CAP XI - Tenta não surtar.

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A minha vida finalmente estava tomando os rumos que deveria. O rumo que estava trilhado antes do acidente e de toda a bagagem que veio junto com ele.

Hoje completava um mês desde a minha conversa com Zabdiel, se é que podemos chamar aquilo de conversa já que nem mesmo eu sei o que aconteceu. Eu não tinha sido totalmente honesta com ele, mas pelo menos não havia mentido mais. De mentiras, bastam todas que já tinha dito.

Estava começando a ficar em dia com as matérias na faculdade e mesmo recusando todas as chamadas de Christopher, ele nunca desistia de tentar algum contato. E isso quebrava o meu coração.

Emma tentava constantemente me tirar de casa e por algum motivo, eu inventava alguma desculpa e então ela saía bufando por eu estar sofrendo por um namoro que nem ao menos aconteceu.

O sofá, mais do que nunca, tinha virado o meu melhor amigo. Hoje é sábado e Emma estava bastante decidida a me fazer sair de casa, sem ser para a faculdade.

— Vamos, Mad! — Ela dizia enquanto terminava de lavar a louça — Faz um mês que sua rotina é faculdade—casa e casa—faculdade.

— Tenho prova semana que vem — Menti — E além do mais, eu não tenho boas lembranças da Five Club — Isso era verdade, foi lá que conheci Matthew e ter ficado com ele ainda está no meu topo de burradas.

— Mas isso foi há quase um ano atrás! — Ela gritou e eu apenas rolei os olhos — Você precisa conhecer gente nova. Ou pelo se divertir um pouco.

Fiquei alguns segundos calada e isso pareceu dar alguma esperança a Emma, mas a verdade é que só fiquei quieta porque estava prestando atenção em Irmãos à Obra na TV. A olhei e ela estava parada na minha frente, impedindo que eu enxergasse a televisão.

— O que foi que você disse? — Respondi e isso fez com que ela rosnasse de raiva (sim, como um cachorro) — Eu não vou, amiga. Mas espero que você se divirta e por favor, não beba demais. Já basta semana passada que você chegou e vomitou no nosso tapete novinho.

Ela ergueu os braços em rendimento e disse alguma coisa que eu não entendi enquanto marchava em direção ao seu quarto para se arrumar.

Algumas horas depois.

Eu já tinha quase certeza que o sofá tinha o formado da minha bunda de tanto que eu estava ora sentada ora deitada. Emma ainda estava tentando me fazer mudar de ideia, mesmo que fosse totalmente em vão e no fundo ela também sabia disso.

— Como estou? — Ela parou na minha frente estalando os dedos para que eu mudasse meu foco de visão — Bonita?

Hmmm... — A olhei de cima abaixo e conclui que Emma tinha atingido os níveis mais elevados de beleza — Maravilhosa, como sempre.

Ela se abaixou e me deu um abraço desajeitado, mas que valia muito mais do que qualquer outra coisa. Sussurrou bem baixinho para que só eu ouvisse, mesmo que estivéssemos a sós no apartamento.

Tenta não surtar.

— E por que eu surtaria? — Nos desvincilhamos do abraço e recebi uma risada como resposta — Emma, o que você aprontou?

— Nada, Mad — Ela respondeu enquanto me mandava um beijo de longe. Emma fechou a porta logo em seguida e me impediu de ao menos tentar respondê-la. Bufei e me concentrei novamente na televisão.

Após algumas horas e vários sacos de pipoca — já que essa tinha sido minha janta —, ouvi o barulho da porta do elevador se abrindo e até cogitei a ideia de Emma ter voltado mais cedo, mas logo vi que era impossível pois o relógio ainda marcava onze da noite.

Tentei voltar a minha atenção para a TV, mas bastou alguns segundos para que o barulho da campainha tomasse conta do cômodo. Levantei um olhar em desconfiança pois não imaginava quem pudesse ser. Talvez fosse algum dos vizinhos querendo alguma coisa emprestada.

Caminhei lentamente até a porta porque minhas pernas pareciam pesar o dobro. Fiz um coque com o meu próprio cabelo e fechei o robe que eu estava usando para esconder meu pijama de tartarugas.

Não sei o que aconteceu, porém antes de girar a maçaneta fiquei nas pontas dos pés para ver quem era que estava parado do outro lado. Congelei quando me dei conta da figura parada com as mãos no bolso e um gorro amarelo em sua cabeça.

Não poderia ser ele.

Ou poderia?

Eu não havia dito onde morava. E só quem sabe dessa história sou eu e Emma.

Eu vou matar aquela garota.

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