CAPÍTULO NOVE: MAXINE

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Acordo sobressaltada quando alguém abre a porta de supetão, quase como se a tivessem chutado ao invés de girar a maçaneta. Meu primeiro pensamento, ainda embaralhado com meus sonhos, é de o castelo está sendo atacado como aconteceu com a carruagem. Me levanto de um pulo, mas uma risada de menina me deixa desconcertada.

Esfrego meus olhos e vejo diante de mim uma das jovens mais lindas que já vi em toda minha vida, alguém que deixaria minha amiga Eira bufando de inveja. A menina é de uma beleza arrebatadora, daquelas que até então eu só conhecia através dos livros de histórias que minha ama lia para mim, história de belas princesas presas em torres com longos cabelos dourados.

– Olhe o susto que eu te dei! – ela fala com uma voz afetada que não combina com aquele rosto tão angelical – Fiquei calma, sou só eu, sua futura cunhada, Maxine.

A princesa Maxine parece ter mais ou menos a minha idade, mas sua expressão tem aquele ar de esperteza e sagacidade que eu sempre invejei nas meninas mais velhas. Seus cabelos têm a cor do sol e descem em longos cachos atingindo quase a altura da sua cintura. Sua pele não é pálida como a de Nicolai ou queimada de sol como a de Lucas, é rosada com um perfeito tom saudável. Seus olhos são azuis como os do irmão e sua boca pequena e delicada tem um tom vermelho parecido com o dos pós de maquiagem que minha mãe nunca me deixou usar.

Não posso deixar de admirar seu vestido da cor do céu com um decote que deixa seus ombros a mostra e uma saia cheia de babados. Roupas em tons tão claros assim não existem em Yas. São considerados um desperdício porque rapidamente sujam e se estragam. Meus vestidos são todos pretos, cinza, marrom ou vermelho escuro, como que eu estou usando agora.

– Papai enviou soldados para resgatarem a carruagem e seus pertences – ela fala como se pudesse ler meus pensamentos a respeito das suas roupas – Logo você vai ter todos os seus vestidos de volta.

– Obrigada. É muito gentil da parte do rei se preocupar com algo tão pequeno.

– Vestuário não é algo pequeno – Maxina fala dando um sorriso zombeteiro – De qualquer maneira, vim aqui lhe dar as boas vindas. E só quero que você saiba que você é muito mais bonita do que esperava e não concordo de maneira alguma com a opinião de meu irmão.

Meu rosto fica quente e vermelho de vergonha. O que será que o príncipe Nicolai andou espalhando sobre mim e a minha aparência? Sinto de novo uma vontade incontrolável de chorar. Nunca pensei que isso pudesse ser tão difícil. O que eu não daria para estar de novo na minha casa, no meu quarto, com minha família e minhas amigas!

– Deixe Nicolai pra lá, ele não sabe diferenciar um pardal de um sabiá.

Eu não fazia ideia do que fosse um pardal e muito menos um sabiá, então apenas concordei com a cabeça, sem conseguir esconder uma expressão triste.

– Quero te convidar para conhecer o castelo, enquanto o jantar não é servido. Vamos?

Fico agradecida com aquele convite. Maxine parece muito diferente de qualquer amiga minha em Yas, mas mesmo assim é a primeira pessoa em Agneya a me mostrar alguma gentileza.

- Claro! – respondo tentando me sentir mais animada.

Ela pega em minha mão e vai me puxando, com passos apressados, fazendo uma agitada excursão por corredores, escadarias e cômodos que parecem não ter fim. O castelo é enorme e muito diferente da fortaleza de Yas. Mas o que me chama atenção não são os espaços abertos, cheios de luz e calor ou os móveis sempre dourados e cheio de brilho, é o vazio que me deixa espantada. Vejo criados e servos e um ou outro nobre, que Maxine me apresenta de forma apressada, mas em comparação com o castelo de meu tio, aquele lugar parece quase abandonado. Estou acostumada com salões cheios de gente, empregados que se esbarram nas escadas e ter que desviar de multidões para caminhar pelo pátio. Não consigo me conter e pergunto:

Princesa de Dois Reinos [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora