31. UTI.

462 68 23
                                    

Eu deveria voltar para o meu lugar e esperar que todos os nomes fossem chamados, mas não foi isso que fiz. Atravessei a multidão pela lateral, e Emma, entendendo que eu estava indo até ela, encontrou-me no meio do caminho. Meus pais ainda estavam sentados, sem entender nada do que estava acontecendo.

— O que aconteceu? — falei, ainda um pouco distante dela.

Emma não respondeu nada, foi como se ela não soubesse o que dizer. Ou como dizer. Eu já estava muito mais nervosa que antes. Segurava o diploma na mão com tanta força que ele já estava amassado.

EMMA! Fala o que aconteceu! — repeti mais uma vez, perdendo a paciência. Seus olhos ainda estavam arregalados, vidrados pelas lágrimas.

— O Joel ligou... Ele... Disse que... Que está no hospital... — respondia, pausadamente — O... Zabdiel... Passou mal. Mas acho que não é grave... Joel foi tão rápido que não me deu tempo de perguntar nada mais. Só disse para... Irmos para lá.

O diploma, que estava na minha mão, caiu no chão. Senti minha pressão baixando, logo me apoiei em uma cadeira. Emma ficou ao meu lado, me segurando, mesmo sabendo que se eu desmaiasse, nós duas iríamos direto para o chão. Tentei controlar minha respiração, forçando a ficar bem porque precisava ir até o hospital.

Estava com a cabeça abaixada. Quando levantei-a, não vi Emma. Procurei ela de um lado para o outro, mas não precisou muito, logo ela voltou com uma garrafa de água na mão, me entregando. Tomei alguns goles, respirando fundo.

— Avisa meus pais, diz que vamos ao hospital, eles podem ficar para a festa. — pedi.

Enquanto ela foi até eles, me forcei a caminhar para fora dali, precisava tomar ar. Emma voltou minutos depois, com meus pais atrás dela. Olhei sem entender.

— Nós vamos com vocês duas. — meu pai respondeu, me abraçando forte — Zabdiel é seu namorado, logo, é da família também.

Queria responder tanta coisa, dizer que eles eram os melhores pais do mundo, que eu os amava, mas não consegui dizer nada. Apenas assenti, quase sem sorrir.

Emma pediu um táxi e logo estávamos a caminho do hospital. Eu não sabia o que esperar. Se ele só tinha passado mal ou se era algo pior. Odeio Zabdiel em um hospital, as lembranças são péssimas.

Tento parar de pensar nisso, mas de repente, como uma trilha, os caminhos são traçados.

Zabdiel estava no hospital há meses atrás, disse que tinha ido fazer um exame de rotina. Depois, ele e Christopher começaram a brigar. Até sua mãe e ele se desentenderam. Não era possível que...

— Chegamos, Mad. — minha mãe me chamou, com a porta aberta do táxi.

Saí do mesmo, olhando para o enorme edifício que era meu local de trabalho. Costumava adentra-lo tão naturalmente, pronta para começar mais um dia, mas dessa vez foi diferente. Meus passos estavam lentos, pequenos. Minhas mãos suavam, minha respiração tinha voltado a ficar inconstante.

Quando vi Marie na recepção, me dei conta de que precisava ser forte para seja lá o que eu fosse encontrar quando visse Zabdiel. Respirei fundo, pela última vez, recuperei minha postura e caminhei até a recepção.

Ela logo me olhou com um ponto de interrogação enorme no rosto. A princípio, não havia entendido, mas depois a ficha caiu. Eu estava maquiada, ainda com a beca e o capelo.

— Longa história. — expliquei sobre minhas vestimentas — Preciso saber em qual setor Zabdiel de Jesús Colón está. Por favor, Marie.

Ela nem pesquisou no computador para checar os arquivos. Achei estranho.

— Ah, o seu namorado, não é?!

— É... Como você sabe?

— Já vi ele te esperando aqui algumas vezes.

Precisei respirar fundo mais uma vez para não gritar com ela ali mesmo. Marie era uma boa funcionária, só não sabia ir direto ao ponto, e se tratando de um hospital, ela precisava fazer isso na maioria das situações.

— Qual setor ele está? — repeti a pergunta.

— Ele chegou de ambulância, com mais quatro amigos, eu acho... Foi direto para a UTI.

Firmei as mãos no balcão para não cair. Sentia minhas pernas virando gelatinas, minhas mãos ainda tremiam. Ergui o rosto quando senti meu pai e minha mãe, um de cada lado, me dando suporte para andar.

— Obrigada. — agradeci.

Sentia o choro vindo pouco a pouco, mas não conseguia nem ao menos fazer isso. Meus pais estavam um pouco perdidos, visto que o hospital é enorme. Emma também não fazia ideia de onde era a UTI. Mas eu sabia. Pela segunda vez na noite, me forcei a usar a razão.

Apontei para o lado esquerdo, indicando o caminho. Meu pai ainda estava com a mão na minha cintura e caminhava lado a lado comigo, até passarmos pelas duas portas que davam no setor onde Zabdiel estava.

Ainda no corredor, pude enxergar Christopher e Joel em pé, apoiados nas paredes. Erick e Richard estavam sentados no chão, com as mãos na cabeça. Os quatro estavam com roupas sociais.

Parei de andar na mesma hora. Emma já estava abraçada com Joel, e ele contava a ela o que havia acontecido. O olhar dela em mim me fez entender que não era algo simples.

— Vamos, filha. — ouvi a voz da minha mãe.

Meu pai continuou andando e eu fiz o mesmo. Quando cheguei próximo a eles, Richard e Erick se levantaram e ficaram na minha frente. Os olhos pausados, sem saber o que dizer.

— Alguém pode, por favor, me dizer o que aconteceu? — perguntei, sentindo medo da resposta.

Joel deu um passo para frente, me olhando nos olhos, respirando fundo.

— Estávamos no jatinho, quase chegando — ele começou, falando calmamente — Ele estava bem, animado para chegarmos. Zabdiel não disse nada, mas percebi quando ele se sentou na poltrona, com a gravata nas mãos. Desabotoou os botões, como se estivesse com...

— Falta de ar. — completei.

— É. E então ele começou a hiperventilar e... desmaiou. Pousamos de imediato. Por sorte já estávamos aqui em Nova York. Ele veio desacordado para cá.

Tentei respirar, mas sentia que o mal estar que eu senti ao receber a notícia estava muito mais forte. Olhei para todos, e quando pisquei, senti tudo se escurecendo. Minhas pernas falharam, senti meu corpo ficando mole. Quando fechei os olhos, tudo se apagou.

AmnesiaOnde histórias criam vida. Descubra agora