CAP XVIII - Já fizemos isso?

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"— Eu não acredito — O sorriso não saía do meu rosto — Você não estava em Porto Rico?"

Zabdiel estava com uma calça camuflada que parecia ser jeans e uma camiseta preta de manga comprida. O all star nos pés deixavam ele com aparência de alguém mais novo. Não era um problema, já que eu adorei vê-lo assim. Seu cabelo estava começando a crescer, então os fios pretos se misturavam aos descoloridos. Estavam despenteados, mas de um jeito que o fazia ficar ainda mais lindo.

Caminhou até mim segurando a cesta vermelha. Fui de encontro a ele também, nos encontrando no meio do supermercado.

Até então, não tínhamos demonstração de afeto e carinho em público. Não tínhamos no beijado na festa do Chris, o máximo foram nossas mãos entrelaçadas. Não que eu estivesse cobrando alguma coisa, mas eu não sabia como o cumprimentar.

— Voltei hoje – Respondeu a minha pergunta de antes — Achei que você estava com saudades.

— Eu? – Me fiz de desentendida — Acho que quem estava morrendo de saudades e veio direto do aeroporto me ver foi você. — Pisquei e ele riu e foi impossível não rir também.

Começamos a andar pelos corredores procurando o que eu precisava comprar, mas nesse momento eu já não me lembrava de nada. Me vi pegando creme dental sendo que tinha três fechados em casa e esquecendo sabonete, que estávamos sem. É esse o poder que Zabdiel tinha sobre mim, só esperava que ele não soubesse.

— Como você soube em qual supermercado eu estava? – Disse pegando um vinho que Emma tinha me pedido. Em dias solitários, tomávamos juntas e falávamos mal dos homens que já passaram por nossa vida.

— Você me disse que ia no supermercado perto da sua casa – Deu os ombros olhando para alguma embalagem de refrigerante – Esse era o mais próximo.

— E se eu não estivesse nesse? – Provoquei.

— Iria nos outros.

Não fez rodeios ao me responder. Encontrei o vinho que Emma e eu gostamos e coloquei na cestinha que ele insistia em carregar.

Quem nos via de longe provavelmente pensava que éramos um casal, daqueles que moram juntos e fazem compras para a casa. Nossa casa. De repente, me pego pensando em como seria uma vida toda com Zabdiel. Somos muito, muito novos para isso. Além do que, tudo isso é tão recente que as vezes eu me assusto quando o nome dele aparece na tela do meu celular indicando uma nova mensagem. Não podendo esquecer de que para isso funcionar, um dia ou outro ele teria que descobrir que há dois meses atrás eu era uma mera estudante de medicina, indo para faculdade e que por sorte – ou azar —, estava lá quando ele sofreu o acidente.

— Está pensando em que? – Ele me tirou do transe e eu sorri e balancei a cabeça, dizendo que não estava pensando em nada.

— Já fizemos isso? – Ele voltou a falar e eu quase deixei a lata de refrigerante cair no chão.

— Fizemos o que?

— Compras. Ou qualquer outra coisa. Já te levei pra jantar? – Abri a boca para responder, mas ele interrompeu – Provavelmente já. Onde nos conhecemos?

Zabdiel me inundou com perguntas que eu não sabia como responder, e muito menos o que responder. Não queria mentir, não iria mentir. Não mais. Mentir antes tinha um propósito, eu só queria estar perto até que ele ficasse bem. No momento em que ele acordou, fui embora. Quem voltou a me procurar foi ele, não eu. Eu estava seguindo minha vida, ou melhor, tentando. Foi ele quem me beijou. Quem disse para eu confiar nele. Que me chamou de anjo da guarda e que discutiu com Joel por causa das desconfianças do amigo.

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