21. Senhor Patrick.

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Os dias passaram rápido demais. O cinema com Zabdiel aconteceu na segunda e hoje já é sábado.

Durante a semana tivemos convenções em cidades vizinhas. Muitos dos dias dormi em hotéis e voltava só no próximo dia. Zabdiel também estava ocupado até o topo com a nova produção do CD que deveria sair no próximo mês.

Eu estava com saudades. Inundada de saudade. Dos seus beijos, seu toque, seu abraço, sua risada. E há tempos que não sentia isso. Essa vontade de vê-lo, o coração vacilando quando em meio a alguma palestra, lembrava dele.

— Quais são os planos para amanhã? — ouvi a voz da doutora Florence ao fundo.

Pisquei algumas vezes para me situar. Estávamos em seu carro, voltando de uma dessas convenções. Matthew estava em outra com doutor Kennedy.

Em quase seis meses de estágio, nunca falamos sobre nossas vidas pessoais, por isso estranhei a pergunta.

— Vou sair com um amigo — respondi.

O amigo em questão era Zabdiel. Vínhamos combinando de jantarmos a semana inteira.

— E você? — devolvi a pergunta, meio receosa por estar sendo intrometida.

— É aniversário de Adam, então vou levá-lo ao parque.

— Adam? Seu cachorro?

— Não, Madison. Adam, meu filho de sete anos.

Se um buraco estivesse na minha frente eu tenho certeza que enfiaria minha cabeça ali e não sairia nunca mais.

Em minha defesa, Matthew me contou que ela não tinha filhos e nem era casada.

— Ah, sim, claro! — tentei contornar a situação, mas sentia meu rosto queimando de vergonha — Ele deve ser adorável.

— É uma boa criança, sim.

O silêncio voltou a prevalecer. Desbloqueei o celular e respondi algumas mensagens de Chris, Emma e Zabdiel.

— Madison?

Voltei a olhá-la, guardando o celular na mochila que estava em meu colo.

— Sei que normalmente não expresso meu agradecimento, nem meu olhar profissional sobre meus internos, mas você vem se destacando entre os demais. Principalmente os de minha área. Você já se decidiu sobre qual especialidade vai se dedicar?

Eu queria muito ter um botão para gravar tudo o que tinha acabado de ouvir. Ela realmente nunca disse nada nesse nível para ninguém, muito menos para mim.

— Andei pensando muito sobre isso, doutora. Ainda mais agora, já que estou literalmente no último mês da faculdade. A área Cardiologista sempre me interessou.

— Minha área, então?! Tenho uma concorrente?

— De jeito nenhum! Só chegarei aos meus pés quando tiver, no mínimo, dez anos de carreira.

— Dez anos? Você está exagerando. Com uns três, quem sabe?! Espero tê-la em meu time.

Ja tínhamos chego em Nova York. Só reparei quando percebi o barulho da garoa. A cidade têm chovido muito.

Doutora Florence tinha me levado até em casa, mas mal percebi o caminho porque viemos conversando sobre medicina. Nunca imaginei que poderia ter uma conversa assim com a coração de gelo, que era como a chamavam no hospital.

Acho que na verdade a coração de gelo tem um coração bem quente ali dentro.

— Seria uma honra. — respondi sua pergunta anterior.

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