Devaneios

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Notas do capítulo: Este capítulo é na verdade uma uma espécie de prólogo... O foco da fic será o desenvolvimento das personagens e seu amadurecimento ao longo da história que irá abordar tanto problemas e situações normais e cotidianas na vida de um adolescente normal até problemas realmente graves e preocupantes como preconceitos variados, bullying, abuso e vício de drogas, estupro, relacionamentos abusivos e etc...
Espero que gostem...
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Haviam acabado de se mudar. Lawliet estava fazendo seu novo passatempo favorito, ou melhor, o único que lhe restara. Sentar no parapeito de sua janela, onde aparentemente observava a chuva e como as gotas escorriam de forma melancólica pelo vidro. Gostava de dias chuvosos e frios como aqueles onde as folhas alaranjadas das árvores que eram balançadas pelo vento da não tão vigorosa chuva finalmente pendiam para o chão. Eram tranquilos e sossegados finais de tarde que lembravam a L o quão divertido era não fazer absolutamente nada a não ser ouvir o balanço das árvores e das gotículas de água batendo na vidraça da janela já embasada. Todavia, na realidade, embora não admitisse a si mesmo estar tão apreensivo em algo irrelevante e desnecessário, Lawliet estava absorto em seus pensamentos, que na maioria, diziam respeito ao seu primeiro dia de aula. Escolas eram lugares sociáveis e Lawliet nunca teve muita aptidão ou até mesmo familiaridade com este tão requisitado adjetivo. Não se sentia bem no meio de tantas pessoas... Se tinha algo que já havia aprendido por experiência própria, era que pessoas podiam ser cruéis por pura ignorância e antipatia para com os outros, muitas vezes motivadas por razões sequer plausíveis ou admissíveis. Na maioria das vezes, por desconhecer o diferente daquilo que estão acostumadas em sua pequena realidade onde estão presas aos seus próprios conceitos e preceitos de algo que teimam estar ou ser certo, abdicam e se privam de toda e qualquer linha de raciocínio divergente da sua, resultando em uma falsa superioridade que pode motiva-las, como uma espécie de justificativa, a praticar atos desde rudes a realmente violentos. Lawliet visualizava mentalmente desde coisas previsíveis até as mais improváveis, todas elas no limite da realidade quase cruzando as fronteiras da ficção. Em sua maioria (para não dizer todas), eram extremamente desagradáveis. Estava exagerando? Não só era a mais pura e singela verdade como Birthday tinha plena ciência de tal fato, entretanto, este era de certa forma compreensível já que não era algo facilmente evitável. Estava se agoniando em um desespero que nunca admitiria ter por motivos realmente plausíveis.

— Lawliet, o jantar já está quase pronto. – Disse o velho e gentil Watari de forma calma, porém alegre. Ele melhor do que ninguém compreendia o amor incondicional de L por doces, e se o jantar ficaria pronto em breve, a sobremesa também não tardaria.

Se desprendendo parcialmente de seus pensamentos, Lawliet se pôs a descer as escadas com um certo entusiasmo. Adentrando a "cozinha" que, na realidade não era exatamente uma cozinha, ouviu gritos um tanto agudos e esganiçados para um garoto de 15 anos.

— Eu tô poco me fodendo pra seu vídeo game ridículo, seu idiota! – Mello, concluiu rapidamente. Não importa do que ou de quem se trate, não há como convencer Mihael a falar baixo e/ou conter total ou parcialmente as palavras de baixo calão que ele insiste em incluir em seu vocabulário.

— Não é um vídeo game... – Murmurou com um palito entre os dentes ainda sem retirar seus olhos ou sua atenção de seu jogo. Matt não estava realmente zangado, mas sim um tanto quanto chateado e cansado com a mudança. Tudo que queria era relaxar com seu amado Zelda, jantar e dormir, mas era claro que Mihael necessitava de importunar e aborrecer a todos simplesmente por também não estar feliz afinal, isso era um fato, nenhum deles lidou com essa mudança muito bem...

— Foda-se! – Mail estava passando dos limites. O enfadava e o enraivecia para depois ter a audácia de o ignorar.

— Já chega. – Aquilo lhe daria dor de cabeça... Lawliet disse num tom autoritário, porém também cansado em virtude da mudança. – Isso não é significante. – Sentou-se na mesa para seis pessoas ao lado direito de Matt que se encontrava de costas para a escada. Não entendia sequer de onde Mihael tirava aquela energia, logo muito menos compreendia o porquê a reservava para discussões tão inúteis. – Não quero ter que esperar mais que o necessário para poder comer a sobremesa. – Falou já imaginando o sabor do açúcar se dissolvendo em sua boca. 

— Você não manda em mim! – Gritou Mello com petulância. Se tivesse que lhe descrever com uma palavra, provavelmente esta seria "insolência".

— Eu s...

— Cadê o Beyond? – O interrompeu inquieto mexendo a pequena e fina lasca de madeira para cima e para baixo com os dentes. – Ele não tava com você? – Ainda encarava o pequeno aparelho, mas agora era nítida a mudança repentina da distribuição de sua atenção.

— Eu não sei. – Sempre fora difícil, quase impossível, controla-lo.

— Mas já passa das oito horas... – Insistiu finalmente passando a olha-lo, deixando que o palito ficasse ereto e imóvel. Matt estava receoso e explicitamente preocupado. Estavam a falar de Beyond, este que com menos de nove anos já tinha o gosto perverso e maldoso de maltratar e abusar de pequenas criaturas, assim como ratos e aves. Não era divertido imaginar o que este faria se provocado. Tanto seu passado quanto o de Lawliet ainda eram conturbados e apenas limitadamente por eles conhecido. Na realidade, embora estivessem juntos a cerca de oito anos e fossem uma família apesar das diferenças e dificuldades, Matt só poderia dizer que conhecia, verdadeiramente, Mello, com quem passara a vida inteira ao lado.

— Beyond é quase um adulto, ele tem capacidade de se cuidar sozinho. – Disse tipicamente frio e impassível, assim dando por encerrado o assunto. De todo modo, Lawliet entendeu sua preocupação, não era sobre algo que pudesse acontecer a B, mas sim do que este era capaz. Levou seu dedo a boca o mordiscando, começando a se preocupar a sério com o assunto.

Mihael, também percebendo sua rara inquietude, logo se acalmou, e sua expressão outrora brava e indignada se converteu em uma de preocupação aparente. Não era uma habilidade sua controlar ou omitir seus sentimentos, assim como pensar antes de agir... Nem sequer formulou qualquer tipo de frase e já se pôs em posição de falar. Felizmente para todos, Mello avistou Near descendo as escadas em direção a cozinha e a fala morreu-lhe em sua boca. Era mais que provável que o albino em questão tivesse conhecimento das ações de Beyond e, consequentemente, da preocupação e tensão aparente que o clima na cozinha apresentava. 

De uma forma calma, Near se locomoveu e se sentou ao lado esquerdo de Mihael na mesa para seis pessoas sem demonstrar sua frustração, iniciando-se assim um período de tempo onde o silêncio, ao menos em relação à eles, era absoluto e tudo que se podia ouvir eram os sons dos pratos, talheres e panelas vindas da "cozinha" que Watari utilizava no preparo do jantar, alguns carros e outros veículos nas ruas próximas, os efeitos sonoros do Game Boy de Mail e seus dedos ao se chocarem com as teclas e botões do aparelho e por fim, suas respirações cansadas e impotentes. Ambos os quatro se encaravam de uma forma totalmente desconfortável ignorando de modo cínico o problema aparente até que Watari finalmente os trouxera o jantar. Obviamente o clima tenso fora logo percebido pelo idoso que tentara ao máximo pensar de modo otimista, então a seu pedido após o jantar Mail ligou para Beyond inúmeras vezes, mesmo que na opinião de Lawliet fosse, embora nobre a intenção, completamente inútil. Ainda que B notasse as numerosas ligações e assim com elas a clara preocupação e desespero, ele não as atenderia. Se havia saído sem permissão e sequer dito aonde iria, ele logicamente não queria ser interrompido e muito menos gostaria ou daria satisfações a alguém. Mail também sempre positivo e esperançoso sugeriu sua procura noturna nos bairros próximos, mas esta fora logo por Near descartada. Beyond nunca se daria ao luxo de ser pego ou encontrado em suas saídas noturnas por eles reprovadas. Onde quer que estivesse, não era um lugar perto.

Watari fora se deitar perto, talvez até mesmo antes, das 22hs já que acordaria cedo no dia seguinte para trabalhar e os aconselhou a fazer o mesmo. Os garotos esperaram até que um por um, foram se deitar desistindo de aguarda-lo. O primeiro fora Mihael já cansado de Beyond e sua falta de consideração com o pobre idoso. Logo em seguida Mail que fora obrigado a segui-lo por dormirem no mesmo quarto também compartilhando parte dos sentimentos de Mello. Lawliet somente fora o terceiro pois insistiu para que Near fosse dormir também, já que aparentemente o albino estava decidido a esperar pelo "irmão", não que o assim considerasse.

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