CAP VII - Ele está bem?

747 100 7
                                    

Algumas horas depois.

— Nenhuma novidade? — Chris me tirou do transe. Estava focada a tarde toda no livro de Anatomia. O olhei sem entender — Noemi. Ela ligou?

— Ah, ela mandou uma mensagem dizendo que se atrasaria mais algumas horas. — Respondi lendo um texto de Patologia que não entrava no meu cérebro de jeito nenhum — Disse que se eu precisasse ir embora, era para ligar para algum de vocês porque ela não queria que Zabdiel ficasse sozinho.

— E você precisa ir embora?

— Precisar, eu preciso. Mas não vou. Você está aqui também, se precisar ir é só me falar. — Respondi fechando o livro, não aguentava mais estudar.

— Nah, não tenho mais nenhum lugar pra ir — Ele respondeu, se espreguiçando no chão do quarto. — Mas acho que você realmente precisa tomar um banho.

O QUE? — Falei um pouco mais alto. Estiquei meu pés e chutei a perna dele — Eu não estou fedida!

— Não está — Chris respondeu dando a língua — Mas está começando a ficar.

— É esse cheiro de hospital — Dei os ombros — Parece que impregna na gente! Emma até me xinga por isso, diz que o apartamento todo cheira a hospital quando eu chego.

— Emma? — O garoto me olhou com aquela cara que eu bem conhecia — Nós nunca conversamos sobre ela...

— E nem vamos — Adiantei — Acho melhor você voltar a falar com a Ann... — Ele me interrompeu.

— Você não pode falar de novo sobre a Anne! — Decretou — Esse nome está banido do seu vocabulário.

— Mas e da Nanc... — Interrompida novamente.

— Muito menos da Nancy! — Bufou — Acho que devemos falar sobre você e Zabdiel. Você sempre se esquiva dessa conversa.

— Eu? — Questionei. Mas era verdade, eu sempre me esquivava. Por motivos óbvios — Eu vou... — Me levantei da poltrona e fiquei de frente a Chris. Ele continuava sentado e ria sem eu ao menos ter dito nada — Tomar banho. Vou tomar um banho. Acho que vamos ficar aqui a noite toda.

É DISSO QUE EU ESTOU FALANDO! — Ele deu um pulo e se levantou — Você é igual ao Zabdiel! Se esquivam de todo assunto pessoal. Almas gêmeas.

— Pare com isso — Dei um tapa de leve em seu ombro e caminhei até o banheiro que ficava dentro do próprio quarto. Uma das vantagens de Zabdiel ser famoso é que dinheiro para as despesas médicas ele tinha — Vou tomar uma ducha. Você poderia pegar algo para jantarmos com a Nanc...

— Já entendi — Chris me olhou e semi cerrou os olhos, tentando mostrar que estava irritado, mas eu sabia que não estava — Já volto.

Ao caminhar até o banheiro, parei em frente a uma pilha de roupas que Noemi tinha trazido para Zabdiel. Peguei uma calça de moletom e uma camiseta que tinha certeza que ficaria parecendo um vestido em mim.

Voltei a caminhar até o banheiro e fechei a porta, mas não a tranquei. Liguei o chuveiro e deixei que a água quente formasse um mormaço e aquecesse o banheiro, já que fazia dois graus negativos em Nova York.

Alguns minutos depois e o banheiro foi tomado por aquele vapor, me fazendo relaxar de uma maneira que eu não relaxava há tempos. Tirei minhas roupas e as joguei em um canto, não precisaria delas, vestiria as de Zabdiel.

Entrei no chuveiro e deixei que a água escorresse pelas minhas costas, me fazendo pensar em todas as coisas que aconteceram nos últimos dois meses.

Era só um dia normal em que eu estava atrasada para a faculdade, mas por uma tristeza do destino meu caminho e o de Zabdiel se cruzaram. O que aconteceu depois foram as consequências da minha vontade de querer permanecer perto, pelo menos até saber que ele está cem por cento bem.

O que aconteceria depois disso? Depois que ele acordar? Nem eu sei.

Tirando isso, minha convivência com os outros meninos têm sido surpreendente e eu não consigo acreditar que realmente posso chama-los de amigos agora. Sempre amei cada um deles, mas eles são ainda melhores quando você os conhece pessoalmente.

Além do mais, eu não estava fazendo nada de errado. Na verdade, estava ajudando Noemi e uma mentirinha de leve não iria passar por cima de tud... Espera, que barulho é esse?

Saí dos meus devaneios e voltei a realidade: nua e em um banheiro de hospital. As batidas constantes na porta me deixaram apavorada, ao ponto de sair do box e quase escorregar. Me enrolei na toalha e as batidas ficaram ainda mais altas.

MADISON? — Era a voz de Christopher — POR DEUS, GAROTA! MADISON?

— EU JÁ VOU SAIR! — Gritei, tentando fazer com que a toalha não caísse do meu corpo.

Abri uma fresta da porta e coloquei metade do meu corpo para fora.

O quarto estava cheio. Cheio demais. Com pelo menos três médicos e mais alguns enfermeiros.

— Ele está bem? — Perguntei angustiada e ninguém me respondeu nada. — Zabdiel está bem, Christopher?

AmnesiaOnde histórias criam vida. Descubra agora