Princesa de Dois Reinos [CONCLUÍDO]

CAPÍTULO TRINTA E DOIS - A DESPEDIDA

Meu tio não queria permitir que eu visse Nicolai, mas depois de lhe prometer que eu não revelaria ao príncipe nada sobre o que realmente iria acontecer quando o rei Alev chegasse, ele aceita, afinal de contas Nicolai havia sido durante muitos meses meu noivo e merecia ao menos que eu me despedisse dele.

A palavra despedida estava entalada em meu coração, enquanto eu descia até as as masmorras acompanhada de um soldado. Não pude acreditar que meu tio encarcerara Nicolai em uma das celas das masmorras, um lugar reservado para criminosos da pior espécie, e não para príncipes aguardando para serem resgatados. Claro que não havia mais criminosos entre o que restava da população de Yas, esse era um conceito antigo do período anterior ao da guerra. Agora que tínhamos um único inimigo em comum, nosso povo era unido, precisava ser. E se alguém fizesse algo de errado, era muito mais simples apenas lança-lo para fora dos muros do castelo do que ocupar o pouco espaço que possuíamos com alguém que não merecia estar ali.

As masmorras eram um espaço escuro, sombrio e absolutamente assustador. Eu só havia estado lá embaixo uma vez, quando era criança, e só porque Kari me desafiou a ir até lá sozinha. Mesmo agora, do alto dos meus dezessete anos, eu desejava estar bem longe dali, na segurança e no calor do mundo lá de cima.

O soldado para diante de uma pequena cela e a abre, deixando espaço para que eu entre. Lá dentro vejo Nicolai, encolhido contra a parede, abraçando as próprias pernas e o queixo tremendo.

– Nico! – falo me lançando em seus braços.

Ele está vestindo roupas simples que os criados de Yas usam e um blusão grosso de inverno, sem o qual ele certamente já teria morrido de frio. Ver Lucas sem suas roupas de cavaleiro, transformado em camponês não é nada perto do que é testemunhar a queda de Nicolai de príncipe para um refém de guerra.

Nicolai parece não acreditar que sou eu quem está ali, diante de seus olhos. Passa as mãos pelo meu rosto e eu também faço o mesmo, tocando suas maçãs do rosto e seus cabelos dourados.

– Kay... – ele fala com um fiapo de voz que eu nem mesmo reconheço.

Abraço-o mais uma vez. Queria que apenas o poder do meu abraço fosse capaz de tirar todo o medo e a apreensão de seu rosto. Não quero ver Nico nessa situação. Não o meu príncipe sempre brincalhão.

Dessa vez ele também me aperta com força e ficamos ali, ajoelhados no chão, presos um ao outro como se fossemos uma coisa só. É assim que me sinto, como se meu corpo pertencesse aquele espaço entre os braços de Nicolai. Apoio minha cabeça em seu ombro e escondo meu rosto entre seus cabelos.

Não posso deixar que nada lhe aconteça. Não posso deixar que também tirem Nico de mim.

– Como você está? – eu pergunto quando finalmente consigo soltá-lo.

– Já estive melhor – ele fala, forçando um sorriso – Estou tão feliz de ver que você está bem. Perguntava de você todos os dias para o soldado que traz minha comida, mas ele nunca me responde. Por que demorou tanto para vir me ver?

Então ele não sabia de nada. Não sabia que eu não havia retornado para Yas junto com minha mãe e sim que Lucas me levara para longe. Mas eu não queria ter de lhe explicar esses detalhes agora. Tinha pouco tempo ao seu lado, tinha poucos minutos para... me despedir.

– Desculpe. Meu tio só me permitiu vir aqui hoje – é a melhor explicação que consigo lhe dar.

– Você sabe se meu pai está vindo? Sei que a intenção de seu tio é me usar como moeda de troca.

– Sim. Seu pai deve chegar aqui amanhã – eu falo.

– Imagino que ele deve estar furioso! Tantas lições de combate para se deixar ser sequestrado com essa facilidade! – ele fala, imitando a voz do rei Alev – Aposto que é o que ele vai me dizer amanhã.

Tento forçar um sorriso, mas não consigo. Então Nicolai também fica sério e passa a mão pelos meus cabelos.

– Eu sinto muito pelo seu irmão. Eu... eu não sei o que dizer, Kay. Fico pensando naquilo que você me fez prometer e... como eu falhei com você. Eu juro, Kaya, se tivesse qualquer coisa que eu pudesse fazer, se eu tivesse como voltar atrás...

– Eu sei.

Ficamos em silêncio, nos encarando.

– Eu pediria a meu tio que te colocasse em um quarto normal, mas honestamente temos uma questão com espaço aqui... – falo, dessa vez tentando ser eu a divertida – Mas posso ao menos te enviar cobertas, para que você passe a noite aquecido.

– Está tudo bem. De qualquer maneira, amanhã tudo isso estará terminado.

Então ele me olha, depois de dizer aquelas palavras e eu tenho o pressentimento que ele sabe.

Ele sabe que vai morrer amanhã.

Meus olhos brilham e as primeiras lágrimas escorrem sem que eu consiga contê-las. Abraço Nicolai com tanta força como se quisesse fazê-lo desaparecer dentro de mim. Tenho que impedir aquilo, tenho que fazer alguma coisa, mas não sei o que.

– Está tudo bem, Kay – ele fala com a voz abafada.

Me agarro ao seu pescoço e então o solto, olhando no fundo dos seus olhos azuis.

– Eu gosto tanto de você – digo com a voz embargada.

– Eu também gosto muito de você – ele responde – E sou a pessoa mais feliz do mundo por ter tido a oportunidade de ser o seu noivo, mesmo que só por alguns meses.

Dou um beijo de leve nos lábios de Nicolai e então sei que está na hora de ir embora, de deixá-lo ali sozinho de novo.

– Você vai ficar bem – me forço a dizer, mesmo que nós dois saibamos que não é verdade – E nós nos veremos amanhã.

Ele concorda com a cabeça e eu finalmente me levanto e lhe dou as costas. Não olho para trás, ou não conseguiria sair dali nunca. Mas marcho decidida de volta ao castelo, determinada a encontrar uma forma de salvar Nicolai.

***

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Próximo capítulo: 22 DE ABRIL (agora só semana que vem mesmo...)