52. Intimidade.

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3 MESES DEPOIS 

Quando minha mãe me disse que agora eu entenderia o que é ter intimidade com Zabdiel por ele estar morando comigo e não passando só alguns dias como fazia antes, eu ri e respondi que já tinha intimidade o suficiente e que seria impossível que isso mudasse. 

Pois bem, mudou. A intimidade que eu pensava que tínhamos antes não era nem cinquenta por cento do que realmente iria existir. Não é que seja ruim, apenas que, como se não bastasse, agora temos que ter conversas financeiras e dividir os gastos do apartamento. Repito, não é ruim, só é estranho sentar na mesa em que jantamos, jogar as contas de água, energia, imposto em cima dela, somarmos o valor total e dividirmos igualmente entre os dois; o que agora Zabdiel entende, porque no primeiro mês ele simplesmente quis pagar tudo. Assumo que sua conta bancária tem muito mais zeros do que a minha, mas e o meu orgulho ficaria onde? 

Além do que as coisas têm melhorado para mim. No final das contas passar um ano e meio como estagiária no hospital não foi ruim. Carreguei uma bagagem imensa e que me ajudou a conseguir uma promoção e subir de cargo apenas com três meses trabalhando aqui, fato que nenhum outro médico havia conseguido. 

As coisas estavam caminhando para frente no meu trabalho também. 

Agora tenho uma sala fixa apenas minha, com meu nome na porta, e não preciso mais estar só como médica plantonista. É claro que isso acontece às vezes, mas é diferente não precisar ficar de olho nos grupos procurando por algum plantão e não ter horário fixo nem para entrar e muito menos para sair. 

Voltando a pensar sobre intimidade e rotina, lembro que preciso passar no supermercado depois de sair do hospital. Olho para o relógio no meu pulso e sairei daqui quarenta minutos. Não tenho nenhuma cirurgia marcada para hoje e torço para que não apareça nenhuma de ultima hora. É ruim pensar isso? Só não quero ir ao supermercado no horário que sei que estará lotado. 

Mexo no celular e vou até as mensagens. Repondo a de Emma primeiro, dela dizendo que está tentando fazer salmão com crosta de ervas e não sabe quais ervas usar. Respondo rindo e vou para a próxima que é de Zabdiel. 

Eu o amo, de verdade, mais que tudo, mais do que pensei que conseguiria amar, mas ele é um chato. Consegue ser mais chato que o Joel! E que ele não me ouça falar isso. O problema é que com toda a intimidade e rotina, agora nós temos a liberdade de sermos chatos quando quisermos e isso vale tanto para mim quanto para ele, porque também sei que não sou uma flor todos os dias. Porém, o que custava ele ir ao supermercado depois de chegar de Los Angeles? 

A desculpa dele foi que ele estaria cansado, mas e eu? Não estou? Pelo visto para ele não. Depois de pedir a primeira vez e ouvir sua resposta, me calei e apenas respondi com um emoji de joinha. Sei que ele odeia isso. 

Zabdiel e todos os outros meninos estavam em Los Angeles para algumas entrevistas e gravações em um programa de TV. Ficaram lá por cinco dias e justo no último dia eu e Zabdiel tivemos essa discussão, se é que podemos chamar disso. Acho que tudo o que tínhamos para realmente brigar e discutir aconteceu nos meses de namoro, agora noivos nós evitamos a discussão, mas isso não quer dizer que eu não fique puta com ele pelo menos uma vez na semana. 

A mensagem que ele enviou foi avisando que já tinha chego em Nova Iorque. Apenas respondi que sairia no meu horário comum. 

Para passar o pouco tempo que me restava comecei a preencher alguns relatórios e formulários que faltavam.

Quatro horas em ponto e meu alarme despertou. Empilhei os papeis espalhados na mesa e comecei a arrumar minhas coisas. Peguei minha bolsa e chequei se tinha pego tudo, depois saí da sala e dei tchau para algumas enfermeiras que encontrei no caminho. 

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