Princesa de Dois Reinos [CONCLUÍDO]

CAPÍTULO TREZE - O BEIJO

Completei meus primeiros quinze dias no castelo de Agneya como se fossem quinze anos. Como o tempo demora a passar quando se é infeliz.

Queria enviar cartas a minha família, mas o rei disse que era impossível. Enquanto meu casamento com Nicolai ainda era apenas uma possibilidade distante, a guerra seguia e o rei Alev fez questão de reforçar que a recusa em começar desarmar os homens partia tanto dele quanto de meu tio. E que ele não iria perder a vida de nenhum homem tentando transportar cartinhas de princesas entre um reino e outro.

Eu tentava o máximo que podia ficar fora do caminho do rei. Não sabia de onde vinha sua antipatia por mim, mas pelo menos eu sabia que não era a única a ser severamente julgada por ele. O rei Alev estava sempre lançando olhares de desaprovação para Nicolai, Maxine e todos os outros nobres. Ninguém ali parecia bom o suficiente para o senhor de Agneya.

Foi com muita estranheza que constatei que minhas poucas horas diárias com Nicolai eram a melhor parte do meu dia. No resto do tempo eu estava sempre sozinha, trancada em meu quarto ou caminhando pelos corredores do castelo, ainda admirada com os espaços vazios. As vezes Nicolai me enviava um convite para vê-lo praticar arquearia ou assistir suas lutas de espadas. Eu gostava daquilo. Gostava de vê-lo engajado em uma atividade onde não havia espaço para vaidade ou arrogância. Ele parecia outra pessoa, parecia alguém de quem eu poderia um dia vir a me tornar amiga.

Uma tarde me peguei diante do espelho, usando meu melhor vestido e soltando meus cabelos só porque eu sabia que Nicolai gostava mais deles assim. Prendi uma mecha com um grampo e deixei o resto dos cachos soltos pelos meus ombros. Me achei bonita e senti uma excitação estranha e desconhecida dentro de mim ao imaginar se o príncipe iria dizer alguma coisa, se iria me elogiar.

Mas o horário do nosso encontro chegou e passou e Nicolai não apareceu. Me perguntei se ele ainda estaria estudando, se havia sido chamado de última hora por seu pai ou algo do tipo. Quando já estava quase na hora do jantar resolvi caminhar pelos jardins, na esperança de, talvez, esbarrar com ele e ainda termos algum tempo para conversar.

Desci a escadaria principal que levava aos jardins a caminhei entre árvores frondosas e arbustos floridos. Admirei toda aquela natureza verde e resplandecente, tão diferente de tudo que eu conhecera até aquele momento.

E então o que eu mais queria aconteceu. Encontrei Nicolai.

Nicolai e a jovem que ele beijava.

Era a professora de música de Maxine. Uma jovem de vinte anos, da baixa nobreza e de lindos cabelos dourados e olhos verdes.

Eles não me viram. Não viram quando virei de costas e fui embora, de volta para meu quarto. Bati a porta atrás de mim e cai na poltrona sem saber direito o que eu estava sentindo. Eu vivia dizendo para mim mesma que não gostava de Nicolai, revirava os olhos para tantas coisas que ele dizia e fazia, e ainda assim... eu me sentia traída. Porque ele era meu noivo e eu jamais passaria por cima da confiança que ele tinha por mim.

Me senti envergonhada de ter me deixado levar por uma ou outra frase menos arrogante de Nicolai, por ter me enternecido ao vê-lo se exibir como um pavão em seus treinos. Por ter acreditado que ele era capaz de qualquer coisa que não fosse presunção e vaidade.

Esse era Nicolai. Esse era meu futuro marido.

E então me permiti abrir aquela porta em minha mente que eu passara os últimos dias tentando fechar com tanta dificuldade. Abri a porta onde escondi Lucas e prometi que naquela mesma noite eu iria encontrá-lo, se ele ainda estivesse esperando por mim.

Se Nicolai achava que podia me trair daquele jeito e eu agiria como uma princesa tola e submissa de Agneya, ele estava muito enganado. Eu era uma princesa de Yas e saberia responder na mesma moeda.

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Próximo capítulo: 04 de março