CAP I - Ciclistas malucos.

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Eu sempre fui uma daquelas garotas que vive em um mundo paralelo, como se não pertencesse a esse que vivemos. Achava mais interessante o mundo dos livros e da música e amava como eles podiam me tele transportar para diversos lugares, mesmo que fosse só na minha mente. Mesmo com tudo isso, eu ainda tinha alguns amigos. 

No ensino médio, fui em todas as possíveis festas, namorei um garoto que ferrou com o meu coração, descobri que minha melhor amiga de infância não me achava tão legal assim, tive que aprender que nem todo mundo vai gostar de mim e que, mais do que nunca, livros e músicas são mais interessantes do que muita coisa.

Ao concluir o colégio, a ficha caiu. Eu tinha que escolher alguma profissão para seguir o resto da minha vida, e o problema era que eu não tinha nada em mente. Durante um ano, trabalhei na mercearia do meu pai, basicamente o ajudando com tudo. Morava em uma cidade pequena e as pessoas falavam sobre como aquela garota sonhadora havia ido embora. Mas eles estavam errados, ela só estava confusa e amedrontada em sair das asas da família.

Pode parecer engraçado mas descobri o que queria cursar na faculdade em um desses dias comuns enquanto estudava para um curso intensivo. Sabe quando você para de prestar atenção no que está lendo e seu pensamento voa para outro lugar? Pois então, foi isso que aconteceu. Comecei a pensar sobre todos os possíveis cursos que cogitava fazer e só bastou isso para me lembrar do que estava bem na minha frente.

Depois de me dar conta disso, me dediquei muito mais aos estudos e depois de um ano, passei na New York University. Lembra que eu disse que morava em uma cidade pequena? Tive que me mudar dela. Deixei minha família, meus amigos, minha história, para começar outra em Nova York. Não que eu estivesse reclamando, afinal morar em Nova York é um sonho de várias pessoas, mas eu não estava acostumada. A diferença de costumes era gritante e na primeira semana eu cogitei voltar para casa diversas vezes, mas sempre que voltava para a aula, entendia que eu estava no caminho certo.

Mamãe e papai estão bem, mesmo que longe de mim. Moro há dois anos em Nova York e estou cursando Medicina. Algumas coisas continuam do mesmo jeito. Fiz novos amigos, namorei um garoto e ele foi um completo babaca e entendi que Medicina não era um curso fácil, mas não me imagino fazendo outra coisa. Sobre os livros e músicas, isso também não mudou, eles ainda salvam a minha vida. E é esse o ponto em que queria chegar.

Desde a minha primeira semana em Nova York ouvia em praticamente todo lugar que eu estava a mesma música. Era viral, ela tocava em todos os estabelecimentos comerciais e em qualquer hora do dia. Depois de alguns dias aprendendo a cantar algumas partes da música apenas de ouvi-la nos lugares, perguntei para uma das atendentes em uma cafeteria se ela conhecia o nome da banda, e foi então que meu espírito fangirl começou.

Cheguei no apartamento que dividia com Emma, minha amiga, e corri para o meu quarto para pesquisar mais sobre a banda. Passei uma noite inteira vendo entrevistas e escutando todas as músicas de CNCO. Acabou que descobri que a música que tocava, Reggaeton Lento, não era nem de longe a melhor que eles tinham.

No alto dos meus vinte anos, eu estava indo a todos os shows possíveis que eles faziam. Acordava e ia dormir ouvindo as suas músicas e eu estava apaixonada pelos cinco. Joel, Erick, Richard, Christopher e Zabdiel eram maravilhosos, mas o último tinha algo que me chamava atenção. Mas claro, era besteira me apaixonar platonicamente por um integrante de uma boyband famosa sendo que você nunca vai o encontrar, certo? Certo, até o dia de hoje.

FLASHBACK ON

Mais um dia em que eu estou atrasada para a faculdade e em minha defesa, não é minha culpa. Moro longe da faculdade porque os apartamentos nos bairros mais próximos são mais caros, então tive que me virar em um mais afastado.

Estava sentada no ônibus e, como se praxe, ouvindo CNCO. Eu fechava os olhos e era como se eles estivessem cantando só para mim. Abri os olhos e percebi que não estávamos nos movendo mais, então levantei e fui até o motorista, que já está acostumado comigo.

— Jack, congestionamento em plena quarta feira?

— Estou tão irritado quanto você, Maddie. – Respondeu.

Bufei e percebi que não iria sair dali pelas próximas horas, então pedi para que ele abrisse a porta para que eu saísse. Faltavam apenas algumas quadras e se eu corresse, talvez não chegasse tão atrasada assim.

A avenida estava uma loucura e as buzinas dos carros começaram a me irritar, e pra piorar, alguns ciclistas malucos te obrigavam a andar desviando deles, como se o certo não fosse ao contrário.

Estava sem os fones de ouvido e tinha pego o celular apenas para checar as horas quando meu olhar perdido pareceu enxergar uma figura conhecida a poucos metros de mim.

Ele era alto, loiro, vestia uma jaqueta jeans clara e uma calça preta, além da bandana preta amarrada no braço. "Não é possível", era o que eu pensava.

O garoto parecia estar com o mesmo problema que eu, já que reparei no quanto ele estava estressado por precisar desviar dos ciclistas. Apressei o passo para chegar mais perto e nesse momento, eu nem me lembrava mais da faculdade.

Quando estava a cinco metros dele e pude de fato enxerga-lo, a parte ruim do dia aconteceu.

Foi tudo muito rápido, mas antes mesmo de chama-lo, dois ciclistas passaram por ele e quando ele tentou desviar de um, foi atingido pelo outro.

De repente, aquele homem de quase dois metros de altura estava caído no chão. Suas mãos estavam abertas e seus braços estavam ralados, mas minha preocupação maior foi vê-lo desacordado. Ele havia batido a cabeça da calçada, puta merda.

Quando percebi, estava ao lado dele checando seu pulso e respiração. Zabdiel tinha deixado de ser meu ídolo e se tornado um simples ser humano para mim. Liguei para a ambulância e informei a situação e felizmente não demorou muito para que eles chegassem. Zabdiel ainda continuava desacordado e no caminho para o hospital, os paramédicos faziam todos os procedimentos padrões.

Por um momento, havia esquecido do real perigo que Zabdiel corria. Meu coração estava apertado e quando chegamos ao hospital, eu simplesmente não poderia ficar na recepção esperando alguém ter a decência de me dizer se ele estava bem ou não. E felizmente, conhecia as regras dos hospitais. Apenas familiares podiam o acompanha-lo ou esperar por ele no quarto.

Enquanto empurravam a maca que Zabdiel estava pelo extenso corredor, eu caminhava ao lado dele, segurando a bandana preta que os paramédicos tinham me dado na ambulância. Quando chegaram perto da porta que separava o setor de urgência dos outros, uma das enfermeiras me questionou.

— Você é o que do rapaz?

Não sei se fiz certo ou errado, mas no momento eu não poderia deixa-lo sozinho, mesmo que isso pudesse me prejudicar depois.

Namorada.

FLASHBACK OFF

Isso resume o motivo de eu estar sentada em uma poltrona de hospital, em um quarto totalmente vazio e cheirando a produto de limpeza, enquanto deveria estar na faculdade. Zabdiel ainda não havia saído se setor de urgência e haviam se passado pelo menos três horas. 

A mesma enfermeira que me perguntou no início o que eu era de Zabdiel me fez preencher um formulário com algumas informações sobre ele, algumas bem intimas que nem mesmo eu sabia. Nome, idade, peso, altura, alergias, cidade natal, telefone pra contato, profissão e finalmente, estado civil.

Pelo menos por enquanto, éramos namorados. 

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