20. Ponto comum.

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Tínhamos voltado de Vegas há uma semana atrás. O terremoto, por sorte, mudou de rota e pegou a menor parte da cidade. Os danos foram somente algumas árvores derrubadas e falta de energia por poucas horas.

Porém, os resquícios de Las Vegas ainda se faziam presentes em nossa rotina.

Pensei que Emma fosse anular o casamento logo quando voltasse para Nova York, mas isso não aconteceu. Na verdade, ela estava bem animada e feliz com seu novo status. Uma mulher casada. Mesmo que quase ninguém soubesse.

Erick permaneceu com o piercing nos lábios. Quando as fãs descobriram por um story que Christopher postou, foram a loucura. E era fato, o novo piercing tinha ficado muito bem no garoto. Erick estava com um corte novo, o cabelo um pouco maior e a barba por fazer faziam com que ele parecesse mais velho.

Richard acabou tendo que raspar a outra metade do cabelo, não tinha outra solução. Xingou Erick o tempo todo durante o corte.

Christopher tinha virado um meme ambulante quando Richard fez questão de postar uma foto de todos nós onde Chris ainda estava com as roupas de cowboy. Mil teorias surgiram, mas ninguém acertou.

Zabdiel e eu ainda estávamos com nossas tatuagens. Ele acabou postando uma foto no Instagram com a legenda mais fofa que ele poderia ter pensado. Nela dizia "Uma tatuagem para eternizar um momento."

Ninguém sabia da minha tatuagem, a não ser quem estava na viagem. Minha mãe não suportava tatuagens, me fez prometer que nunca faria uma. Prometi, mas eu tinha quinze anos. Agora, com vinte e dois, as coisas são bem diferentes.

Por falar em Zabdiel, ele tinha levado a sério o lance de re-conhecer. Não que eu tivesse esquecido da nossa conversa, mas é que bastou chegarmos em Nova York para tudo isso começar.

Eu conhecia Zabdiel, sabia disso. Meu interior pregava peças em mim o tempo todo mandando lembranças ou relacionando coisas banais a Zabdiel. Mas o que eu quis dizer com re-conhecer é que nós passamos tempo demais separados. E mesmo sem querer, eu não sou mais a mesma e nem ele é. Alguns detalhes se transformaram em nossa personalidade, mas o sólido, aquilo que realmente importa, estava igual.

Vínhamos conversando por facetime e mensagens o dia todo. Eu respondia nos meus intervalos no hospital e Zabdiel respondia quando tinha uma pausa dos ensaios e gravações. Eram conversas simples, sem muitos detalhes. Foi por isso que ele sugeriu um encontro, daqueles bem clichês mesmo.

Eu aceitei, afinal era nítido o quanto eu ainda gostava de Zabdiel e estava disposta a esquecer o que aconteceu no passado, igual ele tem feito.

Combinamos em uma segunda feira, já que era meu dia de folga do estágio e a agenda de Zabdiel com a banda estava tranquila. Ele viria me pegar às oito da noite para irmos ao cinema. Nossa sessão era às nove.

Pensei que ficaria nervosa, mas muito pelo contrário, eu me arrumei como se fizesse isso com ele há muito tempo.

Estava sozinha em casa, então coloquei uma música relaxante bem baixinho e comecei a me arrumar. Tomei banho; escolhi a roupa: uma calça legging preta e um suéter creme porque estava frio; fiz minha maquiagem com toda a calma do mundo. Fiquei pronta faltando dez minutos para o horário combinado.

Enquanto terminava de calçar minha bota de cano curto, ouvi meu celular bipando. Fui até ele e vi o nome de Zabdiel na tela.

"Cheguei! Quer que eu suba?"

"Não precisa, já tô descendo.", respondi.

Enquanto passava perfume, ouvi alguns trovões barulhosos. Já no elevador, pude começar a ouvir o som da chuva. Nova York tem sido imprevisível esses dias.

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