CAP XIII - Fecha os olhos?

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"— Posso me acostumar com isso — Ele quebrou o silêncio, me dando um último selinho em e se sentando no sofá que estava a poucos metros de distância."

Fiquei parada no mesmo lugar que estávamos tentando entender o que a frase a seguir significava. Pode se acostumar com o que? Se antes eu estava confusa, agora piorou.

— Está tudo bem? — Ele se virou e me encarou esperando por uma resposta. Apenas assenti e caminhei até a cozinha, finalmente pegando o copo de água que ele tinha pedido anteriormente.

Voltei e antes de me sentar ao lado dele, entreguei o copo em suas mãos. Ele sorriu e agradeceu, do mesmo jeito educado de antes. Ao invés de sentar ao seu lado, sentei em cima de uma mesa de centro que tínhamos. Ele estava achando tudo aquilo o mais natural possível, pois quando me viu sentando de frente a ele apenas sorriu e deu vários goles na água.

— Então... — tentei começar uma conversa — Tudo bem?

— Tudo — respondeu sem fazer caso —  Desde o acidente as coisas têm sido... Estranhas. Mas estou bem, me recuperei cem por cento. E você?

— Bem, bem... — Tentei ser tão natural quanto ele, mas não estava dando certo — Eu vou ser muito grosseira em repetir a pergunta que te fiz na porta?

— E qual foi?

— O que você veio fazer aqui... — Tentei responder com toda a educação do mundo para que não parecesse uma pergunta grosseira. Eu só estava curiosa.

— Um tiro doeria menos — Brincou e logo se inclinou para frente, ficando — de novo — muito perto de mim — Lembra do dia em que acordei? — Concordei com a cabeça, dando a brecha para ele continuar a contar — Tivemos aquela conversa sem pé nem cabeça. Quando você saiu do quarto, fiquei igual uma barata tonta tentando entender o que tinha acabado de acontecer. Foi então que o Christopher entrou no quarto e me encontrou confuso.

— Ah, não.

— Ah, sim — Fez graça — Tivemos uma longa conversa, ele me explicou e confirmou o que você tinha dito, sobre me encontrar no dia do acidente. Eu não tive nem como te agradecer por isso.

— Não precisa me agradecer. Fiz porque me preocupava com você — Pigareteei — Quer dizer, me preocupo.

— Eu sei, mas mesmo assim eu te devia isso. Agora, Christopher me contou sobre outra coisa também... — O sorriso mudou de terno para algo mais... íntimo.

— O que? — Perguntei e ele permaneceu quieto, com o mesmo sorriso nos lábios mas sem dizer uma palavra — O que Christopher disse?

— Que nós estávamos juntos. Namorando, ficando, ele não especificou.

Ah, não. Christopher e sua boca gigante.

— A gente realmente não precisa conversar sobre isso — tentei me livrar — Você não se lembra, está tudo bem, de verdade. Além do mais, era algo recente e...

— Eu também pensava isso, até eu não reconhecer a Clara.

— A Clara? Que trabalha com vocês? — Questionei.

— A própria. Voltei ao médico e ele me disse que eu estava com começo de amnésia parcial, mas que aparentemente era temporário — Nós ainda estávamos na mesma posição e as vezes eu sentia o olhar de Zabdiel percorrer o meu corpo todo. Foi então que lembrei que estava de robe e senti minha bochecha corar de vergonha — Dr Walker também disse que como era temporário, quanto mais eu convivia com a pessoa, mais rápido eu me lembraria dela.

— E deu certo? Você se lembrou da Clara?

— Sim, durante uma promo hoje. Meu primeiro dia de volta — Os olhos dele brilhavam e não precisava de muito esforço para perceber o quanto ele estava feliz.

Eu realmente não sabia como estava a agenda da banda, visto que tinha escolhido ficar longe e sem notícias sobre ela para eu conseguir reorganizar meus pensamentos e meu coração.

— Depois de me lembrar dela, comecei a pensar em você — Zabdiel voltou a falar e percebi ele se ajeitando no sofá e sentando um pouco mais para frente — Pensei que talvez se estivesse mais perto de você, me lembraria igual aconteceu com a Clara. O problema era que eu não fazia ideia de como te achar, mas lembrei que Christopher tinha convivido com você por dois meses e minha mãe me disse que vocês viraram amigos.

As mãos de Zabdiel procuraram as minhas e não demorou muito para que ele as achasse. Ele a segurou e começou a acaricia-la, de um jeito tão carinhoso que me fez derreter por dentro. Eu não entendia o que estava acontecendo, o beijo e todo esse carinho repentino me deixaram confusa.

— Eu também pensei em você durante todos esses dias — minha voz saía baixa, eu não tinha dito isso em voz alta para ninguém, nem para Emma — Mas eu não poderia voltar e exigir que você se lembrasse de uma coisa que... não existiu.

— Não existiu?

— Porque você não se lembrava — Voltei atrás no que tinha dito — Logo, não existiu para você.

— Então, mas é esse o problema. Uma pessoa que ficou junto comigo por dois meses no hospital, conciliando a faculdade e as tardes comigo enquanto eu estava em coma, uma pessoa que deixou a sua própria vida de lado para cuidar da minha não é uma pessoa esquecível. Foi por isso que liguei para Chris e ele deu um jeito de conseguir seu endereço.

— Zabdiel, eu... — fui interrompida.

— Me deixa terminar — Assenti — Ele me contou que você estava ignorando todas as chamadas dele e pensou que você estivesse magoada com toda a situação. Implorei pra ele dar um jeito e depois de alguns minutos ele me enviou seu endereço por mensagem. E aqui estou.

Olhei para Zabdiel e vi um garoto apreensivo com o que tinha acabado de dizer. Nossas mãos ainda estavam entrelaçadas e os carinhos não tinham acabado, muito pelo contrário, estavam mais frequentes. Eu sabia que ele estava esperando por alguma resposta ou que eu dissesse ao menos alguma coisa, mas a minha mente não formava palavra nenhuma. Apertei sua mão involuntariamente, mas que talvez tenha significado alguma coisa para ele.

— Fecha os olhos? — Pediu e eu continuei com eles abertos — Confia em mim?

— Acho que quem deve fazer essa pergunta pra você sou eu.

— Responda a pergunta, Madison — Insistiu.

Não respondi, mas fechei os olhos. Meu coração poderia sair pela boca a qualquer momento e minhas mãos suavam como se estivesse quarenta graus dentro do apartamento, mas o ar condicionado estava ligado.

As mãos de Zabdiel se soltaram das minhas e logo senti um toque na minha perna e deduzi ser uma das mãos de Zabdiel. Eu queria muito abrir o olho, mas não o fiz. Não demorou muito para eu sentir um beijo de leve no meu pescoço que me fez arrepiar por inteira, depois ele subiu e outro beijo foi dado mas dessa vez na minha bochecha, seguido por outro na minha testa, descendo para a ponta do meu nariz e depois para o meu queixo. A cada beijo, um sorriso sincero aparecia no meu rosto e eu sentia que ele  também estava sorrindo. Por fim, um último beijo foi dado na minha boca, mas foi tão breve que Zabdiel não deixou nem ao menos o intensificarmos.

Você é meu anjo da guarda, Madison.

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