço a pensar em meu irmão, meu reino e minha própria vida.

Fui uma tola ao achar que poderia resolver tudo por conta própria, que eu, sozinha, daria conta de virar aquele jogo. Mas ainda há espaço para um último ato de coragem, minha fuga na calada da noite para revelar tudo ao meu tio. Essa é a minha verdadeira missão, esse é o lugar que me cabe na história de mais de cem anos de guerra.

Então, decidida, sopro a vela.

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Próximo capítulo: 30 DE MARÇO (isso mesmo, s-á-b-a-d-o)

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Princesa de Dois Reinos [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora