25. A roda gigante.

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— Que cheiro de queimado é esse? — falo, abrindo a porta do apartamento.

— Eu estava tentando cozinhar... — ouço Zabdiel, mas não o vejo por completo.

Vou até a cozinha e paro no instante que o vejo abaixado, limpando o chão molhado com o pano de prato preferido de Emma.

— Tentando... Percebi. — falei, tirando sarro da situação.

Vou até ele, que já está em pé com o pano ensopo na mão, fico na ponta dos pés e deixo um selinho em seus lábios.

— Era para ser especial. — tenta se redimir, enquanto torce o pano na pia da cozinha, logo deixando-o de lado.

— Sei que sim, mas você e a cozinha nunca formaram um bom par.  

Sento em uma das banquetas e olho diretamente para Zabdiel, que agora está lavando as mãos sujas. A cozinha está uma bagunça. Panelas sujas e espalhadas, alguns ingredientes gelados que deveriam estar na geladeira, outros que deveriam estar no armário...

— O que você realmente queria cozinhar?

— Nada demais — deu os ombros, virando-se de costas para mim e guardando tudo o que eu já tinha reparado — Emma e Joel voltam amanhã.

— Sim... O que tem?

— Era para ser nosso jantar de despedida...

Me levantei e fui até ele mais uma vez, sem entender o rumo dessa conversa. Quando sai de manhã estava tudo bem. Zabdiel me acordou com beijos e carinhos, tomamos banho juntos e eu preparei nosso café. Sai mais cedo, mas ele me avisou que logo iria para a gravadora e que passaria a tarde toda nela.

— Você vai viajar? — puxo seu rosto para me olhar.

— Não.

— Eu também não vou viajar, logo, não é um jantar de despedida. — falo, enquanto faço carinho com o polegar em sua bochecha.

— Não é isso, Mad... É que passei três dias aqui e não fiz nada.

— Nem deveria, Zabdiel. Foram três dias, não três meses.

Zabdiel me olhou de verdade pela primeira vez na noite. Parecia estar até evitando me olhar nos olhos, mas provavelmente tenha sido apenas impressão. Um sorriso inocente e natural começou a aparecer em seu rosto, dando evidência à suas covinhas.

— Como foi na gravadora?

— Na gravadora? — afirmo com a cabeça e, novamente, ele desvia o olhar do meu — Bem, normal, por que?

— Porque você passou a tarde toda nela, Zabdiel. Por que você está tão estranho? — dou um passo para trás.

— Não estou estranho, amor... — falou com a voz calma, me puxando para perto — Desculpa, é que eu realmente queria que esse jantar tivesse dado certo.

— Eu sei, e sei também que a sua intenção era uma das melhores. — dou-lhe outro selinho, dessa vez mais longo — Vou tomar banho, o dia foi cansativo.

Zabdiel assentiu e voltou a arrumar a bagunça que tinha feito na cozinha. No corredor, chamei pelo seu nome.

— Você está afim de sair hoje? — falo alto para que ele me ouça.

Segundos depois Zabdiel estava no começo no corredor, com o pano de prato no ombro e um prato na mão.

— Claro, aonde você quer ir?

— Matthew comentou sobre um parque de diversões, aqueles antigos, sabe?! Só tinham parques assim na minha cidade, e ultimamente tenho sentido falta de casa.

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