Seis

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Henry Holloway

Acordar era a pior parte.

Era difícil para mim saber que todos os dias seriam iguais, nenhuma nova esperança, sempre a mesma rotina. Eu cansei, já estava cansado de tudo aquilo, mas a cada dia o vazio me consumia.

Perdi a conta de quantas vezes tentei me matar, os primeiros dias depois do acidente eram os piores.

Saber que meu pai morreu foi uma dor enorme em mim, eu sei que ele não era bom para minha mãe mas ele era ótimo para mim. Podia ter os piores defeitos do mundo, mas ele era um bom pai.

Não poder andar foi minha segunda maior dor. A sensação de ser incapaz era definitivamente muito difícil para mim. Eu corria, eu lutava, eu fazia todas as coisas possíveis, mas não a partir daquele momento.

Eu já sabia naquele momento que deveria deixar minha vida para trás, eu sabia que nada do que eu tinha eu continuaria tendo.

Meus amigos e minha namorada Denise foram me visitar nos primeiros dias, depois da noticia eles simplesmente desapareceram. Nunca mais me deram noticais, se alguém falar que Denise está sendo modelo na Italia ou que foi morta eu não duvidaria. Minha mãe evitava falar comigo, e depois de dois anos aquilo nem era importante mais.

Eu pensava que se eu me matasse as coisas seriam melhores, poderia encontrar meu pai e não precisaria viver dessa forma terrível. Mas eu sempre pensava nela, pensava como ela ficaria arrasada se perdesse o filho também.

Era isso que me impedia.

Ter conhecido Austin foi algo legal, eu acho. Ela é uma ótima pessoa, uma amiga que eu não tinha já fazia muito tempo. Sua personalidade me deixa fascinado, saber que ela tem os mesmos pensamentos que eu, saber que mesmo tendo me conhecido na escola ela ainda fala comigo, mesmo eu não andando ela ainda fala comigo, era algo incrível.

Fazia dois anos que eu não beijava uma garota, fazia dois anos que eu não transava. Fazia dois malditos anos que eu não via outra garota que não fosse minha mãe. Ela mexia comigo de alguma maneira, mas eu espero acreditar que isso seja por que ela é muito querida comigo.

Com muita dificuldade, pego a cadeira e depois de ter ido no banheiro vou para a sala. Estava chovendo hoje, a chuva me transmitia paz. Ás vezes eu apenas ficava observando a chuva no meu jardim da janela, ouvindo uma bela música e tomando meu café.

Escondo meus remédios estupidos que não adiantam de nada e vou para a janela.

Meu celular toca e tento ver aonde tinha colocado, até que acho no bolso da minha calça.

— Olá garotão, está acordado?

Sorrio com essa voz tão bela.

— Parece que agora estou.

Austin ri.

—Só para você saber que hoje vou ai. Só tenho que entregar umas fotografias para uma cliente e ‪de tarde‬ levo uns filmes para nós. Pode ser?

— Vou ver se minha agenda não está muito ocupada, qualquer coisa te ligo.

— Idiota. — diz entre risos.

— Eu mesmo. — as risadas param e então ela se despede e desligamos.

{...}

— Como você consegue não gostar do sorteve de chocolate? — pergunta Austin espantada.

— Como você consegue não comer o de morango? — agora era eu que estava espantado.

DanificadoOnde histórias criam vida. Descubra agora